Há um charme silencioso nas montanhas de Campinas, onde Gisela e Gustavo Assis transformaram um sonho em uma marca de eyewear que está na lista das mais admiradas do mundo.
Fundada em 2014, a Lapima celebra nove anos de presença internacional com 450 pontos de venda em mais de 40 países. A marca se consolida como referência em design independente de luxo e eleva o Made in Brazil a outro patamar.
Brasileira com alma global, a Lapima combina arquitetura, sensualidade e precisão. Grande parte da inspiração vem do mar e da mata de Paraty, onde a luz parece se mover mais devagar. Gisela e Gustavo frequentam a cidade desde jovens, se casaram lá e lá mantêm um refúgio, no Saco do Mamanguá. É desse equilíbrio entre natureza e geometria que nascem os óculos que hoje adornam celebridades como Julia Roberts, Emma Stone e Lady Gaga.
Do papel às lojas, alguns óculos levam até um ano para ficarem prontos. As ideias amadurecem. Os protótipos evoluem. O tempo molda o resultado. A Lapima desenvolve técnicas próprias para alcançar o que define seu estilo: volume, equilíbrio e precisão. Cada armação é polida à mão, lenta e pacientemente, até que o material ganhe vida. Cada peça carrega a memória de sua criação, na forma e na essência.
A expansão internacional mais recente levou a Lapima ao Japão, onde a coleção Perfect Blue estreou com ótima recepção. Inspirada nas tonalidades do oceano e nas formas fluidas da natureza, a coleção conquistou os exigentes consumidores japoneses e ampliou o reconhecimento da Lapima também na Ásia.
Nesta entrevista à The Traveller, Gisela — em alguns momentos, acompanhada de Gustavo — dá dicas de viagens favoritas, indica o melhor programa para se fazer no Japão, conta a história da marca, destaca o sucesso em Los Angeles e compartilha a emoção de ver pessoas comuns usando Lapima pelas ruas de Paris.
Gisela, você viaja bastante. Fora do Brasil, qual é seu lugar favorito no mundo?
GISELA: Gostamos muito de Zürich. É uma cidade que nos encanta pelo equilíbrio. Pequena, mas cosmopolita. Cercada por natureza, com lagos, montanhas e parques e, ao mesmo tempo, com uma vida cultural rica, cheia de história, museus e arquitetura. Também apreciamos o lado mais contemporâneo da cidade, como o Viadukt District, com sua cena criativa e inspiradora. Tudo funciona com harmonia e sofisticação silenciosa, o que nos atrai bastante
Fale de alguma viagem inesquecível que fizeram.
GISELA: O Japão foi uma experiência profundamente marcante para nós. É impossível não se emocionar com a gentileza das pessoas, que se revela nos gestos, no cuidado com os outros, na forma como tratam as crianças e na delicadeza do convívio. O civismo impressiona e a estética está presente em tudo, da arquitetura aos detalhes mais simples do cotidiano. Também nos tocou muito o modo como se vestem: há intenção, beleza e respeito em cada escolha, como se vestir fosse um ato de expressão silenciosa. Foi uma viagem que nos transformou.
Quando vocês estão de férias com a família, qual é o programa que mais gostam de fazer?
GISELA: Amamos viajar para lugares onde possamos estar em contato com a natureza e praticar esportes juntos. As viagens para esquiar em Klosters e para surfar na Costa Rica se tornaram especiais para nossa família. Sempre que podemos, tentamos voltar a esses destinos. São momentos em que passamos mais tempo juntos, nos divertimos e nos reconectamos com o essencial.
Alguma dica especial do Japão? De Paraty? Ou de algum outro lugar para onde viajaram recentemente?
GISELA: No Japão, a dica é viver o cotidiano com calma, caminhar sem pressa, observar os detalhes, visitar templos, tomar um chá quente contemplando a paisagem. Em Hakone, por exemplo, a natureza ao redor das águas termais cria uma atmosfera quase meditativa. Em Paraty, vale explorar de barco as praias mais escondidas e caminhar pelas ruas de pedras, deixando o tempo passar. São lugares diferentes entre si, mas que nos convidam a desacelerar e simplesmente sentir — e isso, para nós, é o que torna uma viagem verdadeiramente inesquecível.
Vamos aproveitar que o Gustavo chegou para falar do sucesso da Lapima? Vocês estão conquistando grande reconhecimento internacional. Como surgiu a ideia de criar a marca?
GISELA: Em 2014, começamos a pensar em criar algo que combinasse nossa paixão pelo produto com o desejo de trabalhar com moda de alguma forma. Os óculos têm algo de permanente, são quase esculturas, e queríamos trazer isso para o design brasileiro, com autenticidade e sensibilidade.
GUSTAVO: Para nós, os óculos são artigos de luxo que expressam identidade. Fazer cada peça é como criar uma obra de arte: polimos manualmente por horas, cuidamos de cada mínimo detalhe, e isso se reflete na qualidade final, no ajuste perfeito e no brilho que se percebe ao toque.
Como vocês definem a identidade da marca?
GISELA: A Lapima é ousada, romântica e inspirada nos anos 1960. Cada um dos óculos tem uma estética marcante, quase escultural. É uma marca que busca a emoção antes da razão, que faz o olho sentir antes de entender.
GUSTAVO: Nosso diferencial vem da inspiração brasileira: as curvas, o movimento e a “bossa” natural do nosso design. Isso é algo que se percebe ao primeiro olhar, mesmo para quem não conhece a marca.
De onde vêm essas inspirações para o design?
GUSTAVO: A maioria dos modelos nasce de esboços de referências na arquitetura brasileira, nas curvas de Niemeyer, nas máscaras de mergulho, nas folhas tropicais. Tudo que tenha forma, textura e beleza. Paraty com suas ruas de pedras e casario colonial, o mar e as montanhas também são uma inspiração constante.
Falando em Paraty, qual é o papel da cidade na história da Lapima?
GISELA: É nosso refúgio. A luz, a natureza, as sombras e o silêncio da cidade nos ajudam a encontrar soluções de forma e proporção que, depois, se traduzem nos óculos.
GUSTAVO: Em Paraty conseguimos desacelerar e pensar nos detalhes. As viagens nos ensinam sobre estética, equilíbrio e respeito pelo trabalho artesanal.
A produção artesanal é um grande diferencial da Lapima. Como funciona o processo?
GUSTAVO: Cada desenho ganha um protótipo em 3D, depois é esculpido, lixado e polido à mão. No ateliê em Campinas temos 25 mulheres e 4 homens que cuidam de cada etapa, em mais de 30 processos manuais. Polimos o acetato até que o toque lembre o “cashmere” e o brilho seja único. É um trabalho técnico e emocional que garante leveza, conforto e qualidade impecável.
GISELA: Muitas artesãs vêm da comunidade local. Aprendem novas habilidades e têm orgulho do que produzem. Saber que suas peças circulam internacionalmente é motivador e fortalece a conexão delas com a marca.
A sustentabilidade é parte desse processo?
GUSTAVO: Sim. Trabalhamos no modelo made-to-order, produzindo sob encomenda. Mantemos apenas estoques mínimos de best-sellers, para evitar desperdício. Além disso, buscamos sempre melhores condições de trabalho para nossa equipe e usamos os melhores materiais disponíveis.
A marca é famosa entre supercelebridades. Como isso acontece?
GISELA: É orgânico. Stylists de Julia Roberts, Emma Stone, Alicia Silverstone, Jordana Brewster e outros tantos entram em contato diretamente. Respondemos a todos os pedidos e torcemos para que eles realmente escolham usar.
GUSTAVO: A exclusividade é fundamental. Nossos óculos são marcantes e únicos. Celebridades gostam disso, e compradores internacionais reconhecem o valor de ter algo que não é produzido em massa.
Como funciona a Lapima fora do Brasil?
GUSTAVO: Começamos com showrooms de moda e hoje participamos de feiras. Estamos em 450 lojas em mais de 40 países. Nossos principais mercados são Estados Unidos e França.
Quais são as prioridades para a expansão internacional?
Manter qualidade e exclusividade. Encontrar parceiros que entendam nosso processo artesanal, que leva cerca de oito semanas. Expandir na Alemanha, Inglaterra e Escandinávia, crescer nos Estados Unidos e no Japão, onde acabamos de lançar a marca.
GUSTAVO: Continuaremos explorando novos volumes, cores e materiais, sempre com respeito pelo ofício e pela autenticidade do design. A coleção Blue, por exemplo, é inspirada nas tonalidades do oceano e nas formas fluidas da natureza, mostrando que é possível unir a tradição artesanal a uma linguagem contemporânea e internacional.
Quais viagens vocês fizeram juntos que mais inspiram a criação dos óculos?
GISELA: Ah, várias. Do silêncio dos templos japoneses às texturas das pedras coloniais de Paraty, cada detalhe alimenta nossa criatividade. A mistura de Brasil e mundo, de raiz e refinamento, é o que torna a Lapima tão singular. Cada um dos óculos é uma extensão da paisagem, uma maneira de projetar emoções, de transformar a forma em poesia.



























