Singular. É assim que muita gente define Berlim. Afinal, é impossível comparar a capital alemã com qualquer outra cidade. Vibrante, histórica, alternativa, nostálgica, multicultural, tolerante, inovadora, criativa… Berlim é tudo isso mesmo — e ainda se reinventa constantemente.
A cidade que conquista justamente por sua diversidade soube como poucas preservar e ressignificar arquitetura e emblemas do passado, cicatrizando suas (muitas) feridas em uma pitoresca e inconfundível mistura de arte e memória. Ainda alheia ao overtourism, mesmo no auge do verão europeu ou da Berlinale (um dos mais importantes festivais de cinema do mundo), e sempre fértil em novidades, é cada vez mais prazeroso explorá-la.
Seus endereços mais icônicos, como Portão de Brandemburgo, Reichstag, Memorial do Muro, Tiergarten ou a Alexanderplatz (com sua inconfundível torre Berliner Fernsehturm), têm agora reforços à altura. Muitos bairros ganharam nova vida, com a chegada de museus, galerias e centros culturais. Também surgiram novos bares e restaurantes, se juntando aos mais de 18 estrelados espalhados pela cidade.
No entanto, embora bares e restaurantes sejam cada vez mais presentes (e importantes) no dia a dia do berlinense, a vida noturna na cidade se acalmou. Endereços outrora clássicos e incontornáveis da badalada cena clubber local, como Tresor, Berghain e Watergate, ainda resistem; mas as novas gerações andam preferindo mesmo os programas diurnos e fazendo Berlim dormir mais cedo.
Um dos melhores exemplos dessa nova fase é o Tempelhofer Feld — ou simplesmente Tempelhof —, parque de 386 hectares situado entre os bairros Kreuzberg e Neukölln. Importante aeroporto até 2008 (um dos primeiros em operação em toda a Europa, aliás), ficou muito tempo fechado, até ser convertido em um incrível parque público.
Hoje, é um dos espaços urbanos mais queridos pelos berlinenses, abrigando shows, performances, feiras de arte. As antigas pistas do aeroporto se tornaram rotas para ciclismo, patinação e corrida, e os gramados vivem cobertos de gente lendo, fazendo piquenique, yoga, tai chi chuan…
A nova vida social gerada pelo Tempelhofer acabou levando aos bairros que o rodeiam mais cafés, restaurantes, galerias e lojas — tudo tão eclético como Berlim, é claro.
NOVOS ESPAÇOS
Kreuzberg se destaca nessa transformação. Até pouco tempo considerado bairro “periférico”, foi densamente povoado por imigrantes turcos desde o fim da Segunda Guerra. É berço de importantes movimentos sociais na cidade e da cena punk dos anos 1980 (Iggy Pop, David Bowie, Lou Reed e Nick Cave já zanzaram muito por ali).
Décadas depois, agora rápida e facilmente acessível via transporte público, converteu-se em um dos bairros mais gostosos da cidade — em algumas ruas, pode ainda aparentar uma miniviagem pela Turquia (a Maybachuferstrasse, por exemplo, tem um imperdível mercado itinerante às terças e sextas-feiras).
Kreuzberg tem excelentes restaurantes de culinária internacional, ótimos cafés e disputados bares; mas também é fértil em endereços para comer um belo döner kebab (o fast-food por excelência na Alemanha), como o badalado Tekbir Döner, ou um dos mais famosos hambúrgueres de Berlim, no Burgermeister.
Já em Neukölln, mais artsy do que nunca, as ruas de alma hipster são repletas de estilosos cafés, mercados orgânicos, galerias, bares alternativos e diversos espaços de convivência. É ali que fica também o grande destaque da gastronomia estelar de Berlim: o Coda, do chef alemão René Frank. Único restaurante de sobremesas do mundo com duas estrelas Michelin, seus pratos são todos preparados com técnicas de confeitaria, mas sem usar um único grama de açúcar refinado e priorizando ingredientes salgados. Discretamente instalado em um pequeno sobrado de menos de 100 metros quadrados e com interiores meio brutalistas, o Coda serve algumas das mais surpreendentes iguarias da cidade, incluindo um polêmico picolé de caviar — tudo harmonizado com minicoquetéis exclusivos.
Friedrichshain, por sua vez, virou rei no cenário urbano alternativo, com muitos clubs, festas e arte de rua espalhados pelo bairro. Ali foi erguida também a nova torre Edge East Side Tower, que ganhou diversos restaurantes, cafés e um belo bar no rooftop.
Vibrante, histórica, alternativa, nostálgica, multicultural, tolerante, inovadora, criativa… Berlim é tudo isso mesmo — e ainda se reinventa constantemente.
CELEIRO CULTURAL
Mas os clássicos também sobrevivem, e em Berlim ficam ainda melhores. Como Mitte, bairro queridinho dos turistas. Embora seja centro histórico e turístico de Berlim, tornou-se um importante núcleo de criação contemporâneo, com novos museus, galerias, cafés e lojas — muitas vezes deliciosamente “escondidos” em bucólicos e discretos pátios internos de edifícios antigos (em Mitte, cada pátio é um mundo!).
Dentre as melhores novidades da região, o Deutschlandmuseum, museu de história da Alemanha, tem exposição permanente que destrincha o país nas distintas fases de sua existência. Foram inaugurados ali também o surpreendente Fotografiska Berlin, museu de fotografia contemporânea internacional, e o impactante Petri Berlin, centro de arqueologia repleto de ruínas e “percursos” que conectam diferentes sítios históricos da cidade.
E, se, por um lado, o incomparável Pergamon Museum segue fechado para obras até pelo menos 2027, fãs de museus são 100% contemplados com outras novidades do setor na cidade — como o Humboldt Forum, à beira da chamada “ilha dos museus”. Dedicado à história humana, à arte e à cultura global, esse adorável edifício tem sempre ótimas exposições, debates e outras atividades socioculturais. E um bônus importante: um café delicioso, com vistas matadoras de Berlim.
Tudo isso numa cidade extremamente sustentável e com uma cena hoteleira cada vez mais excitante. Vá, mas não diga que não avisei: é muito, muito difícil não se apaixonar.



























