Assim como Amsterdã e Berlim, Los Angeles é um dos polos mundiais da comida saudável e consciente, dessa comida que tem base no universo vegetal infinito em cores, texturas e sabores, com verduras, leguminosas, cereais, sementes, raízes, cogumelos, trufas…

E ainda: respeitando a época de cada ingrediente, quando cada um deles está no seu melhor sabor. Ingredientes vindos de produtores locais, sem precisar queimar milhares de litros de combustível para chegar à mesa; e, muito importante, cultivados em uma terra saudável, sem venenos, sem agrotóxicos.

Se você é desses viajantes preocupados com a alimentação contemporânea, repleta de ultraprocessados, defensivos, conservantes e antibióticos que são fonte de doenças físicas e mentais, vale viajar para conhecer as propostas gastronômicas sustentáveis do condado “dos anjos”, de suas cidades Beverly Hills, West Hollywood, Santa Monica e também a cidade homônima de Los Angeles.

Fine dining plant-based

Avocado toast e suas cores, sabores e texturas. Shoichi Iwashita

O Crossroads Kitchen, inaugurado em 2013 na Melrose Avenue e alçado à fama em virtude das celebridades que o frequentam em busca de sua proposta responsável-saudável, mas também elegante, tem um menu 100% vegetal que agrada a todos. “Dos nossos clientes, 60% não são veganos”, me disse o chef Tal Ronnen quando veio à mesa ralar a trufa preta sobre um dos pratos-destaque do menu-degustação: tortelli de espinafre recheado com uma delicada ricota de amêndoas, minialcachofras e um “indescritível de tão bom” caldo reduzido de legumes assados.

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Diferentemente da nova onda de restaurantes plant-based que vêm surgindo — com uma proposta de enaltecer os vegetais sem tentar emular pratos que levam carnes e ingredientes derivados de animais —, o Crossroads tem entre os pratos-assinatura a “costela” feita de berinjela servida com um purê de batatas leve e aerado e um molho bordelaise feito com vinho tinto e cogumelos cremini e shimeji; a “linguiça italiana” feita na casa, com temperos típicos toscanos como alho, cebola, pimenta-do-reino e noz-moscada; e massas como cacio e pepe, bolognese e um incrível carbonara, com direito até à gema feita com uma emulsão de tomate amarelo e alginato de sódio, um espessante encontrado em algas marinhas marrons.

Vista de Los Angeles ao pôr do sol. iStock/Ryan Herron

Comidas do mundo

Levantina, mexicana e etíope

Uma das cidades mais etnicamente diversas do mundo, Los Angeles é uma ponte entre o Ocidente e o Oriente. Não só abriga uma Chinatown (como muitas cidades da América do Norte) como também uma enorme Koreatown, uma Little Bangladesh, uma Filipinotown, uma Little Tokyo, a Tehrangeles — com a comunidade iraniana-persa — e a Little Armenia, onde fica o Saffy’s. Assim como acontece com a comida japonesa, a gastronomia levantina encanta com o frescor e o sabor dos ingredientes e das receitas repletas de proteínas provenientes de leguminosas como a lentilha, o grão-de-bico e a fava.

Com uma linda decoração que remete ao Mar – rocos dos anos 1970, o Saffy’s eleva as mezzes a outro nível (a dica é pedir todos os pratos para compartilhar e comer tudo junto e misturado). Pense em um hummus feito com pinhões libaneses acompanhado de zhoug (molho picante origi – nário do Iêmen) e pão challah; um falafel de fava com tahini, endro e conserva de pepino agridoce; e uma incrível couve-flor assada no fogão a lenha com chutney de ervas, gengibre e sal de curry.

O salão do restaurante de comida mexicana, Gracias Madre. Divulgação/Gracias Madre

Em West Hollywood, o Gracias Madre, que tem um dos mais agradáveis pátios de Los Angeles para um brunch, almoço ou jantar al fresco, traz uma gastronomia mexicana autêntica, com chiles rellenos, enchiladas, pozoles, nachos, tacos e burritos, feitos com milho orgânico-e-não-transgênico, com muito queijo de castanha, carne de jaca, feijões, lentilhas, quinoa, cogumelos, avocado e coentro. Não deixe, claro, de finalizar a refeição com o bolo tres leches, orgânico, sem leite e lactose.

Já o Rahel Ethiopian, no coração do Little Ethiopia, é o mais simples (simples, mas autêntico) dos restaurantes desta matéria. Com ensopados de vegetais cozidos por muitas horas e repletos de especiarias, todos os wot), feijões levam diferen – tes tipos de lentilhas (yesimir kik wot) ou feijões (yefasolia wot) ou ervilhas (yemitin shiro wot e yeshiro alicha). Em Santa Monica, um pouquinho mais longe, há ainda outro restaurante etíope vegano e orgânico, o Berbere.

Supermercado de milhões

Nas grandes cidades dos Estados Unidos, sempre escolho os melhores hotéis o mais próximo possível de um Whole Foods, rede de lojas de comidas saudáveis fundada em 1980 que tem hoje mais de 500 endereços englobando os EUA, o Canadá e o Reino Unido. Produtos que levam gordura hidrogenada, corantes sintéticos e adoçantes artificiais como o aspartame têm sua venda banida na Foods. Mas em Los Angeles — e só em Los Angeles — há dez unidades do incrível e superlativo Erewhon. Fundado em 1960 por um casal de japoneses que trouxe a comida macrobiótica para os EUA, o Erewhon é um supermercado que vende tudo o que tem de mais saudável em produtos e ingredientes orgânicos (locais e não tão locais assim).

E sempre tem um café com comidinhas e bar de sucos onde você pode tomar smoothies elaborados com ingredientes saudáveis e da moda e comer as mais lindas e deliciosas saladas. Como o Erewhon está situado na North Beverly Drive (paralela à Rodeo Drive) e a Whole Foods fica na North Crescent Drive, a dois quarteirões, as hospedagens preferidas em Los Angeles são sempre o célebre Beverly Wilshire e o preferidíssimo e icônico The Beverly Hills Hotel, que está a 1,5 quilômetro de distância (mas, como em Los Angeles alugar um carro é obrigatório em razão das longas distâncias entre um lugar e outro, mil e quinhentos metros não são nada…)

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Onde ficar

The Beverly Hills Hotel

A icônica fachada do The Beverly Hills Hotel. Shoichi Iwashita

O carpete vermelho na entrada diz muito sobre o The Beverly Hills Hotel, aquele que é a quintessência do glamour californiano da era de ouro do cinema estado-unidense. Além de seduzir com o clássico restaurante Polo Lounge, uma das mesas mais disputadas da cidade, e com o The Fountain Coffee Room, um diner no subsolo que oferece um cardápio tipicamente americano — de bagel com cream cheese a banana split, passando por tuna melt e milk-shake —, o hotel, membro da Dorchester Collection, encanta com as opções de comida saudável em toda a propriedade, incluindo o serviço de quarto.

Com um cardápio próprio, o Wellness Menu tem pratos com superalimentos (açaí, pólen de abelha, carvão ativado, mirtilo, kale, sementes), tudo plant-based, para comer a qualquer hora do dia e da noite sem culpa. No cardápio da piscina as opções saudáveis continuam, com o smoothie Good ‘n’ Green (banana, tâmaras, espinafre e leite de coco) e o bowl probiótico, com kimchi, picles de nabo, brotos de rabanete, cogumelos marinados no gergelim, espinafre e arroz jasmin.

Beverly Wilshire, A Four Seasons Hotel

A entrada do Beverly Wilshire, A Four Seasons Hotel. Divulgação/Beverly Wilshire, A Four Seasons Hotel

Imortalizado nos anos 1990 no filme Uma Linda Mulher, estrelado por Richard Gere e Julia Roberts, o Beverly Wilshire tem uma história que vai além da fama pop. Aberto em 1928, quando Los Angeles tinha apenas 19 mil habitantes e o prédio era a construção mais alta da cidade, o hotel tem hoje 395 quartos e suítes divididos entre o edifício histórico e mais famoso, a ala Beverly, e o edifício atrás, de 1971, a ala Wilshire, onde quase todos os quartos têm varanda.

Entre os dois prédios fica a rua exclusiva que recebe confortavelmente os carros dos hóspedes, com vários manobristas. O café da manhã é servido no The Blvd, restaurante com uma varanda aberta e mesas ao ar livre com vista para a Rodeo Drive, que pode ser frequentado até por quem não esteja hospedado no hotel. Os destaques saudáveis do cardápio são os sucos, como o Anti-O Smoothie (leite de aveia, kale, mirtilo e linhaça) e o Cleansing Juice (pepino, aipo, maçã, kale e gengibre).

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