
Francesa com alma italiana, a Córsega é um daqueles lugares que leva-se tempo para descobrir, por causa das incontáveis maravilhas que sempre enfeitiçam viajantes nos dois países que a “abraçam” no Mediterrâneo.
Logo após aterrissar em Ajaccio, chamada de Imperial por ser a cidade onde nasceu Napoleão, comecei a me encantar com a ilha relativamente pequena, mas de natureza grandiosa, que pode ser conhecida em uma semana desde as isoladas aldeias de pescadores do norte de Cap Corse e Calvi até as lindas praias perto de Porto-Vecchio e Bonifácio.

No trajeto, montanhas escarpadas com cidades cativantes em suas encostas, pastagens bucólicas, cachoeiras, excelentes hotéis e restaurantes, bares, vinhedos e olivais. Arquitetura, comida e o jeito mais informal de seus habitantes provocam, de cara, a sensação de se estar numa França “italianizada”.
Mais próxima do litoral toscano e a apenas pouco mais de 40 quilômetros por mar da Ilha de Elba, onde Napoleão foi exilado, a Córsega guarda uma certa liberdade constitucional em relação à França, que a conquistou no século 18, depois de ter sido invadida por romanos, mouros, pisanos e genoveses, entre outros. Hoje, seus habitantes preservam um orgulho próprio que os franceses do continente chamam de chauvin, ou chauvinista, por seu forte apego às tradições locais. É por isso que o corso, língua românica próxima do toscano e do sardo e que nada tem a ver com o francês, é ensinado regularmente nas escolas.
Tudo brilha
Foi na Córsega que, em 1898, o jovem Henri Matisse, recém-casado com Amélie, passou seis meses e, enquanto pintava 55 de seus quadros ali, escreveu a um amigo que estava num lugar onde “tudo brilha, tudo é cor, tudo é luz”. E é fácil perceber essa impressão nos muitos recantos da ilha, sobretudo junto ao mar, com suas baías e praias reconhecidas como extraordinário Patrimônio Natural pela Unesco.
Quer sentir o mesmo que o grande pintor? Experimente ir àquela que é considerada a mais linda praia corsa: Palombaggia, no sul. Emoldurada por uma floresta de pinheiros, ela se prolonga por 3 quilômetros com faixa de areia muito branca pontuada por rochas lapidadas pelo mar cristalino. Seu pôr do sol fica inacreditável quando as pedras, parcialmente imersas na água azul, brilham em tons meio dourados e as Ilhas Cerbicale se destacam no horizonte.

A poucos minutos de carro de Palombaggia e de Porto-Vecchio, fica um hotel fora do comum, o Casadelmar, em dois hectares com espetacular jardim mediterrâneo em terraços, cercado por azevinhos e pinheiros. Seus elementos de construção principais são em pedra e madeira, aproveitando a intensa luz natural da ilha, com todos os detalhes de luxo nos 34 quartos e suítes e na villa com três suítes e piscina privativa. Além do conforto, permite vistas estonteantes do glorioso azul do Mediterrâneo, das casinhas brancas de Porto-Vecchio e do verde da vegetação nativa, enquanto se relaxa na piscina de borda infinita.

O spa foi projetado como um casulo, com vários tratamentos naturais e terapias antigas baseadas nos rituais da marca britânica ESPA, com óleos essenciais, extratos marinhos e plantas. Massas, peixes e frutos do mar de evidente estilo mediterrâneo dão o tom do Le Casadelmar, duas estrelas Michelin sob a direção do chef italiano Fabio Bragagnolo. E o Grill et Lounge Bar oferece pratos mais informais em seu enorme terraço panorâmico.
Entre praias e cidades medievais
Outras praias nos arredores de Porto-Vecchio também encantam, como Tamaricciu, um prolongamento de Palombaggia, as tranquilas Santa Giulia, com o ótimo restaurante U Santa Marina à beira-mar, Rondinara, San Ciprianu, Pinarellu e a ainda meio selvagem Carataggio. E em Porto- -Vecchio agrada muito flanar pela Place de la République, superanimada com seus bares e restaurantes. Escolha um e peça taças do branco Domaine Orenga de Gaffory ou do tinto Domaine du Clos Signadore, da região de Patrimônio, bons vinhos de produção orgânica. Depois, vale o giro pelas ruas estreitas de pedra salpicadas de lojas, boutiques e mais restôs.

Na ponta sul da ilha e a apenas 40 minutos de carro de Porto-Vecchio, fica Bonifácio, uma linda cidade medieval com suas casas penduradas na borda de falésias de calcário branco. Novamente, o ideal para conhecê-la é andar livremente no interior do centro fortificado – se estiver em boa forma física, o passeio quase obrigatório por ali é descer (e depois subir!) os 187 degraus íngremes do Escalier du Roy d’Aragon, impressionante escadaria, roçando a falésia e vendo o mar a mais de 60 metros de altura. Embaixo, o caminho ao longo do penhasco leva a uma caverna natural. O porto, aos pés da cidadela, é agitado com seus bares e restaurantes e a região também tem praias espetaculares.
Um pouco mais ao norte de Bonifácio, fica a pequena vila de Sartène, com suas típicas casas de pedra. A 20 minutos de seu centro histórico, ela guarda um segredo para quem deseja se dar um presente pra lá de especial: hospedagem no Domaine de Murtoli, um dos refúgios mais gostosos onde já fiquei.

Com 2,5 mil hectares de área e ancorado em um bonito trecho litorâneo de 3 quilômetros, tem 21 casas de pedra restauradas do século 17 com privacidade total, algumas delas com acesso particular a um pedaço de praia. Detalhe simples e charmoso: o café da manhã é deixado na porta da casa, dentro de uma cesta de vime ornada com flores silvestres.
Em 2021, surgiu na mesma propriedade o Hôtel de la Ferme, cercado por oliveiras e hortas. O lugar abriga em uma construção retangular em pedra nove quartos e suítes e, no meio, uma pracinha que remete às famosas places de village do interior francês. Golfe, cavalgadas, spa, piscinas, pesca, passeios pela fazenda com fabricação de queijo, charcutaria, azeite e produção de hortaliças e mel, caminhadas ou apenas deixar o tempo correr preguiçosamente em Murtoli: um luxo para corpo e mente. Outro detalhe essencial é sua gastronomia baseada nos produtos locais, incluindo os do mar em frente, com os restaurantes La Table de La Plage, La Table de la Grotte e La Table de la Ferme, esse último com uma estrela Michelin.
Depois de dias extraordinários em Murtoli, que tal ir para Ajaccio, a capital imperial na costa oeste da ilha? Está situada junto a um golfo belíssimo, onde se destacam o porto Tino-Rossi, com seus pescadores; o mercado de todas as manhãs na Place Foch; a casa-museu onde Napoleão passou uma parte de sua infância e a catedral onde foi batizado. Aliás, tudo na cidade lembra o mais ilustre corso: aeroporto, hotel, museu, avenida e até uma gruta ostentam seu nome. E para relaxar após um dia de andança, como não ir ao Le Grand Café Napoléon?

Rumo ao norte, o Parque Natural Regional da Córsega cobre quase 40% do território e é um banho de natureza, com trilhas e refúgios nas montanhas. Ainda mais ao norte, outros cantos remotos da ilha têm aldeias de pescadores na região de Balagne, onde está a histórica cidade de Calvi e a bela baía que a circunda.
Voltando ao aeroporto, impossível não lembrar de Matisse e seu deslumbramento com as cores e as luzes da Córsega. Mas ainda há algo que seus quadros não conseguem transmitir, evidenciado por ele, Napoleão Bonaparte, ao falar de sua terra natal: “Pelo cheiro de sua vegetação, de longe e de olhos fechados, eu reconheceria a Córsega”. Bienvenue, benvenuti! ––———
TERESA PEREZ INDICA
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Casadelmar
O hotel aproveita a intensa luz natural da ilha nos seus 34 quartos e suítes, além de três suítes numa villa com piscina privativa. Além do conforto, permite vistas para o Mediterrâneo, as casinhas brancas de Porto-Vecchio e o verde da vegetação nativa. O spa foi projetado como um casulo, com vários tratamentos naturais e terapias antigas baseadas nos rituais da marca britânica ESPA, com óleos essenciais, extratos marinhos e plantas. Massas, peixes e frutos do mar de evidente estilo mediterrâneo dão o tom do Le Casadelmar, duas estrelas Michelin, sob a direção do chef italiano Fabio Bragagnolo. E o Grill & Lounge Bar oferece pratos mais informais em seu enorme terraço panorâmico.