Durante o Período Edo (1601-1868), Kanazawa se desenvolveu como o centro de um dos mais poderosos feudos da época, comandado pelo clã Maeda. Como a produção de arroz da região era uma das maiores do país, a cidade prosperou muito e o resultado pode ser visto até os dias de hoje.
Kanazawa foi poupada dos bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial e muitos dos antigos distritos foram preservados. Ali é possível visitar antigas casas de samurais e gueixas, casas de chá centenárias, além, é claro, de passear no Kenrokuen, considerado um dos três mais belos jardins tradicionais do Japão.
A cidade, no entanto, não ficou presa ao passado e investiu em arquitetura e arte contemporânea para atrair visitantes. A estação central, por exemplo, é um diálogo entre passado e futuro. O projeto, com um enorme portal torii estilizado de madeira, lembra os capacetes das armaduras dos samurais, essenciais na história local.
No quesito arte, o Museu 21st Century é um dos mais visitados e tem uma curadoria excepcional. Tudo isso concentrado numa área em que não é necessário muito tempo de deslocamento entre uma atração e outra.
Veja abaixo os principais destaques da cidade:
Castelo de Kanazawa/Jardim Kenrokuen
Pensado como parte do Castelo de Kanazawa, o Kenrokuen é uma das obras-primas da jardinagem no Japão. Não se sabe exatamente quando ele começou a ser construído, mas as fontes costumam dizer que foi uma obra contínua que atravessou os séculos 17 e 18. Com mais de 114 mil metros quadrados, o jardim é atualmente composto de mais de 8 mil árvores de 183 espécies. Na primavera, as ameixeiras abrem a estação das flores, no final de fevereiro, e são seguidas pelas cerejeiras, algumas semanas depois. Mas a flora é só uma atração.
O jardim é formado, ainda, por lagos, pontes, lanternas e obras de arte que fazem de cada ponto do passeio uma descoberta. Como Kanazawa fica numa região que neva muito no inverno, o Kenrokuen ganha outra cara na estação mais fria, o que faz do jardim um espaço a ser visitado o ano todo. Bem ao lado fica o Castelo de Kanazawa. Construída no século 16 pelo clã Maeda, a fortificação teve boa parte de suas edificações originais destruídas ao longo do tempo. No entanto, alguns prédios foram restaurados e é possível conhecê-los.
Mercado de Omicho
Principal mercado de alimentos de Kanazawa desde o século 17, o Omicho é um convite à degustação da gastronomia local. Entre as mais de 200 barracas estão alguns dos principais comerciantes de frutos do mar da cidade que entregam aos restaurantes peixes, lagostas, camarões e outros produtos fresquíssimos.
Aliás, apesar do apelo turístico, o mercado é muito frequentado pelos locais, em especial no horário do almoço. Por isso, não é raro ver filas sendo formadas na frente dos melhores restaurantes. A dica para ter uma ideia global dos sabores locais é pedir um kaisen-don, prato com arroz coberto com frutos do mar, a conjunção perfeita do que há de melhor na região: a pesca e a agricultura.
Nagamachi
Numa época em que o zoneamento urbano dividia os moradores em classes, Nagamachi era a área dedicada à residência dos samurais, que eram os militares de diversas patentes cuja função era manter a ordem e a segurança além de, em alguns casos, cobrar impostos e defender seus senhores em situações de guerra. Um dos locais que mais merecem uma parada é a Nomura-ke, uma antiga residência com um jardim extremamente charmoso.
Com a tomada do poder pelo xogunato Tokugawa e a consequente pacificação do país, muitos samurais passaram por um processo de refinamento estético e filosófico, em especial os de alta classe. Assim, na antiga residência da família Nomura é possível ver, claro, como os samurais lidavam com armas dentro de casa. Mas também dá para tomar um matchá numa belíssima sala dedicada a esse fim.
Museu de Arte Contemporânea 21st Century, Kanazawa
A ideia dos arquitetos Kazuo Sejima e Ryue Nishizawa era construir um espaço circular, sem uma entrada única, para que os visitantes pudessem se acostumar à ideia de observar as obras de arte de diversos ângulos. Com esse conceito, essa instituição, a poucos metros de distância do Jardim Kenrakuen, é um dos museus mais visitados da cidade e tem uma curadoria de altíssimo nível.
Construído com vigas de aço e concreto armado, o espaço dá destaque a artistas internacionais e japoneses em exposições criativas e, em alguns casos, experimentais. Na exposição permanente, o museu conta com a famosa Swimming Pool, do argentino Leandro Erlich, uma instalação imersiva que propõe exatamente o mesmo que o museu: a arte só pode ser entendida quando vista de diferentes ângulos.
Shirakawago
Gasshozukuri é um estilo de construção em que os telhados das casas têm formato semelhante ao da posição das mãos na hora da prece e contam com uma grossa camada de palha para conter a neve pesada que cai no inverno. Esse estilo era muito comum nas montanhas do centro do Japão. Shirakawago é uma das vilas japonesas que melhor preservou esse tipo de construção e, por isso, atrai pessoas de todo o mundo interessadas em ver como era a vida na região.
Apesar de muitas casas ainda serem usadas como residências, dá para visitar as construções convertidas em hospedagens, museus ou restaurantes. A Casa Kanda, por exemplo, tem cinco pavimentos e é possível ver como a residência era autossuficiente, produzindo praticamente tudo de que necessitava, em especial no longo inverno local. Nos meses mais frios, além da bela cena das casas cobertas de neve, a vila recebe uma iluminação especial, o que a deixa ainda mais charmosa.
Higashi-Chaya
Chaya, literalmente, quer dizer “casa de chá”. No universo das gueixas, no entanto, a palavra se refere aos restaurantes onde essas profissionais do entretenimento atendem seus clientes em banquetes com muita música, dança, boa comida e saquê. Higashi-chaya é um dos três distritos de gueixas ainda existentes em Kanazawa. A Shima é uma antiga casa de chá que foi convertida em museu. Ali é possível ver instrumentos e utensílios utilizados pelas gueixas, além de ter acesso às áreas em que elas trabalhavam, inclusive o palco.
Já a Kaikaro segue em funcionamento: recebe visitantes no horário diurno e realiza banquetes para convidados no período da noite. O espaço conta também com um café que serve matchá e doces locais como o kuzukiri, feito com a fécula de uma planta de sabor refrescante chamada kuzu. A Hakuza Hikarigura, loja que fica bem ao lado, é especializada em produtos com ouro e tem uma sala belíssima, toda dourada, que abusa do material como item de revestimento. Ela é apenas uma das muitas lojinhas desse bairro que encanta pelas suas casinhas tradicionais de madeira.
Yamashiro Onsen
Onsen quer dizer “águas termais” em japonês, portanto as localidades que têm essa palavra no nome são estâncias termais. Localizada no sopé do Monte Hakusan, Yamashiro Onsen é uma das mais tradicionais e frequentadas da província de Ishikawa. Com 1.300 anos de história, a estância se desenvolveu no entorno do Ko-soyu, uma casa de banhos pública com acesso permitido a moradores e visitantes. Reza a lenda que um monge budista, passando pela região, viu um corvo ferido colocando a asa numa poça d’água para aliviar a dor. O monge notou que a água estava quente e, ao ver o corvo sair totalmente renovado, entendeu o poder curativo da água e fundou ali o que se transformou no primeiro banho público local.
Mais de um milênio depois, é natural que o espaço tenha sido renovado, mas o atual Ko-soyu é todo inspirado na antiga arquitetura dos banhos públicos locais, tendo inclusive mantido o piso em porcelana kutani, típica da região. Outra forma de curtir os banhos termais é nos ryokan, as tradicionais pousadas japonesas. A qualidade da água e a proximidade com Kanazawa fizeram com que diversos ryokan fossem surgindo ao longo do tempo, o que transformou Yamashiro Onsen num destino perfeito para o descanso em banhos de águas termais.
Kataori
O pequeno balcão com apenas seis lugares destaca a grandiosidade do trabalho que o chef Takuya Kataori faz neste que é considerado por muitos o melhor restaurante da província de Ishikawa. Dedicado artesão da gastronomia, Kataori viaja todos os dias a sua terra natal – a cidade portuária de Himi, na província vizinha de Toyama – para buscar o melhor pescado do dia e servir no seu menu em 11 tempos que tem como destaque de inverno o caranguejo-da-neve, uma iguaria local. O esforço lhe garantiu duas estrelas Michelin e uma lista de espera de meses.
Sakuda Folhas de Ouro
Tradição de mais de 400 anos da província de Kanazawa, a produção de folhas de ouro por ali é quase uma arte. Finíssimas, elas são usadas para revestimento de ambientes, telas e artefatos. A Sakuda tem duas lojas em Kanazawa, não muito distantes entre si e com experiências diferentes. Na matriz, é possível ver os artesãos produzindo as folhas de ouro. Já na filial, há uma bela exposição de obras nas quais usam o material.
Festival de Música Ishikawa-Kanazawa Gargan
Realizado durante a Semana Dourada, um feriado prolongado no final de abril e início de maio, o festival reúne nomes da música clássica vindos de todo o planeta para performances divididas em cinco programas que dão destaque a expoentes internacionais consolidados, à música clássica tradicional japonesa, a colaborações com outras artes, aos músicos locais e a concertos voltados para crianças e iniciantes.
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TERESA PEREZ INDICA
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Araya Totoan Ryokan
Hospedagem japonesa no melhor estilo, esse ryokan com mais de 8 séculos de história traz no espírito o omotenashi, a hospitalidade japonesa. Ali, a aconchegante arquitetura tradicional japonesa se alia com perfeição às benesses dos dias atuais, criando um ambiente quase onírico para o relaxamento do hóspede. No campo da gastronomia, a sazonalidade dos ingredientes locais garante menus de excelência.
Ana Crowne Plaza
Localizado bem ao lado da estação de Kanazawa, o estabelecimento alia conforto e conveniência para quem visita a cidade. Elegantes, as confortáveis e bem desenhadas acomodações mostram com perfeição o modo japonês de fazer uso inteligente dos espaços. O hotel abriga, ainda, o Untei, um dos melhores restaurantes de carne marmorizada wagyu da província.
Beniya Mukayu Ryokan
Mukayu, a palavra que dá nome a essa hospedagem, significa “inexistência”. Na filosofia chinesa, ela remete à ideia de um vazio que representa a natureza das coisas como elas são. O jardim na natureza, os banhos de águas termais, a arquitetura minimalista que não interfere no entorno, a gastronomia kaiseki: tudo é pensado para o hóspede se desconectar do mundo externo e buscar sua essência em momentos de relaxamento.
Hyatt Centric Kanazawa
O hotel tem quartos amplos e bem iluminados, com um conceito contemporâneo de decoração inspirado na rica cultura de Kanazawa. Os quartos em estilo ocidental são elegantemente coloridos, com uma pegada que costuma agradar a quem aprecia arte. No 14° andar, o Roof Terrace Bar é uma opção noturna com boa comida e coquetéis, além, claro, de uma bela vista da cidade.



























