A gente ama um desfile de moda e do final de agosto ao comecinho de outubro acontecem as apresentações de prêt à porter do próximo verão no hemisfério norte.

A gente ama não só desfile, mas roupa, loja, novidades. . . mas temos uma questão: hoje, sabemos que todas as indústrias de bens de consumo, e suas manifestações, por mais incríveis, encantadoras, espetaculares que sejam, estão sob escrutínio. Desejo é gerado pela beleza e pelas novidades da moda, mas é igualmente importante que as grifes incentivem o uso da tecnologia para causar menos impacto ao planeta.

Ser sustentável, afinal, nada mais é do que ser bem educado. Educado, e amoroso, consigo mesmo, com o planeta, com o vizinho, com as futuras gerações. Viajar e comprar são palavras que rimam perfeitamente, sendo assim vamos atualizar as regrinhas: comprar certo, mais do que comprar volume, é uma maneira que temos de mostrar ao mundo que somos bem educados. Sabe porque? Roupa que nunca sai do armário é energia parada. Mesmo. Ela levou embora criatividade, solo fértil, matéria prima, tempo, água e… é inútil! Por isso, a primeira dica básica para ser sustentável e fashion é: invista no seu estilo, se autoconheça, diminua os erros ao comprar, leve só o que for a sua cara e use muito.

REALIDADE NAS PASSARELAS

Nos últimos anos, quem acompanha desfiles – compradores, jornalistas, influencers e fashionistas – observa tendências em tecido, cor, modelagem, e também espera ver exemplos concretos de que as grifes estão comprometidas com a inovação real. Cresce cada vez mais o grupo de pessoas preocupadas em fazer a coisa certa, e que olham para a passarela em busca de looks lindos e atitudes sustentáveis. Estamos todos ansiosos por novidades que sejam soluções: tecidos reciclados, orgânicos, second-hand, feitos a mão, feitos de “couro” de plantas ou de fungos, como os usados por Stella McCartney e por marcas como Loewe, que na última coleção trouxe peças com Beleaf, um “couro” vegetal de uma folha brasileira produzido pela empresa fluminense Nova Kaeru. Tem também o nylon reciclado Econyl usado pela Prada. Iniciativas existem, torcemos para que elas sejam suficientes para resolver ou amenizar a crise climática que nos assombra. E assombra os desfiles – este momento planetário é tema de diversas apresentações, como os desfiles recentes de Balenciaga e Margiela.

Bolsa feita de "couro" de fungos Unsplash/Gbenga Onalaja – Stella MacCartney/Divulgação

A Gucci, e outras marcas do grupo Kering, diz ter abolido o uso de peles verdadeiras de animais. Eles ainda usam couro de animal e, inclusive, são donos de vários curtumes da Europa. O maior grupo de luxo do mundo, a LVMH, rastreia a origem de seus couros e peles e, com isso, diz garantir padrões de bem-estar animal. Até 2025, a LVMH promete oferecer total transparência da cadeia de valor de seus itens de origem animal e reduzir um pouco mais o impacto ambiental durante o processo de produção desses itens.

Para chamar um item de sustentável, o certo mesmo seria abolir o uso desse tipo de material e a crueldade com os animais. A criação de bichos para alimentação e para vestuário é atividade pesadíssima e insustentável, só se iguala à energia fóssil. Já a Burberry é uma das grandes que se alinhou com a Ellen McCarthur Foundation para cumprir a lista de tarefas do acordo New Plastics Economy.

CROSS ENTRE MODA E CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

Quando falamos na relação da sustentabilidade ambiental com a moda, temos que saber que:

  1. A solução depende de quem pode mudar o sistema, ou seja, executivos, empresas e governos;
  2. Todos têm de agir juntos e com multidisciplinaridade para resolver a crise climática da melhor e mais rápida maneira possível;
  3. Nós consumidores devemos fazer boas escolhas e optar por produtos limpos, “clean label”.
Made in Brazil: beLEAF, “couro” vegetal, 100% orgânico e vegano, produzido pela empresa brasileira Nova Kaeru Nova Kaeru/Divulgação
iStock/tdub303
iStock/BlackSalmon

Em pactos mundiais firmados nos últimos anos, algumas das maiores empresas de moda do planeta como Zara, Kering, CeA, HM, entraram em acordo e decidiram que as ações mais imediatas que a indústria da moda precisa tomar são:

  1. Investir para reinventar a parte invisível da moda, ou seja, o agro, as fazendas, o solo, a produção das matérias primas deve ser o mais limpa possível;
  2. Incentivar a criação de novos materiais por meio da biotecnologia, caso dos novos “couros”, da seda de laranja já usada pela Ferragamo, da seda de aranha, que é mais forte que a do bicho da seda e nenhuma aranha é morta;
  3. Fim imediato do plástico de um uso só, como nas embalagens;
  4. Manter os oceanos com funcionalidade, eliminando produtos químicos tóxicos e evitando contaminação das águas em toda a cadeia de produção;
  5. Rastreabilidade total da cadeia de suprimentos, “do solo ao closet”, com o uso do blockchain como ferramenta para evitar trabalho escravo e levar transparência para o consumidor;
  6. Investir na educação da nova geração de designers para que estes aprendam a trabalhar na circularidade.

Estar na moda atualmente é curtir o movimento, se informar, buscar conhecimento, escolher bem. Os conceitos foram atualizados: uma pessoa fashion, chique mesmo, não delega a sua identidade para qualquer objeto. O que você escolhe vestir é um pouco do que você é.

Sustentabilidade: o termo, usado pela primeira vez no livro “Silent Spring”, de Rachel Carson, da década de 60, ganhou força na década de 90 e hoje é protagonista da cena toda. Não está usando fingir que a crise climática não existe. Tudo é uma questão de oportunidade e escolha. Faça a sua, leia, se informe, abra a mente e o coração e vamos em frente. Última diquinha antes de ir: livrinho perfeito para ler durante a viagem, rápido e muito útil “Como mudar tudo: um guia para jovens que querem proteger o planeta e uns aos outros”. De forma leve, a premiada autora Naomi Klein, mostra as transformações que afetam nosso planeta com ideias, inspirações e ferramentas para agirmos.

Coleção verão 2024 de Julia Leifert Julia Leifert/Lotte Thor

NOVAS SEMANAS DE MODA SUSTENTÁVEIS

As semanas de moda alternativas ganham força. A pioneira Copenhagen Fashion Week desde 2018 introduziu diretrizes rígidas para as marcas participantes, que devem cumprir 18 requerimentos antes de serem aceitas no line up. Entre os destaques recentes estão a sensação Ganni, a ucraniana Division, que faz um tricô incrível e a The Garment, criada por mulheres que acreditam em roupas minimalistas e muito chiques.

Já a Berlin Fashion Week tem o Berliner Salon, espaço especial para marcas responsáveis que buscam soluções para a indústria da moda. Fique de olho em Julia Leifert para uma moda ética e elegante. A Amsterdam Fashion Week incentiva a economia circular e dá destaque para designers que trabalham técnicas de upcycling e materiais eco. Entre as favoritas do momento, Façon Jacmin: duas irmãs belgas que desfilam em Amsterdam fazem os melhores itens em jeans.

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