Em um país de dimensões continentais e de diversidade cultural tão exuberante como o Brasil, faz-se necessário reafirmar que a arte não é só mais um produto. Com uma seleção de museus e instituições que combinam acervo e arquitetura assinada, ou projetos que dialogam com o território, defendemos um movimento explícito da “arquitetura cultural brasileira” que expressa valores estéticos e simbólicos do Brasil moderno e contemporâneo.
Museu Oscar Niemeyer
Curitiba – Paraná
Em Curitiba, configura um marco da arquitetura brasileira, originalmente projetado por Oscar Niemeyer, em 1967, e adaptado, em 2002, para abrigar o museu — incorporando o icônico anexo conhecido como “olho”. A arquitetura de amplas superfícies, vãos livres e integração com o Bosque do Papa e o entorno urbano reflete o exato espírito do modernismo brasileiro, criando uma conexão fluida entre natureza e cidade.
Instituto Campana
Brotas – São Paulo
No interior do estado, onde São Paulo oscila entre Mata Atlântica e Cerrado, o Instituto Campana, fundado em 2009 pelos irmãos Humberto (1953) e Fernando Campana (1961- 2022), aborda arte, design, natureza e arquitetura. Em 2024, o Instituto inaugurou o Parque Campana, um “museu a céu aberto” construído nos 52 hectares do sítio, idealizado durante a pandemia de 2020 como um “micro-Inhotim”.
Museu de Arte de São Paulo (MASP)
Assinado por Lina Bo Bardi e inaugurado em 1968, na Avenida Paulista, é uma das mais importantes concretizações da arquitetura cultural brasileira. O prédio se destaca pelo vão livre de 74 metros: é sustentado por quatro pilares suportados por lajes protendidas que criam uma praça sob a estrutura que “flutua”, conectando arte, sociedade e espaço público.
Museu do Amanhã
Rio de Janeiro
Projetado por Santiago Calatrava e inaugurado em 2015 no Píer Mauá como parte do projeto Porto Maravilha, é um ícone de revitalização urbana e de identidade cultural contemporânea. Sua arquitetura, inspirada na natureza carioca, como as bromélias do Jardim Botânico, integra grandes consoles metálicos, espelhos d’água e vistas para a Baía de Guanabara, além de soluções sustentáveis, como painéis solares móveis e o reúso da água da própria baía para climatização.
Museu Brasileiro da Escultura (MuBE)
São Paulo
Projetado por Paulo Mendes da Rocha e inaugurado em 1995, no bairro Jardim Europa, sugere uma visão inovadora do espaço museológico: em vez de ser um edifício tradicional, integra-se ao terreno, à praça e ao tecido urbano, dissolvendo fronteiras, com grandes lajes de concreto aparentes, plataformas parcialmente subterrâneas e um pátio externo concebido como praça pública.
Fundação Iberê Camargo
Porto Alegre – Rio Grande do Sul
Às margens do Lago Guaíba, a Fundação promove uma sinergia singular entre paisagem, arte e arquitetura contemporânea. Projetado por Álvaro Siza Vieira — seu primeiro projeto construído no Brasil — e inaugurado em 2008, o edifício se destaca por volumes brancos, paredes curvas, rampas sinuosas e aberturas que enquadram o corpo hídrico.
Museu Nacional da República
Brasília – Distrito Federal
Cravado no Eixo Monumental de Brasília, parte do Complexo Cultural da República, ao lado da Biblioteca Nacional, foi projetado por Oscar Niemeyer e inaugurado em 2006. É expressão máxima do modernismo tupinambá. A cúpula branca semiesférica, as rampas curvas externas e o amplo espaço interno para exposições são marcas registradas da arquitetura de Niemeyer.
Instituto Terra Sebastião Salgado
Aimorés – Minas Gerais
Situado no Vale do Rio Doce (Minas Gerais), foi fundado em 1998 pelo fotógrafo Sebastião Salgado e sua esposa, a arquiteta Lélia Wanick Salgado, na Fazenda Bulcão. A arquitetura, projetada pela Loci (Geraldo Benício, Henrique F. Pereira e Daniela T. Diniz), tem estruturas vernaculares preservadas, integradas a um jardim projetado por Lélia, viveiros-escola, trilhas contemplativas, teatro de arena e cine-teatro. Nascido do desejo de transformar uma área degradada pela pecuária (com menos de 1% de cobertura florestal remanescente) em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), o instituto já plantou mais de 3 milhões de mudas nativas da Mata Atlântica em 709 hectares.
Museu da Fotografia
Fortaleza – Ceará
Inaugurado em 2017 no bairro Varjota, assume uma posição singular como o primeiro museu do Brasil dedicado exclusivamente à fotografia. Com um acervo de mais de 2,5 mil obras, incluindo imagens de Henri Cartier-Bresson, Marcel Gautherot e do cearense Chico Albuquerque, documenta a cultura popular e contemporânea do Nordeste. Projetado pelo escritório Marcus Novais Arquitetura (2014-2017), o museu resulta da reforma de um casarão comercial, adaptado ao clima quente de Fortaleza com brises metálicos, vãos amplos para ventilação natural e um jardim interno.
Museu de Arte Popular da Paraíba
Campina Grande
Às margens do Açude Velho, é conhecido como Museu dos Três Pandeiros. Projetado por Oscar Niemeyer em 2007, como parte do Complexo Cultural José Marques, foi inaugurado em 2014. Com um acervo que celebra a arte popular nordestina, o MAPP canaliza a identidade regional por meio de três cúpulas brancas interligadas, inspiradas na forma do pandeiro, com curvas suaves e brises que filtram a luz do sertão, adaptando-se ao clima quente e seco de Campina Grande.
Instituto Moreira Salles (IMS Paulista)
São Paulo
Na Avenida Paulista, projetado pelo escritório Andrade Morettin Arquitetos e inaugurado em 2017, o IMS foi concebido como um museu vertical. Tem fachada de vidro que revela as atividades internas e estabelece um diálogo direto com a paisagem urbana. Além disso, o térreo é elevado, parcialmente aberto para a calçada. A estrutura racional, os planos verticais e o rigor dos volumes enaltecem a tradição modernista brasileira — porém, adaptada aos novos tempos.

























