Na densidão da Floresta Amazônica, o Parque Nacional de Anavilhanas descortina um ecossistema singular. O arquipélago, segundo maior do mundo em extensão, forma um intrincado labirinto de canais sinuosos e mais de 400 ilhas intocadas no Rio Negro.

É nesse território ancestral, acessado a partir de Novo Airão (AM), que a Amazônia se revela em sua plenitude, e cada incursão pela selva se transforma em uma descoberta sensorial e profunda. As jornadas pela região acompanham o compasso do bioma. Entre dezembro e maio, o nível das águas sobe com força, impulsionado pelas chuvas e pelo degelo nos Andes. Nesse período de cheia, canoas de madeira, guiadas por caboclos ribeirinhos, deslizam por igapós (“raízes d’água” em tupi-guarani) e igarapés (“riachos”).

A cada curva, a paisagem revela surpresas: preguiças se equilibram entre galhos, macacos-caiararas cruzam as copas em movimentos ágeis e aves raras, como a arara-azul-de-lear e o papagaio-de-peito-roxo, colorem o céu. Já o passeio de lancha “voadeira” é o início do percurso para conhecer as milenares Grutas do Madadá, formações rochosas de arenito, com vestígios de inscrições rupestres, esculpidas ao longo de milhares de anos. A expedição também inclui caminhada por cerca de três horas (ida e volta), conduzida por moradores locais, que compartilham ensinamentos sobre plantas medicinais e técnicas de sobrevivência na selva.

Vista aérea do Arquipélago de Anavilhanas, em Novo Airão. Andre Dib

Quando as águas descem, a partir de junho, o roteiro segue para as praias temporárias de areias claras e finas que emergem durante a seca e permanecem até o início da cheia, convidando para um inesquecível banho nas águas escuras e quentes do Rio Negro. Trilhas guiadas pela floresta levam o visitante até a monumental samaúma, árvore sagrada para os povos originários e considerada uma das maiores espécies da Amazônia, com aproximadamente 40 metros.

A vivência se aprofunda com a visita a comunidades ribeirinhas, onde a partilha de histórias, saberes e modos de vida tradicionais lança luz sobre o pulsar da floresta. Os encontros valorizam o respeito e a escuta ativa, ampliando o olhar sobre a Amazônia como um território vivo e plural.

A rota até o Lago Camanaú, ao sul de Anavilhanas, reserva outro momento marcante: a oportunidade de interagir com os botos-cor-de-rosa e de alimentar o imponente pirarucu, o maior peixe de escamas de água doce do mundo. Ao cair da noite, experientes guias navegam com voadeiras à procura de animais de hábitos noturnos. É a chamada “focagem”, quando o breu da selva se rompe apenas pelo feixe das lanternas e pelos olhos dos jacarés que espreitam no escuro.

ESTILO E RESPEITO AMBIENTAL

É nessa Amazônia viva e indomada que se insere o Mirante do Gavião Amazon Lodge, em frente ao Parque de Anavilhanas, a cerca de 200 quilômetros de Manaus. Projetada pela arquiteta Patrícia O’Reilly, com técnicas e mão de obra locais, a propriedade oferece conforto e beleza sem desrespeitar o meio ambiente. Exemplo disso são os 13 bangalôs inspirados nos tradicionais barcos de madeira ribeirinhos, dispostos de forma invertida e sobre pilotis, permitindo que o hóspede viva a floresta sem invadi-la.

“Sustentabilidade, para nós, é integrar-se ao entorno e às comunidades, em um processo simbiótico. Trabalhamos com artesãos de comunidades indígenas, apoiamos três ONGs para geração de renda e reinvestimos o lucro em projetos socioambientais. Protegemos os rios, as praias, os lagos, a fauna. Isso é o que acredito ser verdadeiramente sustentável“, descreve o empresário Ruy Tone, fundador do hotel.

Artesanato típico: o trabalho feito com as mãos. iStock/Fellipe Abreu
Ruy Tone, fundador do Mirante do Gavião Amazon Lodge. Rudi Netto
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Teresa Perez Collection

A experiência amazônica se completa à mesa. Em Novo Airão, sua autenticidade pode ser comprovada em refeições nas casas dos ribeirinhos, mas também em restaurantes como o Camu-Camu, debruçado sobre o rio e a piscina do Mirante do Gavião, e o flutuante Flor do Luar. Ambos têm cardápio elaborado pela chef Debora Shornik, que transforma ingredientes nativos e receitas locais em pratos com toque de alta gastronomia.

Entre eles estão: o clássico pato no tucupi; o escondidinho com creme de cogumelos cultivados pela etnia Yanomami; e uma releitura do tradicional pirarucu de casaca nova, apelidado de “bacalhau da Amazônia”, servido com arroz de jambu, planta que provoca leve formigamento na boca.

Paulistana de origem e amazônida por escolha, Debora é uma voz ativa na valorização da cultura alimentar da Amazônia. “Busco resgatar tradições e ancestralidades. O propósito é claro: celebrar o que a floresta oferece e devolver a ela, em forma de respeito e reconhecimento”, expressa a chef, que também está à frente do restaurante Caxiri, em Manaus.

Mirante do Gavião Mirante do Gavião/Sitah

Sustentabilidade, para nós, é integrar-se ao entorno e às comunidades, em um processo simbiótico. Trabalhamos com artesãos de comunidades indígenas, apoiamos três ONGs para geração de renda e reinvestimos o lucro em projetos socioambientais. Protegemos os rios, as praias, os lagos, a fauna. Isso é o que acredito ser verdadeiramente sustentável.” Ruy Tone

O SOM DO SILÊNCIO

Afluente dos rios Negro e Madeira, o Rio Juma percorre uma das regiões mais preservadas e remotas da Floresta Amazônica, na região do município de Autazes (AM), a cerca de 100 quilômetros de Manaus. De águas escuras e silenciosas, ele desenha um cenário onde a mata se impõe em estado bruto.

A própria travessia até esse território já é parte da experiência: ela passa pelo célebre Encontro das Águas, onde o barroso e frio Rio Solimões corre, por quilômetros, ao lado do escuro e quente Rio Negro, sem que os dois se misturem. O fenômeno natural intriga os sentidos, e é possível sentir na pele a diferença de temperatura. Na chegada ao destino, caminhadas guiadas apresentam os segredos da floresta, com destaque para um raro cedro, de dimensões gigantescas.

Um casal de tucanos-de-papo-branco. Andre Dib

Os mais aventureiros podem escalar árvores gigantes, o que proporciona uma outra perspectiva da Amazônia. A região também é muito adequada para pesca de piranhas e observação de pássaros. Há ainda a possibilidade de visitar comunidades indígenas tradicionais e de pernoitar na mata: o visitante dorme em redes, embalado apenas pelos sons noturnos.

Às margens desse cenário encantado está o Juma Amazon Lodge, construído sobre palafitas, como se pairasse entre o rio e a floresta. Com 20 bangalôs, o hotel de selva propõe ao hóspede uma imersão serena e sensorial, em conexão apenas com a natureza e consigo mesmo. A experiência se completa em detalhes como a piscina flutuante, com água do próprio Rio Juma e protegida por uma rede, e a torre de observação de 31 metros, ponto estratégico para a contemplação do nascer do sol.

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