O Peru sempre esteve nos nossos planos de viagem; porém, desde o início queríamos fugir do óbvio. Resolvemos então seguir um roteiro que tem despontado como tendência internacional e encantado viajantes de diversos cantos do mundo.

Nossa primeira parada foi em Arequipa. A segunda maior cidade do do Peru, é rodeada de vulcões. E, por sua história, é imprescindível. Os primeiros habitantes do lugar foram os índios aimarás; o Império Inca se estabeleceu depois. Mas Arequipa se desenvolveu mesmo e ganhou status de cidade com a presença dos conquistadores espanhóis, a partir de 1540. A influência europeia é evidente: na culinária, na religião, na língua e na música; e a mescla com as tradições nativas resulta num interessante tempero.

Não é à toa que Arequipa foi considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco. O impacto inicial que tivemos foi na chegada ao Cirqa, instalado num antigo Monastério, de 1583, bem no coração colonial da cidade, numa rua estreita de paralelepípedos. Quando a porta do hotel se abriu, foi como se estivéssemos retornando a um tempo que só conhecíamos pelos filmes. Longos corredores, arcos, pé direito alto, arquitetura delicadamente restaurada e parte da construção original ainda preservada. O local é intrigante e emblemático. Um calabouço que servia de passagem secreta para a Igreja de Sanc Augustin ainda está intacto. O Cirqa é o único hotel de alto padrão da região e exibe o desejado selo Relais & Châteaux. São apenas 11 quartos, nenhum igual ao outro, e todos guarnecidos de objetos e tecidos artesanais. Um mergulho no passado e no presente de Arequipa.

Cirqa: Relais & Châteaux de atmosfera intimista Alexandre Suplicy

Depois de relaxar um pouco, tomar um drinque no exclusivo bar do rooftop e observar os vulcões ao fundo, estávamos prontos para explorar a cidade. Fomos conhecer a Plaza de Armas, com jardins do século 18 e edificações ainda da época colonial. Ali fica também a imponente Catedral de Arequipa, que abriga o maior órgão musical, não só do Peru, como da América do Sul. Do lado oposto está a Iglesia de la Compania. Em todo o entorno há diversas lojinhas, galerias, bares e cafés. Vale se perder por essas ruas e aproveitar para apreciar o artesanato andino e comprar malhas de vicunha e alpaca.

A Catedral de Arequipa iStock

Um passeio encantador é a visita ao Monastério de Santa Catalina, um convento do século 16 que recebia as filhas dos nobres da cidade. O complexo tem 20 mil metros quadrados e é um verdadeiro labirinto de ruas, claustros, jardins e capelas, além do confessionário. Tão fascinante quanto olhar ao redor do Centro Histórico é olhar para o alto! De qualquer ponto você avistará os guardiões de Arequipa: os vulcões Pichu Pichu, Chachani e El Misti, este último ainda ativo. E é por causa deles que o apelido Ciudad Blanca ganhou fama, afinal foi a partir de erupções vulcânicas, há milhões de anos, que se formaram os sillares, as pedras utilizadas nos muros e paredes de quase toda a cidade. A pedra vulcânica é tão significativa para essa região no Peru, que existe até a Rota do Sillar, na qual é possível observar os “mestres” esculpindo as pedras. O ofício, totalmente manual, é passado de pai para filho há cerca de 500 anos. O ponto alto do passeio é o Cânion de Culebrillas, onde caminhamos por um desfiladeiro sinuoso e estreito, protegido por paredões de 20 metros de altura. Uma experiência comparável ao Anthelope Canyon, no Deserto de Nevada, nos Estados Unidos.

A caminhada abre o apetite. E se tem algo que deixa os arequipenhos felizes da vida é ver um estrangeiro faminto se deliciar com os sabores típicos. O restaurante do hotel Cirqa tem a assinatura da chef Maria Fé Garcia, que faz questão de dar protagonismo à produção regional, desde diferentes tipos de milhos e favas plantados nas redondezas até peixes e frutos do mar que vêm diretamente da costa. Ingredientes simples, muito afeto e uma pitada de alta gastronomia do Peru.

Plaza de Armas com seus jardins centenários. Alexandre Suplicy

LAGO SAGRADO

Com o coração cheio e o estômago feliz, seguimos de Arequipa para Puno. Uma travessia de carro por uma estrada cênica. No caminho ainda avistamos vicunhas, alpacas e lhamas, conhecidas como os camelos dos Andes.

Chegamos à beira do Lago Titicaca a tempo de testemunhar um pôr do sol de cores intensas e brilho prateado. Foi mais um presente que ganhamos da natureza peruana. Grandioso não apenas no tamanho mas também no significado, o Titicaca é o berço da civilização Inca. Uma beleza sagrada, como diversas lendas que rondam o Peru.

Hotel Titilaka: vistas para o lago Alexandre Suplicy
Portal Aramu Muru, um ponto místico na região do Hotel Titilaka Alexandre Suplicy

Ficamos numa península particular, com vista privilegiada do lago navegável mais alto do mundo. O Titicaca se esparrama entre duas cordilheiras a 3.812 metros acima do nível do mar. O Hotel Titilaka foi projetado para escancarar toda essa exuberância. As portas de vidro do teto ao chão servem de moldura para a paisagem lá fora. Os 18 quartos têm vista para o Lago e a decoração traz o calor dos elementos típicos. A equipe, por sua vez, está sempre atenta aos detalhes, como preparar um banho de banheira especial ou aquecer a cama enquanto jantamos. Ficar no quarto é tentador, mas queríamos aproveitar ao máximo essa natureza espetacular. O hotel tem uma programação intensa: passeios de bicicleta, hiking, rafting, observação de estrelas, de aves, visitação aruínas arqueológicas, excursões por terra e também de barco.

Ilha de Taquile vista do alto, um patrimônio cultural peruano Alexandre Suplicy

Os guias do Titilaka nos levaram para conhecer o lago da melhor forma: navegando. A primeira parada da embarcação exclusiva dos hóspedes foi em uma das ilhas habitadas pelos Uros. Dizem que os primeiros integrantes dessa etnia chegaram há 3,7 mil anos, fugindo da escravidão e, por segurança, se instalaram em ilhas flutuantes, que podem ser consideradas uma obra-prima da engenharia ancestral. Um emaranhado de plantas aquáticas – a totora – forma casas, barcos e a base dessa ilha artificial. Seguimos para outra Ilha: Taquile, essa sim em terra bem firme. A ilha já foi lar do Império Inca e uma prisão no estilo Alcatraz, durante a colonização espanhola. Aqui as tradições dos povos nativos são levadas a sério, como roupas que carregam importantes simbologias, danças festivas, horticultura e um código moral severo. Na praça central, tecelãs de rostos marcados e mãos hábeis hipnotizam os observadores com o vaivém dos fios coloridos. E foi a arte do tear que deu à Ilha de Taquile o título de Patrimônio Oral Imaterial da Humanidade, concedido pela Unesco.

Habitante de uma das Ilhas de Urus moendo grãos de milho Alexandre Suplicy

Conservar toda essa riqueza cultural do Peru faz parte do propósito do Hotel Titilaka, que tem no staff, na sua maioria, moradores da comunidade. Investir na mão de obra local é apenas uma das formas de apoiar os diversos grupos étnicos que vivem no entorno e dentro do Lago Titicaca. Além disso, o que vem da terra e das águas desse lago alimenta o menu do lodge. A chef Maria Fé Garcia, formada no Le Cordon Bleu de Lima, conta que se inspirou no brilho quase lunar e na imensidão do lago. Seus pratos, assim como o Titicaca, transbordam autenticidade e despertam a curiosidade.

Conservar toda essa riqueza cultural andina faz parte do propósito do Hotel Titilaka, que tem no staff, na sua maioria, moradores da comunidade. Investir na mão de obra local é apenas uma das formas de apoiar os diversos grupos étnicos que vivem no entorno e dentro do Lago Titicaca. Além disso, o que vem da terra e das águas desse lago alimenta o menu do lodge. A chef Maria Fé Garcia, formada no Le Cordon Bleu de Lima, conta que se inspirou no brilho quase lunar e na imensidão do lago. Seus pratos, assim como o Titicaca, transbordam autenticidade e despertam a curiosidade.

(Matéria publicada originalmente na edição 108 da The Traveller)

TERESA PEREZ INDICA

Reserve com a Teresa Perez

Onde Ficar

Cirqa, Arequipa

Relais & Châteaux de atmosfera intimista, com apenas 11 acomodações decoradas individualmente, o Cirqa é o único hotel de alto padrão da região. Instalado na parte central de Arequipa, o hotel tem como ponto central um lounge-pátio, com sofás, fogueiras e peles de alpaca, onde são servidos coquetéis e refeições ao ar livre. O cardápio de atividades inclui excursões guiadas que revelam os marcos culturais da cidade colonial e as experiências naturais da área, como os vulcões, vicunhas e salares do Parque Nacional Aguada Blanca.

Hotel Titilaka, Puno

A mais de 3 mil metros acima do nível do mar, a paisagem serve de cenário para o premiado Hotel Titilaka e sua decoração minimalista, que alia a sofisticação às belas vistas do lago. Um clima de tranquilidade e contemplação propicia experiências inesquecíveis, como passeio às ilhas flutuantes de Uros e contato com os artesãos locais, famosos por utilizar técnicas ancestrais na confecção do seu trabalho. Uma verdadeira imersão nos costumes mais tradicionais do povo peruano.

    Voltar ao Topo