Em 1993, ele estabeleceu um novo conceito de turismo na África. Aproveitando as terras que pertenciam à sua família desde 1925, Luke Bailes criou o Singita Ebony Lodge nos limites do Parque Nacional Kruger, na África do Sul. Era o ponto de partida para um modelo de negócio que colocava a aventura dos safáris e as iniciativas de conservação do meio ambiente no centro das atenções.

Pioneiro em conciliar luxo, preservação e desenvolvimento social, o grupo Singita abre 2020 atuando em quatro países e segue como referência absoluta quando o assunto é criar experiências de safári ambientalmente conscientes.

"Nosso objetivo é preservar e proteger grandes áreas do território africano para as gerações futuras. É a nossa principal razão de ser."

Luke Bailes Singita

ENTREVISTA

A história dos lodges Singita está diretamente ligada à história da sua família. Pode nos contar um pouco da trajetória do Singita? 

Tudo começou em 1925, quando meu avô comprou um pedaço de terra, que mais tarde se tornou parte da Reserva Sabi Sand, na África do Sul. Situada em um canto remoto de Lowveld, a reserva de caça de quase 45 mil hectares percorreu um longo caminho desde seus primeiros dias para se tornar uma reserva de conservação exclusiva, onde todas as espécies são protegidas. Abrimos nosso primeiro lodge, o Singita Ebony Lodge, em 1993, sendo pioneiro no safári de luxo e criando uma referência em sustentabilidade e ecoturismo que permanece até hoje. Em 2000, abrimos nossa propriedade familiar, Singita Castleton, para os hóspedes. Hoje, temos 15 lodges em quatro países e, ao lado do nosso parceiro de conservação Funds & Trusts somos guardiões de grandes áreas da África com projetos de parcerias comunitárias, fazendo uma diferença real na vida das pessoas que vivem dentro e ao redor dos lodges. 

Sabemos que as iniciativas de conservação estão no centro das atenções de todas as propriedades Singita. Desde o início foi assim? Era uma preocupação sua naquela época ou surgiu com o tempo? 

Sempre fomos apaixonados por conservação e o objetivo de iniciar o Singita era preservar a vida selvagem. A palavra Singita vem da língua shangaan e significa “Lugar dos Milagres”. O objetivo sempre foi o de preservar e proteger grandes áreas da África para as gerações futuras. Nossas concessões representam algumas das áreas selvagens mais puras do continente. A população da África está crescendo rapidamente – de 1,3 bilhão para estimados 4,4 bilhões até o final do século –o que coloca uma pressão incalculável em áreas selvagens intocadas. Esta é uma grande preocupação para mim. Hoje, áreas selvagens estão desaparecendo rapidamente. Nossos esforços tentam preservar os ecossistemas e reservas em que operamos, para garantir que a vida selvagem possa prosperar naturalmente. 

É possível equilibrar luxo e preservação do meio ambiente? 

Sim, é absolutamente possível. Os esforços de conservação não estão em desacordo com a sustentabilidade. Nosso objetivo é preservar e proteger grandes áreas do território africano para as gerações futuras. É a nossa principal razão de ser. Apoiamos o bem-estar de nossas comunidades vizinhas por meio de geração de emprego local e indiretamente por meio de nosso Programa de Parcerias Comunitárias. Ao mesmo tempo, usamos nosso negócio de turismo para minimizar o impacto nessas paisagens. Um componente essencial do nosso sucesso é a operação de maneira ambientalmente consciente em todos os níveis do negócio. Para isso, algumas ações cotidianas são implementadas. Redução de até 90% do plástico utilizado em todos os lodges; aproveitamento de energia solar em mais da metade das nossas propriedades; aproveitamento de produtores locais – 80% das frutas e dos legumes servidos nos lodges da Tanzânia são provenientes de cooperativas de agricultores locais, entre outras dezenas de ações. Nossos lodges são projetados com os mais altos padrões de luxo, mas atendem aos nossos critérios rigorosos de fornecimento e uso de materiais naturais locais. Por exemplo, servimos alimentos de alta qualidade em todos os lodges, mas prestamos atenção especial ao fornecimento sustentável e ético e à redução de resíduos. 

Na prática, como um hóspede pode ajudar na manutenção do meio ambiente e da vida selvagem em lugares como Tanzânia, Zimbábue e Ruanda, três dos países onde o Singita atua?

A escolha de um operador de ecoturismo responsável é fundamental. É importante alinhar-se com marcas que tenham essa atenção à conservação, com projetos incríveis e resultados positivos. A postura do viajante é essencial, apoiando projetos comunitários ou de conservação. Por exemplo, no Parque Nacional Kruger, o hóspede pode visitar a Escola de Culinária da Comunidade Singita, fazer uma aula e comprar nosso livro de receitas – os fundos de ambos apoiam os alunos. Como alternativa, podem apoiar qualquer um de nossos projetos de conservação e terminar a viagem sabendo que contribuíram para o desenvolvimento da primeira infância e outras ações comunitárias, pesquisas sobre a preservação de leopardos, recuperação de leões e muito mais. 

No momento, o Singita está arrecadando fundos para apoiar outra bem-sucedida ação de transporte de rinocerontes para o Serengeti, na Tanzânia. Estamos ajudando nosso parceiro de conservação, o Fundo Grumeti, a arrecadar 500 mil dólares para apoiar a próxima translocação do rinoceronte negro – mas não podemos fazer isso sozinhos. Com apenas cinco dólares, os hóspedes fazem a diferença, contribuindo com algo que pode definir (leopardo, lodge e mulheres) Singita o sucesso futuro de uma espécie inteira. Em Ruanda, é possível visitar nosso viveiro e plantar uma árvore como parte de um ambicioso plano de reflorestamento. Os viajantes também podem divulgar as iniciativas, incentivando mais visitantes a descobrir a África, apoiando assim as empresas de ecoturismo a continuar o trabalho vital que realizam. 

Conservação: os hóspedes podem fazer um safári e contribuir para projetos de conservação Singita

Para quem deseja viver sua primeira experiência de safári na África, na sua opinião, existe um destino mais indicado? 

Isso depende muito do hóspede e da expectativa dele. A África do Sul proporciona àqueles em sua primeira viagem ao país a introdução perfeita ao safári, além de ser indicada para viagens em família. Também é logisticamente mais fácil para voos e deslocamentos, enquanto o nível de acomodações de luxo e de restaurantes requintados é excepcionalmente alto. A África do Sul propicia uma infinidade de experiências – uma atmosfera mais cosmopolita na Cidade do Cabo (onde há belas paisagens litorâneas e uma região vinícola prestigiada nos arredores) ou em Johannesburgo; na sequência da viagem, a opção de fazer um safári autêntico e emocionante no Kruger ou no Sabi Sand. Já a África Oriental é para os puristas, que desejam se concentrar no safári e na incrível diversidade animal. Para muitos, a ideia da paisagem do Serengeti evoca visões de campos abertos e o contorno rígido de arbustos espinhosos. Mas também pode ser um cenário exuberante. A abundância de herbívoros contribui para uma experiência espetacular da vida selvagem para os hóspedes, e a Grande Migração está na wishlist de muitos viajantes.

Em 2019, foram inaugurados o Singita Kwitonda Lodge e a Kataza House em Ruanda. O que o viajante pode esperar desses lodges? Há grandes diferenças entre eles e as demais propriedades? 

Ruanda experimentou um renascimento incrível. O modelo de ecoturismo de alto valor e baixo impacto do país está focado na sustentabilidade e na proteção dos gorilas-das-montanhas, que estão em perigo de extinção. Desde que começamos nosso relacionamento com o Conselho de Desenvolvimento de Ruanda (RDB) e com o Presidente Paul Kagame, ficamos muito impressionados com as ações. É um dos países mais limpos e seguros do mundo. Desde o início, recebemos calorosamente o espírito de parceria e eficiência. Essas virtudes são sinônimos da maneira Singita de trabalhar. A experiência no Singita no Parque Nacional dos Vulcões é bem diferente de outros destinos tradicionais de safári por diversos motivos. O contato com a vida selvagem envolve uma caminhada pelas encostas das montanhas para ver de perto uma família de gorilas.  

É um encontro estritamente controlado com um impacto mínimo nos animais. Além disso, temos uma localização verdadeiramente excepcional – o Kwitonda Lodge e a Kataza House estão situados em mais de 70 hectares de terra privada, perto da sede do Parque Nacional dos Vulcões. Isso nos coloca a uma curta distância dos caminhos que levam aos gorilas. Os lodges foram construídos para proporcionar uma experiência diferente aos visitantes. Previmos que os hóspedes passariam mais tempo em suas suítes com vista para três vulcões, contemplando o ersivo encontro de gorilas da montanha ou apenas se conectando com a natureza. As suítes foram projetadas para ser um santuário aconchegante, um espaço contemplativo. O clima em Ruanda também influenciou o design, e os quartos tinham que ser acolhedores, portanto, instalamos lareiras internas e externas, além de piscinas aquecidas.  

Em Ruanda, a comunidade local faz parte de projetos como o reflorestamento no viveiro Akarabo Singita

Ambos os lodges foram construídos a partir do zero. Assim, tivemos a oportunidade de pensar profundamente sobre todos os aspectos, tornando-os dois dos mais sustentáveis da nossa coleção. Estabelecemos um viveiro, chamado Akarabo, cerca de 18 a 12 meses antes da abertura e, até o momento, plantamos 250 mil árvores e arbustos nativos como parte de um ambicioso plano de reflorestamento do parque. Graças à paixão de todos os envolvidos no projeto, esse esforço inspirador continua prosperando. 

Há planos de novas aberturas na África nos próximos anos? 

A filosofia do Singita é apenas estabelecer novas propriedades quando pudermos ser ainda melhores do que em qualquer dos lodges que já temos. Estamos buscando ativamente outros destinos na África para desenvolver.  

Depois desse tempo todo de um trabalho pioneiro, o que ainda o motiva?

Todos os dias, permaneço inspirado pelas pessoas incríveis com quem trabalho. Minha verdadeira paixão pela conservação me inspira. Como a marca é muito conhecida, ela nos proporciona incríveis oportunidades de desenvolvimento. Ver coisas novas continua me inspirando. 

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