O deserto de Joshua Tree é o triunfo da beleza em seu estado mais cru. Sem as maquiagens das vegetações, sem o preenchimento dos lagos e rios e sem a intervenção cirúrgica das grandes construções ou relíquias históricas, o que sobra é um cenário natural que, simultaneamente, está e é – e que não carece de nenhum retoque para desfilar nos passaportes e nas passarelas das redes sociais.

Com a cara limpa, o parque nacional californiano prova que as condições extremas de calor e aridez dizem nada sobre fertilidade: o turismo local experimenta sua fase mais abundante. Cerca de 3 milhões de pessoas visitaram o deserto de Joshua Tree em 2021, depois de uma ligeira queda de turistas em razão da pandemia. Desde 2015, porém, o parque nunca registrou menos de 2 milhões de visitantes anuais.  

Para compreender a popularidade do deserto é preciso entender suas diferentes facetas. Uma delas é a construção de uma espécie de ideário. Joshua Tree foi cenário de diversos filmes e clipes. A banda U2, por exemplo, inspirou-se naquele deserto para gravar o álbum homônimo em 1987, já o cantor Bruce Springsteen usou aquele cenário no clipe de sua canção “Western Starts”, lançada em 2019. Mais recentemente, em 2020, o grupo australiano Rüfüs Du Sol fez das areias de Joshua Tree palco para a gravação de um set ao vivo, de 45 minutos.  

Aridez pop Istock

Paralelamente, influencers de diversas partes do mundo compartilham à exaustão cliques conceituais feitos na solidão do deserto e nas instalações hippadas das casas típicas da área. Com piscinas ou banheiras ao ar livre, muitas das residências ali, disponíveis para aluguel por temporada, ostentam uma arquitetura moderna e direta – com ângulos bem definidos. Os likes são garantidos.

Uma fratura exposta na popularidade de Joshua Tree é também a mais óbvia: as rochas cor de carne e contornos marcantes, que são um prato cheio para quem se aventura em escaladas com ou sem corda. Já as trilhas que cortam as areias duras têm as marcas dos passos de quem faz do hiking sua principal atividade de lazer.  

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Pelo caminho, é quase garantido que os visitantes encontrem, tombadas ou eretas, as Árvores de Josué, as Joshua Trees, que dão nome ao parque. Cientificamente chamadas de Yuccas Brevifolias, essas árvores têm troncos fibrosos e folhagem cáctea e, embora sejam encontradas em outras regiões dos Estados Unidos, sua presença é praticamente exclusiva da região de Mojave, onde fica o parque nacional. Há quem diga que essas árvores são um símbolo de fé e esperança, uma vez que conseguem prosperar mesmo em um ambiente tão hostil. 

PS Photo/ Robb Hannawacker

Além disso, uma crença sustenta que foi Josué, sucessor de Moisés, que teria descoberto o caminho certo para Jericó graças a essa árvore – daí o nome Árvore de Josué. Independentemente do livro sagrado que cada um prefira honrar, quem visita o Joshua Tree pode experimentar um pouco da crença local, de que ali floresce um vórtice poderoso, capaz de ampliar tudo o que sentimos nos níveis emocional, físico, espiritual e mental.

Mas esse deserto é mágico para os céticos também. Quem só consegue sonhar de olhos bem abertos pode ver, no escuro da noite, porque Joshua Tree vale a viagem.  Como está a mais de 800 metros do nível do mar e é afastada de grandes centros urbanos, a região é abraçada por um breu intenso – a condição perfeita para admirar estrelas. As cadentes, ali, se mostram sem muita timidez. Don’t look up, se você não quiser se apaixonar. 

Obra Everything and the Kitchen Sink, 1996 Noah Purifoy Outdoor Desert Art Musem

MUITO MAIS QUE UMA IMENSIDÃO DE AREIA

Dos efeitos colaterais de Joshua Tree, excesso de criatividade é talvez o mais conhecido – ou pelo menos registrado. O artista afro-americano Noah Purifoy foi um dos que não passaram intactos pela região, e sua “febre criativa” ainda pode ser vista a olhos nus. 

Com materiais encontrados na região, ele esculpiu diferentes obras entre os anos de 1989 e 2004, o suficiente para estabelecer o Noah Purifoy Outdoor Desert Art Musem, que qualquer um pode visitar a qualquer momento, sem pagar nada.

Quando você se deparar com um prédio abobadado, porém, não se engane: aquela obra não é de autoria do criativo, mas do ufologista George Van Tassel, que concluiu a construção em 1959. Batizado Integratron, o prédio tem uma cúpula de 38 pés de altura, com diâmetro de 55 pés. George fez essa estrutura sob encomenda, depois de ter sido convidado a bordo de uma nave espacial venusiana, onde foi ensinado a criar uma máquina que poderia rejuvenescer o tecido celular humano. 

Saira Ahmed/Unsplash

A crença de que o prédio tenha propriedades curativas varia de pessoa para pessoa, mas ainda hoje a estrutura é utilizada para a prática do sound bath, uma espécie de meditação em que os participantes são “banhados” por ondas sonoras. Essas ondas são produzidas por várias fontes, inclusive instrumentos de percussão, como gongos, cristais, sinos, chocalhos e diapasões, além da própria voz humana.  

Sem melodia ou refrão, a música dessa experiência talvez seja a trilha sonora perfeita para uma região sem arranjos clássicos, que só pode ser compreendida por meio da poesia, como fez o escritor francês Honoré de Balzac: “No deserto, observe, há tudo e há nada… é Deus sem os homens”. 

TERESA PEREZ INDICA

Reserve com a Teresa Perez

Onde Ficar

The Ritz-Carlton Rancho Mirage

um verdadeiro retiro com vista para montanhas nevadas e para o Coachella Valley. Os ambientes do hotel revelam elementos naturais que fazem referência a pedras, à madeira e ao fogo. As acomodações têm varandas privativas e pátios perfeitos para tratamentos oferecidos pelo spa do lugar, como massagens. No State Fare Bar & Kitchen os hóspedes podem ainda se deliciar com drinques e ótimos vinhos californianos, além de uma culinária bastante autoral.

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