Dubai é prova de que, se é possível imaginar, é possível construir. Arranha-céus que tocam as nuvens. Luzes que ofuscam. Estradas que rasgam o deserto. Onde antes existia apenas areia, hoje se encontra um dos destinos mais excêntricos do planeta.

Trivial é uma palavra que não cabe no vocabulário de Dubai, onde tudo, absolutamente tudo, é superlativo. O maior shopping do mundo. O prédio mais alto do mundo. A piscina mais profunda… e por aí vai.

Até a década de 1960, toda a região ocupada hoje pelas sete cidades-estado dos Emirados Árabes Unidos era formada por vilarejos de beduínos e pescadores. Antigos habitantes que plantavam tâmaras, apanhavam pérolas e criavam camelos para sobreviver. A descoberta do petróleo, a abertura de portos, o desenvolvimento do comércio, o incentivo fiscal para a instalação de grandes empresas e, claro, um forte planejamento estratégico transformaram Dubai por completo. Em pouco mais de meio século, essa cidade se tornou uma conexão entre o Oriente e o Ocidente, consolidando-se como um dos maiores centros globais de investimento e um sonho de consumo para quem busca um destino de luxo.

Alexandre Suplicy

Quem chega por lá pela primeira vez, como nós, tem a sensação de que cada lugar visitado inspira uma reação de perplexidade. Como, em tão pouco tempo, Dubai se transformou no que é hoje? Graças à abertura da economia e à ambição de se projetar no mapa, sem depender apenas do petróleo, a cidade protagonizou o maior crescimento populacional do mundo nos últimos anos. E a multiculturalidade é um reflexo direto desse fenômeno. Foram os imigrantes que ajudaram a erguer Dubai.

Quase 90% da população é estrangeira. São pessoas de mais de 200 nacionalidades convivendo e trabalhando juntas.

Apesar de a língua oficial ser o árabe, o inglês é o ponto de encontro nessa verdadeira Torre de Babel. Tamanha diversidade talvez explique o ar internacional e a vibe cosmopolita que se respira por ali. Preciso confessar que, em alguns momentos, esqueci completamente que estava no Oriente Médio. Dubai é global, moderna, urbana. As vitrines exibem carros de luxo e as últimas coleções apresentadas pelos estilistas da haute couture. As maiores marcas mundiais estampam sua grife nas fachadas das lojas. Renomados chefs ostentam suas estrelas Michelin em restaurantes disputadíssimos.

Quando estamos em um prédio colossal como o Burj Khalifa — a construção mais alta já feita pelo homem —, com seus 163 andares habitáveis, e olhamos para baixo avistando distantes pontos de areia é que nos damos conta de que estamos realmente no deserto. Do alto, é possível compreender melhor a magnitude do que foi realizado em Dubai.

Adriana no 124º andar do Burj Khalifa, na torre de observação Alexandre Suplicy
Burj Khalifa, o edifício mais alto dos Emirados Árabes Alexandre Suplicy

Lá embaixo, um lago artificial atrai visitantes que se enfileiram a cada meia hora para assistir a uma das atrações mais conhecidas da cidade: o show das águas — uma coreografia ao ritmo da música enquanto jatos são jorrados a 150 metros de altura, o equivalente a um prédio de 45 andares. Em qualquer outro deserto, tanta água seria uma miragem. Não em Dubai, onde vontade e imaginação tornam tudo possível, até mesmo fabricar chuva artificial para refrescar os dias de muito calor.

Dubai não pensa pequeno. A poucos passos da Fonte Dançante fica uma das entradas do Dubai Mall. Com área de 1,1 milhão de metros quadrados, 1,2 mil lojas e 200 bandeiras de alimentação internacionais, é impossível percorrê-lo em apenas um dia. Dentro dele encontram-se uma Galeria Lafayette e uma Bloomingdale’s, além de um aquário de 10 milhões de litros de água, uma pista olímpica de patinação no gelo, uma Chinatown, um museu digital imersivo, 26 salas de cinema e uma das maiores lojas de doces do mundo. Surpreendentemente, o shopping vai ficar ainda maior. Planos ousados de expansão do complexo já estão em andamento.

Vista interior do Dubai Mall Alexandre Suplicy

O Dubai Frame é outro monumento que de longe já chama a atenção. No formato de moldura de quadro, ele foi idealizado para ser quase uma máquina do tempo. São duas torres de 150 metros de altura conectadas por uma ponte de 93 metros de largura. Cada face dessa moldura enquadra os melhores ângulos do Emirado, destacando a Dubai antiga, ao norte, e a moderna, ao sul. O museu conecta o passado e o futuro combinando efeitos tecnológicos e experiências sensoriais. A ideia é mesmo transportar os visitantes nessa linha do tempo.

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Por meio do The Frame, notamos que o velho deu lugar ao novo. Para ver o pouco que restou da cidade antiga é preciso ir ao ponto onde tudo começou. O Dubai Creek Harbour já foi o porto mais importante da região, onde atracavam os comerciantes da Índia e da antiga Pérsia trazendo suas mercadorias.

Dubai Creek é uma foz natural do Golfo Pérsico, um acidente geográfico que corta a cidade.

Uma das raras imagens que remetem a esse passado são os barquinhos de madeira, os Abra Boats. Porém, como Dubai respira modernidade e tecnologia, réplicas elétricas do modelo antigo já estão sendo produzidas em impressoras 3D. Em árabe, “abra” significa cruzar. Enquanto cruzamos, gaivotas parecem dançar no céu azul. Do outro lado do canal é possível visitar os famosos souks, os Mercados do Ouro e das Especiarias. “Preciso confessar que, em alguns momentos, esqueci completamente que estava no Oriente Médio. Dubai é global, moderna, urbana.”

Dubai Frame em perspectiva Alexandre Suplicy

AS DUNAS

Dubai é mesmo cheia de surpresas para quem quer fugir do óbvio. No horário marcado, o guia nos esperava na porta do hotel. Em pouco menos de uma hora de carro a paisagem foi ganhando outros tons. À nossa frente, um cenário deslumbrante. Chegamos ao Rub’al Khali, um dos maiores desertos do planeta, região conhecida como Quadrado Vazio que se estende por quatro países: Emirados Árabes, Omã, Iêmen e Arábia Saudita.

Nosso guia nos ajuda a amarrar o tradicional lenço beduíno: colorido para as mulheres e axadrezado em vermelho e branco para os homens. O keffiyeh protege cabeça e rosto do sol e da areia. Ali começava nossa aventura no deserto. Subimos em um charmoso Land Rover da década de 1950. Os carros vintage foram trazidos por militares ingleses e eram usados em expedições de exploração de petróleo. Enquanto o jipe corta o deserto, a luz do fim da tarde esquenta as cores da paisagem. Estamos diante de um espetáculo da natureza.

Adentramos numa área protegida, a Dubai Desert Conservation Reserve. No trajeto, avistamos diversos pássaros, gazelas, camelos e o órix árabe, uma espécie de antílope branco e de longos chifres. Considerado extinto nos anos 1970, esse animal foi salvo graças a programas de proteção e reintrodução ao seu habitat natural.

Os charmosos Land Rovers dos anos 1950 com o nascer da lua ao fundo Alexandre Suplicy
O lenço beduíno protege Adriana da areia e do sol Alexandre Suplicy

Também passamos por inúmeras ghafs, a árvore nacional dos Emirados Árabes. Capaz de suportar o calor e a aridez do deserto, tem raízes que podem chegar a 30 metros de profundidade para encontrar água. E ainda somos presenteados com uma demonstração de falcoaria antes de o sol se esconder no horizonte. A atividade inclui rasantes e a oportunidade única de segurar o falcão com a braçadeira e admirar de perto sua imponência.

Chegamos ao acampamento já de noite. Somos recebidos com shows de dança e com uma xícara do tradicional café árabe, além de um extenso cardápio de comidas típicas. Num cenário digno de filmes, nos acomodamos para contemplar a noite e aprender astronomia. Acima de nós, as mesmas estrelas que durante tantos séculos guiaram os povos nômades. Os árabes se tornaram mestres em interpretar as constelações; afinal, numa época sem smartphones nem GPS, o conhecimento astronômico era a única maneira de encontrar a direção certa na vastidão do deserto.

A lua ainda está alta quando o balão de ar quente começa a ser inflado.

As chamas iluminam a madrugada. Tomamos chá e comemos tâmaras enquanto esperamos o capitão, Andrew, checar a velocidade do vento e as condições climáticas para autorizar nosso voo. A subida no cesto tem de acontecer de forma quase que cronometrada. Acompanhar as coordenadas e a agilidade da equipe dispara nossa adrenalina. Aos poucos, o mar de areia vai se distanciando e o céu fica cada vez mais perto.

A total imprevisibilidade de estar flutuando a 1,2 mil metros do solo faz o coração bater acelerado. Olhar para a imensidão do deserto enquanto o sol começa a despontar e iluminar o novo dia é simplesmente arrebatador. Novas tonalidades são adicionadas ao céu, como se uma metamorfose acontecesse bem diante dos nossos olhos incrédulos. O silêncio só é interrompido pelo estrondoso maçarico do balão.

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Teresa Perez Collection

Pouco mais de uma hora depois, estamos de volta à terra firme. O pós-voo reserva uma recompensa à altura do nosso apetite depois de tanta emoção. Somos levados a um oásis, que mais lembra um cenário de Star Wars, com cabanas privativas e um café da manhã digno dos sheiks árabes.

A mesa cuidadosamente montada aguarda os ávidos visitantes. Inspirado na antiga filosofia grega dos quatro elementos, o menu criado pelo estrelado chef Michelin Claudio Filippone impressiona pela delicadeza e combinação de sabores. Tudo preparado com ingredientes locais.

Com pratos pensados para incorporar as distintas características de cada um dos elementos, terra, fogo, ar e água, o menu traz à mesa opções que vão de lagosta e caviar a batata-doce, frango grelhado e massa folhada com espuma de limão e bananas carameladas. Uma jornada que aguça os sentidos e alimenta não apenas o corpo mas também a alma e o espírito do viajante. O final perfeito para uma experiência indescritível. Como isso tudo é concebível no meio do deserto? Estamos em Dubai, lembra? Aqui, tudo é possível!

Onde Ficar

Atlantis The Royal

E por falar em construções colossais, seria impossível retratar Dubai sem mencionar Palm Jumeirah. Em formato de palmeira, essa é uma das maiores ilhas artificiais do mundo e uma das poucas obras feitas pelo homem que podem ser vistas do espaço. Aqui reside um outro ícone de Dubai: o Atlantis The Royal — que, sem nenhuma modéstia, se apresenta como o mais ultraluxuoso resort do mundo. Irmão mais novo e vizinho do consagrado The Palm, onde fica o maior parque aquático da atualidade, o The Royal atrai quem está em busca de experiências inigualáveis e total privacidade.

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