Ela é conhecida como ‘The Lucky Country’. A fama é verdadeira e é embasada por significativos predicados de civilidade e por estudos como o do National Australia Bank, que revela que 94% dos Aussies (apelido dos australianos), acreditam que a Austrália é um ótimo lugar para viver.

Trata-se de um retrato de um povo feliz e orgulhoso. Essa não é apenas uma percepção interna. O país sempre está em torno dos principais pódios, como o 5 o no Índice de Desenvolvimento Humano (ONU) e suas principais cidades têm cadeiras cativas no top 10 das melhores para se viver do planeta. É uma nação com cultura e padrão de vida bastante homogêneos, mas de natureza plural, com paisagens que lembram outro planeta, como, por exemplo, a inacreditável Pink Lagoon no lado ocidental.

Já na mala de desejos de quem busca desbravá-la pela primeira vez entram em cena destinos icônicos, como Sydney, Melbourne, a Grande Barreira de Corais e a quase espiritual Uluru – a maior rocha monolítica do mundo, no coração da nação. A terra de coalas e de cangurus é daqueles destinos que merecerá novas jornadas. Ao final da viagem ficará a convicção de que a natureza australiana é impecável na arte de surpreender e nos inspirar a autodescobertas.

Algumas regiões da Austrália propõem um convite quase irrecusável a descobertas e imersões na natureza Tourism NT/Shaana McNaught

PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE EM QUEENSLAND

Quando dizem que a Austrália é recheada de superlativos não é fake news. Uma de suas principais estrelas é simplesmente o maior sistema de organismos vivos da Terra. O parque marinho que abriga a Grande Barreira de Corais, se espalha por gigantescos 344 mil quilômetros de extensão – quase o tamanho da Alemanha – e abriga 10% de todo o coral do planeta, em 2.300 quilômetros de comprimento ao longo da costa do Estado de Queensland.

Falamos de um bioma com 3 mil recifes de corais em águas que abrigam 600 ilhas continentais, 300 ilhotas de coral e cerca de 150 ilhas de mangue costeiras. Toda essa absurda biodiversidade foi reconhecida pela Unesco como patrimônio da humanidade em 1981. O título tem sido questionado nos últimos anos, período em que 91% dos corais foram afetados em algum nível por conta do aumento da temperatura e da acidez do oceano, provocados pelas mudanças climáticas.

Tourism Australia/Jarrad Seng

Parte da comunidade científica critica a Austrália por não estar fazendo tudo o que poderia para mitigar esses danos. Em contrapartida, Canberra afirma que está investindo recursos significativos na proteção dessa maravilha da natureza. A boa notícia é que há sinais recentes que apontam para uma resiliência dos corais, que estariam se recuperando lentamente. O quadro real ainda está sendo avaliado. Mas a preocupação é legítima e a simples ideia de imaginar que o planeta possa perder toda essa vida subaquática chega a ser desesperador. Principalmente quando o visitante faz a dupla conexão com a Grande Barreira de Corais: do ar; no mágico sobrevoo; e na água em um mergulho, seja de tanque ou apenas de snorkel.

Resiliência: maior sistema de organismos vivos do planeta Tourism Port Douglas and Daintree/Darren Jew
A Grande Barreira de Corais trava uma luta constante contra o aumento da temperatura e da acidez do oceano Tourism Australia/Maxime Coquard

WHITSUNDAY E CAIRNS

Para chegar até a Grande Barreira, há diversas opções de acessos pela costa de Queensland, como Bundaberg e Townsville, mas são Whitsundays e Cairns as principais portas para o paraíso. O acesso mais popular entre os australianos é pelo arquipélago de Whitsunday, na parte mais ao sul da Grande Barreira. Formado por 74 ilhas belíssimas é um éden para velejadores, que chegam por aqui durante todo o ano. A simpática Hamilton Island é base para o cobiçado sobrevoo de helicóptero de sonhos sobre a Grande Barreira de Corais, onde avista-se o Heart Reef, uma formação de recifes esculpida pela natureza, que criou um desenho de um coração perfeito, do tamanho de dois campos de tênis, encravado no Pacífico. A aeronave, que leva apenas dois passageiros, pousa também em uma plataforma no meio do mar para mergulhos de snorkel.

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A experiência emocionante se encerra com um pouso na estonteante Whithaven Beach, uma praia de areia branca que figura em todos os rankings como uma das mais belas do mundo. Em seus sete quilômetros de orla acessados apenas por mar ou ar. Pelo ar, aliás, é possível observar suas águas cristalinas e até mesmo avistar a silhueta de tubarões e outros grandes animais e nos faz refletir o quanto a Terra é extraordinária e precisa ser preservada. Para aqueles que querem focar nos melhores mergulhos, Cairns (mais a norte) é o suprassumo da Scuba. A cidade em si não tem tantos atrativos, mas respira debaixo d’agua, com impressionantes sites como os recifes de corais Norman, Saxon, Flynn, Milln e Pellowe.

Opera House: imbatível cartão-postal de Sydney Tourism Australia/Greg Snell

SIDNEY, A FOTOGÊNICA

Foi em Sydney, em 1770, o primeiro desembarque dos ingleses e o início de uma relação que dura até hoje, tendo ainda o Rei Charles III como o chefe ‘simbólico’ do Estado. A cidade é a principal porta de entrada de brasileiros que chegam sedentos para conhecer o cartão-postal mais vistoso da Austrália: a baía de Sydney, onde navegam veleiros e ferries em um cenário que contempla o singular teatro Opera House e a famosa ponte Harbour Bridge – estrela que ilumina as primeiras horas do ano novo católico.

Sua geografia, banhada por todos os cantos e recortada pelas cinematográficas Headlands; os penhascos que dividem as praias, chega a emocionar. Além das obras-primas da natureza, nas pontas de quase todas as praias os australianos tiveram a incrível ideia de construir as chamadas Rock Pools, piscinas públicas de água salgada feitas parcialmente com as próprias rochas costeiras. A mais ilustre é a Bondi Icebergs Pool, na ‘Copacabana australiana’, Bondi Beach. A piscina é bela, mas foge do padrão natural da maioria delas. E se não bastassem os penhascos e piscinas para o delírio de instagramers, há trilhas entre todas elas, onde visitantes e moradores compartilham caminhadas, rodeados de panorâmicas espetaculares.

A nova Barangaroo House faz parte do projeto de renovação urbana da cidade Tourism Australia/Kurt Tilse

Sempre há algo vibrando em Sydney. Embora ela seja imensa, boa parte da vida cultural e dos atrativos principais se concentram nos arredores do CBD, no chamado centro comercial, que tem a George Street como artéria principal. A via liga a Central Station até o Circular Quay, na beira do cais, onde além do Ano Novo, ocorrem eventos como o festival de luzes Vivid, o Festival gastronômico francês Bastille e tantos outros. No entorno do Circular Quay encontra-se também o Botanic Garden e museus como a novíssima Art Gallery of New South Wales e o Contempory Art, esse último no coração do The Rocks – o bairro histórico da cidade, repleto de ótimos pubs e galerias de artes.

Entre os novos hotspots de Sydney está Barangaroo, uma pequena região, atrás da Harbour Bridge, fruto de um ambicioso projeto de renovação urbano que transformou um antigo terminal de contêineres em um centro com lojas e restaurantes descolados, além de ser palco de exposições culturais e arquitetônicas. Newtown, Surry Hills e Redfern – onde borbulha anualmente uma das mais representativas paradas LGBTQIA+ do planeta – completam as opções de bairros com uma pegada boêmia original e que evidenciam o quanto Sydney tem pintado sua alma de cosmopolita e multicultural.

MELBOURNE, A CULTURAL

A pouco mais de 800 quilômetros de Sydney, Melbourne é reconhecida por respirar cultura e por ser templo de eventos esportivos, como Fórmula 1, Aberto de Tênis da Austrália e do Melbourne Cup – o turfe mais importante do hemisfério sul. Ela leva a sério a gastronomia e é comum dizerem que sua população é a mais aberta e simpática da Austrália. A pluralidade de Melbourne é de fácil percepção. Com mais de 140 culturas representadas na cidade, formando um verdadeiro caldeirão de etnias, idiomas e costumes que resultam em riqueza cultural.

A gastronomia é um retrato dessa diversidade com vocação oferecer opções asiáticas (como tailandesa, indiana e chinesa) com muita autenticidade. Também tem crescido a predição por comida saudável com incríveis alternativas orgânicas e de vegetarianos e veganos. Mercados gastronômicos como o Praharan e o tradicional Queen Victoria Market dão uma ótima ideia de como os melburnians levam a sério o que vai no prato.

Skyline plural de Melbourne cortado pelo Rio Yarra Tourism Australia / Time Out Australia/Roberto Seba
Transit Rooftop Bar Visit Victoria/Robert Blackburn
Queen Victoria Market Tourism Australia/Ben McNamara

O rio Yarra corta o centro da cidade, criando uma atmosfera única. Muitos dos atrativos da cidade estão na margem do rio, repleta de restaurantes e de fácil acesso a ruas como a Flinders, onde está a homônima estação de trem – a segunda mais movimentada da Austrália –, inaugurada em 1854 em um suntuoso prédio histórico construído no estilo barroco. O rio também dá acesso a Collins Street, apelidada de “Paris End”. Oferece uma expressiva coleção de designers europeus e labels como Dior, Channel, Giorgio Armani e Burberry. Outro cartão-postal é o Australian Centre for the Moving Image, que proporciona uma viagem desde os primórdios do cinema até a era da inteligência artificial, incorporada recentemente em algumas películas hollywoodianas.

O charmoso centro de Melbourne é daqueles planos, atrativos para andar de bicicleta ou até mesmo nos bondinhos elétricos que cortam o CBD. Diferente de Sydney, é uma cidade em que a noite teima em não acabar cedo. Há passeios próximos em regiões enoturísticas como Mornington Península e Yarra Valley, famosa por ótimos espumantes. Já em Phillip Island é garantido o encontro com pinguins e cangurus. Os marsupiais saltadores são fáceis de serem avistados em todo a Austrália, diferentemente dos coalas, raríssimo de vê-los na natureza.

Federation Square, onde está localizado o Australian Centre for the Moving Image Visit Victoria/Rob Blackburn

Melbourne é a base também para visitar Bells Beach, santuário do surf onde acontece uma das etapas do mundial e da cênica Great Ocean Road, a famosa rodovia de 243 km que passa pelos incríveis 12 Apóstolos – impressionantes formações rochosas de calcário que brotam da água bem próximos da estrada e que é um dos principais cartões-postais do Estado de Victoria. Não espere ver uma dúzia de amigos de Jesus. Na verdade, nunca foram 12 e sim 9, sendo que duas desabaram devido a erosão e a força das ondas, restando sete gigantes em pé!

Trecho da Great Ocean Road que passa pela formção rochosa 12 Apóstolos Tourism Australia/Greg Snell

A GIGANTE SAGRADA

Distante de praias, da alta gastronomia e de eventos urbanos, em um voo de três horas desde Sydney, o pouso é praticamente em um santuário. É uma outra Austrália, que muda de cor e passa a vibrar em ocre, em incontáveis tons de laranja e vermelho. O destino é Uluru, no âmago do deserto, no estado de Northern Territory. Ali, o protagonista é a maior rocha inteira monolítica da Terra. Um gigante de 348 metros de altura e 9.4 quilômetros de circunferência. Soberano, ele é a principal estrela do Parque Nacional Uluru-Kata Tjuta, outra maravilha também listada como patrimônio da humanidade pela Unesco.

Seu nome em inglês é Ayers Rock, que batiza o aeroporto mais próximo à rocha. Junto com um movimento nacional de valorização e respeito à história e cultura aborígene, cada vez mais forte na Austrália, Uluru – termo sagrado dado pelos povos originários – é o que tem prevalecido na promoção internacional do destino. A força espiritual mexe com a maioria dos visitantes. O povo Anangu trata Uluru (Pedra Grande) como um santuário, concebido pela natureza 550 milhões de anos atrás. Segundo a crença, a rocha representa um lugar em que a Terra e as memórias coexistem como um só ser. Até 2019, os visitantes costumavam escalar seu topo, o que era visto como uma atitude de imenso desrespeito pelos Anangu.

Desde então o governo proibiu a subida e a experiência mais intimista passou a ser a caminhada refletiva a pé em seu entorno. Para quem tiver mais tempo e quiser explorar com mais intensidade o Outback australiano, a cidade de maior infraestrutura é Alice Springs, cerca de 5 horas de carro de Uluru. A vantagem de conhecer Alice Springs é poder ter mais contato com os povos originários que estão em grande presença na região, diferentemente de cidades como Sydney e Melbourne, onde é difícil encontrá-los integrados aos australianos de origem anglo-saxã.

Uluru: a gigante de 348 metros de altura e 9,4 quilômetros de circunferência repousa solitária no Outback Australiano há 550 milhões de anos.

Uluru Tourism NT/Jess Bonde
Aborígene Tourism NT/Felix Baker

1100 ILUMINADOS

Dentro do parque nacional há mais de 100 atividades para se integrar a região, desde um passeio em camelos até a visita ao Uluru-Kata Tjuta Culture Centre que traz um overview completo sobre o que é a vida no deserto australiano. Mas há algo novo no ar. Na verdade, 1100 novidades voando. O nome é desafiador de pronunciar Wintjiri Wiru, mas a tradução é carinhosa, algo como ‘uma belíssima vista no horizonte’. Trata-se de um show lançado no final de maio de 2023, e projetado por três anos, com investimentos de mais de R$ 35 milhões para contar a história do povo Mala, de Kaltukatjara até Uluru. É um evento hightech e multimídia, que utiliza drones e lasers coreografando-os em sintonia com músicas. São 1100 drones no maior espetáculo diário dessas aeronaves no mundo e acontece duas vezes por dia.

Assistir a uma história milenar sobre uma poderosa rocha de milhões de anos, desenhada com uma tecnologia futurista em um lugar energizado é algo que inspira os sentidos. Funciona como um prelúdio de reflexão ou meditação para quando as luzes se apagarem e você estiver só, admirando Uluru ao som do silêncio do deserto. Nesse momento intimista, de autodescoberta e de força espiritual, talvez surja no pensamento um trecho de uma das canções mais famosas da Austrália: ‘This is Australia’, uma terra onde a natureza faz questão de mostrar o quanto ela é soberana.

TERESA PEREZ INDICA

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Onde Ficar

Qualia, Hamilton Island

O qualia está perfeitamente integrado à natureza do norte da Hamilton Island, uma das ilhas vizinhas da Grande Barreira de Corais. As villas têm linhas minimalistas e são feitas de arenito, madeira e vidro, com vista para a praia e para o mar. Os hóspedes podem relaxar no spa, na piscina privativa de cada villa ou nas duas grandes piscinas de borda infinita. Do hotel, partem passeios para explorar o oceano e os corais. O qualia tem o selo Luxury Lodges of Australia.

Park Hyatt Melbourne, Melbourne

Boa parte dos quartos do Park Hyatt Melbourne tem vista para áreas verdes. No raio de apenas uma quadra, estão os parques Fitzroy, Treasury e do Parlamento. Para os esportistas, o hotel oferece aulas particulares de tênis, academia de ginástica e piscina coberta de água aquecida. No restaurante Radii, dedicado à cozinha australiana moderna, a melhor pedida é o menu degustação acompanhado de vinho.

Shangri-La Hotel, Sydney

As experiências oferecidas no último andar do Shangri-La Hotel, Sydney são inesquecíveis. Estão no 36o piso o Blu Bar e o restaurante Altitude. Enquanto no primeiro se degustam os renomados vinhos locais, no segundo se saboreia a deliciosa cozinha australiana contemporânea. Lá do alto, descortina-se toda a baía de Sydney, com seus grandes ícones. Os quartos do hotel contam com janelas panorâmicas.

Longitude 131º, Uluru

As 15 tendas do Longitude 131º ficam em pleno deserto vermelho e oferecem a melhor visão do majestoso Uluru/Ayers Rock. As tendas, na realidade, são suítes que oferecem todas as comodidades de um lodge contemporâneo. Do Longitude 131º, que faz parte da rede Luxury Lodges of Australia, partem passeios para conhecer os aborígenes e explorar a região. Após um dia de aventura, pode-se refrescar na piscina e jantar sob a luz das estrelas.

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