Em agosto de 2023, a TikToker Mady Maio revelou o conselho da sua nutricionista para que trocasse os exercícios aeróbicos puxados por caminhadas de 30 minutos. Em silêncio.
Daí para a trend #silentwalk tomar conta do app mais popular do mundo nos meses seguintes foi um pulo. Muitos talvez nem se lembrem – dependendo da geração, talvez nem mesmo saibam – como era a vida antes de a tecnologia invasiva e os smartphones nos tornarem seres hiperconectados. Se você vive em grandes cidades, tenho certeza de que já parou para pensar em como tudo ao nosso redor é barulhento. Pesquisas apontam que os estímulos sensoriais excessivos são um fator importante na queda da qualidade de vida em grandes centros urbanos.
Silent travel
Dar alguns passos atrás rumo a um jeito de viajar que inclua ambientes serenos e intenso contato com a natureza, reduzindo o uso da tecnologia na maioria do tempo, se mostra como uma bem-vinda tendência de criar momentos de fuga. Um oásis em tempos modernos, quase uma rebelião silenciosa contra o barulho que nos cerca, abrindo caminho para um mundo mais calmo. A escolha de destinos tidos como remotos pode ser encarada como uma jornada ao nosso eu profundo, com foco – nem que seja por um tempo limitado – em nós mesmos. O “aqui e agora”, portanto, ganha protagonismo.
Diversos estudos apontam que a quietude das viagens silenciosas cria um espaço ideal para introspecção e autodescoberta, permitindo que os viajantes se envolvam em práticas de atenção plena e mergulhem em conexões mais profundas consigo mesmos e com seu entorno. Cenários perfeitos para atividades como meditação e caminhadas pela natureza ou simplesmente para absorver um silêncio que não é apenas a ausência de ruídos – é uma presença tangível, que nos envolve convidando à introspecção e à paz. O “silêncio” em questão não é algo radical como passar dias ou até semanas em retiros, tampouco é uma sala silenciosa; é, na verdade, jogar-se rumo ao encontro com a natureza, longe da vida da cidade. Viajantes silenciosos são aqueles que tentam se reconectar consigo mesmos e com o mundo. Os benefícios, dizem, são muitos, com impactos positivos no bem-estar em geral.
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Imagine um mundo em que a tranquilidade tenha privilégio sobre o caos e a quietude se torne seu companheiro mais próximo. Parece sedutor. Recentemente, virou moda um movimento intitulado “dumbphones”: uma comunidade digital com mais de 30 mil seguidores, comandada pelo norte- americano Jose Briones, que reúne pessoas cansadas de passar o dia conectadas em smartphones e propõe um desapego ao excesso de informação. Algo como voltar ao seu velho aparelho celular que, no máximo, conseguia receber ligações. Nada de infinitos apps ou de notificações invasivas fulltime.
Onde estar no aqui e agora
É verdade que experiências de viagem autênticas e significativas podem ser obtidas por meio de coisas simples, em lugares muito próximos. Mas descobrir destinos que proporcionem profunda tranquilidade e uma mistura única de calma e beleza é um plus interessante.
Os cenários naturais fantásticos da Noruega são um exemplo. A região dos fiordes é especialmente inspiradora – o mais famoso da nação nórdica é o Fiorde de Geiranger, cenário que se estende entre montanhas verdejantes sobre as quais escorrem belas cachoeiras e pode ser visto em passeios de barco, revelando pelo caminho, sem grandes interferências sonoras, paisagens surpreendentemente calmas. Há muitas outras opções de passeios que nos colocam frente a frente com monumentos incríveis da natureza, como a formação rochosa de Trolltunga, o platô rochoso Preikestolen, suspenso mais de 600 metros acima do Fiorde Lyse, ou a trilha pela área montanhosa de Romsdalseggen, considerada a mais linda de todo o país.
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O poético Alentejo, entre o Rio Tejo e o Algarve no centro-sul de Portugal, mantém uma ligação verdadeira com o que vem da terra, com atmosfera bucólica e natureza intocada. Lá, cidades e vilas medievais, consideradas Patrimônio da Humanidade, revelam que a ancestralidade segue preservada. O ritmo tranquilo da região contribui – e muito – para jornadas cheias de significados.
Pouquíssimos lugares no planeta nos trazem a sensação de plenitude e comunhão com a natureza quanto a Antártica. Visitar o Continente Branco é como desembarcar em um mundo diferente, que se abre para viajantes que buscam aquilo que poucos já vivenciaram. Não faz muito tempo que conhecer a Antártica era sinônimo de visitar apenas uma parte da costa do Continente Branco nos desembarques de um navio. Essa realidade mudou. Há novas possibilidades de viagens, totalmente inovadoras. Por meio de voos privativos que partem da Cidade do Cabo e pousam diretamente no meio do continente, os viajantes agora podem conhecer uma região pouquíssimo explorada da Antártica (e do mundo). A experiência é de total imersão, com camps instalados diretamente sobre o gelo. As atividades incluem pedaladas na neve, visita a Atka Bay para observação de colônia de pinguins-imperadores, caminhada pelos túneis de gelo e escaladas.
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Versão brasileira
O Brasil também é pródigo em destinos que sugerem essa possibilidade de escapar da agitação frenética e dos barulhos das grandes cidades. A Chapada Diamantina, região serrana no centro da Bahia, é daqueles lugares que não cabem em uma mesma viagem. Só no Parque Nacional da Chapada Diamantina são mais de 30 cachoeiras e 280 quilômetros de trilhas. Mas muito além do Morro do Pai Inácio e da Lagoa Azul, dois dos atrativos mais populares do destino, existe uma chapada sem pressa que vai se mostrando aos poucos, em trilhas que costumam começar em áreas urbanas de pequenas cidades. Ao longo dos dias de exploração, ícones naturais passam diante dos olhos, como o Vale do Capão, conheci do pela Fumaça, uma das maiores cachoeiras do Brasil. Sons mesmo, só os da natureza imponente.
Hit recente do turismo brasileiro, os Lençóis Maranhenses ganham protagonismo com sua originalidade cênica. A ação da natureza nunca foi tão precisa. Imensidões de areia fazem o lugar parecer um deserto, mas só parecer. A região é banhada por rios cujas águas evaporam e ajudam a fazer chover de janeiro a junho, formando lagoas cristalinas entremeadas por sinuosas dunas de areias brancas que escorregam por uma longa faixa no litoral. E assim, há mais de 10 mil anos, o vento se encarrega de moldar e desenhar uma das paisagens mais estonteantes do Nordeste brasileiro.
Desert escapes
Se a ideia, durante a viagem, for passar um tempo em silêncio para se sentir mais confortável com os pensamentos e sentimentos, ou criar um estímulo à criatividade ou, ainda, aprofundar a relação consigo buscando encontrar refúgio de tranquilidade por alguns instantes, os desertos do mundo são os lugares perfeitos.
Na América do Sul, a 3,5 mil metros de altitude encontramos um deserto de sal, que lembra o boliviano Salar do Uyuni, só que em escala menor. Salinas Grande, na Argentina, originou-se de lagos de águas salgadas num processo de evaporação que durou cerca de 5 milhões de anos, restando a camada de sal com 30 centímetros de espessura que vemos hoje e forma a superfície plana de um branco a perder de vista. Por lá, há glampings que proporcionam uma sensação de refúgio longe da civilização para onde quer que se olhe.
Misto de ilusão de ótica e imprevisto geológico, o Salar de Uyuni, no sudoeste da Bolívia, não perde sua aura surreal que fascina viajantes há gerações. Uma vez lá é muito fácil entender os motivos de tal fascínio. A 3.653 metros de altitude, em plena Cordilheira dos Andes, o platô de 12 mil quilômetros quadrados é hoje o maior e mais famoso deserto de sal do mundo. Em uma travessia do Deserto do Atacama até o Salar, não faltarão belíssimos lagos – muitos com flamingos endêmicos –, como a Laguna Cañapas, Hedionda e Colorada. Pelo caminho, emoldurando os melhores cliques, alguns vulcões como o Thunupa (5.321 m) e o majestoso Licancabur (5.920 m), já na fronteira com o Chile.
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Ponto de partida para essa travessia, mas destino que se basta sem extensões, o Deserto do Atacama tem cenários que se anunciam de forma dramática por meio de vulcões, lagoas altiplânicas e gêiseres, em um espetáculo de cores e luzes que expressam toda a força da natureza. Abolindo a ideia de que desertos são porções de terra esquecidas e sem vida, belíssimos oásis surgem às margens dos rios que cortam a aridez da terra servindo de lar para ricas fauna e flora, além de tradições e cultura milenares. É possível explorar o território do Atacama a pé, pelas muitas trilhas existentes com dezenas de atividades e experiências diferentes, ou até mesmo pelo alto, em sobrevoos de balão de ar quente. Em terra ou pelo ar, o que os olhos veem são cenas explícitas de arrebatamento com paisagens preciosas e alucinantes.
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Nos Estados Unidos, a região do Deserto de Utah surpreende pela grandiosidade. Tomado por uma imensidão desértica, formada por inúmeros cânions em tons vermelhos por causa do arenito, o local tem atrativos diversos: dos parques nacionais, com destaque para o de Zion e o Bryce Canyon, às montanhas no condado de Wasatch, além de cidades como Salt Lake City e Park City.
Sempre lembrado como um dos destinos mais fascinantes do planeta, o Marrocos não economiza em experiências surpreendentes, que vão muito além do efervescente emaranhado das medinas medievais de Marrakech. Uma das alternativas ao Saara é o Deserto de Agafay, um lugar de paisagens rochosas a apenas uma hora de carro de Marrakech. A imensidão do Saara se abre em Ouarzazate e continua deserto afora entre infinitas porções de dunas.
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