Laos, Vietnã, Camboja e Tailândia compõem um destino fascinante para viajantes atraídos pela beleza da diversidade cultural e por experiências que são um exercício de bem-viver

A Indochina não existe. Ou melhor, já existiu, com nome e sobrenome, quando a chamada Indochina Francesa era a porção do Sudeste Asiático colonizada pelos franceses, entre fins do século 19 e meados do século 20. Até pouco mais de 60 anos atrás, ela era compreendida pelas lindas montanhas, rios e templos do que atualmente chamamos de Vietnã, Laos e Camboja – assim como partes dos vizinhos Tailândia e Myanmar, segundo alguns autores.

O tempo passou, aquele pedaço do planeta superou episódios traumáticos como a Guerra do Vietnã, e a antiga Indochina se tornou um território fascinante para viajantes atraídos pela beleza da diversidade cultural. Aqui, baguetes abrem o menu para os saborosos pratos asiáticos, e há cafeterias em cada esquina para se observar o ir e vir de pessoas, barcos, bicicletas – e da vida. A seguir, algumas dessas experiências que fazem a jornada pelos países da Indochina serem um exercício de bem-viver.

O por do Sol colorido de Halong Bay Victor Affaro

TEMPOS DE PAZ NO VIETNÃ

A visão panorâmica que se expandia no horizonte quando eu abria os olhos era de arrepiar. Uma série de ilhotas de pedra despontavam da superfície de Halong Bay, uma baía de 1.600 ilhas nas águas esverdeadas do Golfo de Tonkin, no Norte do Vietnã. Eu estava ali, inspirando e expirando, volta e meia de olhos fechados, seguindo as instruções do mestre de tai chi chuan que orientava o pequeno grupo de passageiros. Assim como naquele deque do navio que deslizava pela baía, essa arte marcial milenar pode ser presenciada em todo o Vietnã – em parques, pontes e casas, como notei ao viajar pelo país.

A lembrança da brisa da manhã naquela paisagem deslumbrante virou um símbolo da paz que vive o Vietnã hoje. A doçura do povo vietnamita faz ser difícil acreditar que se passaram apenas quatro décadas depois do fim de uma guerra que tanto castigou o país. É verdade que a quatro horas de Halong Bay, em Hanói, o enxame de bicicletas, motos e tuk-tuks não são exatamente a tradução do sossego.

Rua em Hoi An, onde carros não circulam no centro antigo Victor Affaro

Tudo melhora quando a gente aprende a atravessar aquelas ruas malucas. “Simplesmente olhe para a frente e cruze com calma, pois aqui os motoristas é que desviam”, me ensinou um novo amigo vietnamita, Dinh Minh, enquanto bebíamos o típico café com leite condensado sentados nos bancos baixos (parecem de criança!) de uma cafeteria. E não é que atravessar a rua assim parece dar certo? Caminhei um bocado visitando templos seculares e os prédios com traços coloniais de ares parisienses de Hanói, além de museus que narram o duro passado recente. A capital nacional tem muitos, muitos restaurantes incríveis. A outra grande cidade do país, Ho Chi Minh City, antiga Saigon, também capricha na gastronomia, mas mira o futuro com arranha-céus e urbanidade cosmopolita.

Longe do zum-zum-zum das duas metrópoles, e a meio caminho entre elas, descansa Hoi An, minha cidade vietnamita favorita. Porto importante do Sudeste Asiático entre os séculos 15 e 19, ela brilha hoje como uma bem-preservada sucessão de casarões históricos que ladeiam ruas de paralelepípedo decoradas por lanternas coloridas. O entardecer no centro da Old Town, a Cidade Antiga, onde carros não podem circular, é pura poesia. Cafeterias, restaurantes, galerias de arte e lojinhas charmosas enchem-se de cor e luz. E quando a noite cai, dezenas de pessoas soltam na correnteza no Rio Thu Bom, que corta Hoi An, velas acesas em barcos de papel coloridos. Cada flutuante efêmero daqueles encaminha um desejo a Buda, segundo a crença do pacífico povo vietnamita.

Plantação de arroz nas Montanhas de Sapa – cenário típico do Vietnã Victor Affaro
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LAOS E O RITUAL DOS MONGES EM LUANG PRABANG

Era pouco mais de 5h30 da manhã quando a fileira de vinte monges vestidos de laranja se alinhou na esquina de uma das ruas centrais de Luang Prabang, no Laos. Eu havia acordado de madrugada para observar, discretamente, do outro lado da calçada, a chamada Ronda das Almas. Trata-se de um ritual trivial na segunda maior cidade do Laos – mas que de tão pacata até parece um vilarejo. Cada um daqueles adolescentes de manto alaranjado tinha uma tigela na mão.

À medida que os meninos – assim como o senhor que seguia na frente – paravam diante de cada uma das senhoras ajoelhadas na calçada, recebiam delas uma porção de arroz, colhida com as mãos, do mesmo modo que os nativos do Laos fazem nos almoços e jantares. Guardada a refeição, os monges fechavam seus grandes potes de palha de bambu e seguiam em fila indiana até a próxima doadora, fosse naquele ou no quarteirão seguinte. Fizeram isso por uma meia hora. Foi lindo ver a fé dessas velhinhas, versões budistas das beatas do cristianismo, juntando as mãos em prece depois do prazer de alimentar cada rapaz quando o sol mal tinha raiado na Ásia.

Monges ao amanhecer recebendo oferendas de alimentos pelas ruas de Luang Prabang: procissão silenciosa e poética Victor Affaro

Segui vários desses monges assim que voltaram para alguns dos muitos monastérios da cidade, logo depois de receberem a oferenda. Sempre em silêncio, eles retomaram seus afazeres do dia. Um varreu a entrada do templo, outros dois deixaram seus trajes sujos em baldes de água. Poucos minutos depois, todos se reuniram numa mesa baixa, dessas em que se senta de pernas cruzadas no chão, e passaram a entoar em coro um belo e suave mantra.

Era hora de comer – algo que só podem fazer, religiosamente, até o meio-dia, quando se inicia o jejum até o outro encontro com as senhoras de Luang Prabang na madrugada seguinte. Para os viajantes, a hora de desjejum é uma experiência opostamente cosmopolita. Em meio a templos budistas incríveis, lojas de design e galerias de arte, merca dos de rua vibrantes e cachoeiras de águas azuladas nas florestas ao lado do imponente Rio Mekong, Luang Prabang surpreende com seus bistrôs, que mesclam a gastronomia francesa com a asiática.

DE BICICLETA POR ANGKOR, CAMBOJA

Ver o sol nascer entre as centenas de templos magníficos do Parque Arqueológico de Angkor é uma das experiências mais sublimes que um viajante pode ter na vida. Especialmente se esse esforço acontecer depois de uma pedalada de 5 quilômetros em plena madrugada desde o centrinho da cidade de Siem Reap, como aconteceu comigo em minha estreia no Camboja. Em países populosos como os da Ásia, chegar antes de outros viajantes em lugares emblemáticos faz toda a diferença para ter uma experiência de silêncio e contemplação. E a recompensa para o esforço é aquela sensação sem igual de estar presente em um solo sagrado para tantas culturas.

Considerada a maior estrutura religiosa do planeta, com 400 quilômetros quadrados, o gigantesco complexo de templos em ruínas de Angkor tornou-se uma parada imperdível na Indochina pelo tanto que ostenta de beleza e espiritualidade. Angkor Wat, o templo principal do sítio arqueológico, foi o coração da poderosa civilização Khmer, que floresceu no século 12, e já foi lugar sagrado hindu e budista – e abriga espaços que funcionaram como escolas, bibliotecas e altares.

Angkor Wat, Camboja Victor Affaro

A vantagem de explorar a região de bicicleta é a autonomia para deslocar-se para qualquer templo na hora que você quiser – seja quando o dia nasce, durante o pôr do sol ou simplesmente para não ver outros viajantes por perto. O templo de Bayon, por exemplo, chama a atenção pelos rostos esculpidos na pedra, enquanto Ta Prohm arranca suspiros sob as raízes das árvores que o cobriram – ele é aquele onde foi filmado Lara Croft: Tomb Raider, com Angelina Jolie.

Ao final da pedalada de exploração, Siem Reap mostra que há tempos deixou de ser apenas a base para visitar Angkor. Cortada pelo rio que dá nome à cidade, ela ostenta aquele charme dos centros cosmopolitas da Indochina: bons restaurantes, cafés, spas de massagem e galerias que parecem uma mistura inusitada de França e Ásia.

Parede esculpida no complexo de Angkor Wat, Camboja Victor Affaro

IMERSÃO SENSORIAL NA TAILÂNDIA

Na pele, o prazer das massagens super-relaxantes. Nos templos budistas, o onipresente aroma de incenso ao som de lindos mantras. Uma gastronomia que aguça o paladar com sabores que misturam salgado, agridoce, azedo, picante… E diante dos olhos, a beleza de construções monumentais, de praias idílicas, de montanhas, rios e uma natureza surpreendente. A Tailândia é uma imersão nos cinco sentidos.

Hub estratégico para quem descobre a Indochina, a capital Bangkok está repleta de referências arquitetônicas, religiosas e gastronômicas aos gigantes vizinhos que deram nome à região, a Índia e a China. Dos mercados de rua – alguns deles flutuantes, com consumidores e feirantes navegando em barcos – aos restaurantes estrelados e spas, parece que boa parte da vida circula em torno dos prazeres da carne. Já as incursões aos territórios sagrados dos templos, como o Grande Palácio e o Templo do Buda Deitado, em Bangkok, e o Wat Phra Singh, em Chiang Mai, cidade-base para explorar as montanhas do Norte, lembram que há deferência constante também aos prazeres do espírito.

Estátua do Buda Deitado no Templo Wat Pho em Bankgok, Tailândia Victor Affaro

Ainda no Norte, à beira do Mekong, o imponente rio da Indochina, santuários de elefantes protegem esse animal ameaçado de extinção. Foi em um desses elephant camps adotados por hotéis de luxo locais, que vivi uma das experiências mais inusitadas das minhas viagens: ser mahout por um dia. Como se fosse um mahout cuidador de paquidermes, aprendi a dar banho, alimentar e conduzir um elefante – e minha hospedagem contribuiu para a sua proteção.

Ao embarcar para o fascinante litoral da Tailândia – como as ilhas de Phuket e Koh Samui, encerrei a viagem com o encontro disso tudo. Templos reluzentes, gastronomia de primeira, clínicas de massagem, anfitriões acolhedores, tudo com o ambiente pacífico no mar de tantos tons de azul e verde. Cenários que acalmam o corpo, a mente e o espírito. E que mostram que na Indochina vive-se osbons prazeres da vida. (Matéria publicada originalmente na edição 99 da The Traveller)

TERESA PEREZ INDICA

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Onde Ficar

Park Hyatt Siem Reap, Siem Reap, Camboja

Localizado próximo às ruínas de Angkor, declaradas Patrimônio Mundial Cultural pela Unesco, o hotel busca traduzir a hospitalidade e a tranquilidade do Camboja. Todos os quartos têm décor contemporâneo, mas, ainda assim, revelam a cultura local pela decoração. Destaque para o spa com linhas de tratamento inspiradas nas lendas apsará, utilizando apenas ingredientes naturais e aromas florais para massagens e tratamentos estéticos.

Amantaka, Luang Prabang, Laos:

Rodeado pela natureza exuberante, o resort tem localização perfeita para desbravar Luang Prabang. Cerca de 30 templos com pináculos dourados, muita história e outros atrativos ligados à cultura do país fazem da região um destino que é quase um resumo do que é mais inspirador na cultura do Laos. Imperdível: o hotel organiza visitas guiadas aos templos milenares de Luang Prabang, passeios pelo Rio Mekong e até mesmo visita às Cavernas de Pak Ou.

Four Seasons Tented Camp Golden Triangle, Chiang Rai, Tailândia

Aventura e contemplação são experiências que andam juntas no Four Seasons Tented Camp Golden Triangle. Em meio à selva intocada ao longo do Rio Mekong, o hotel tem vistas para os três países que formam o Triângulo Dourado: Tailândia, Myanmar e Laos. Os 15 sofisticados bangalôs do hotel e o Explorers’ Lodge possuem deques privativos e são decora dos com móveis artesanais para manter o clima de conforto e exotismo durante toda a viagem.

Anantara Mai Khao Phuket Villas, Phuket, Tailândia

com acesso direto à praia de Mai Khao, as villas particulares do Anantara Mai Khao Phuket são garantia de privacidade, rodeadas pela natureza, com piscina privativa e vista para o mar. O hotel se inspira na cultura do sul do país para dar ainda mais personalidade ao design de interiores e às experiências proporcionadas aos hóspedes. Não deixe de conhecer: o spa do Anantara tem seis salas especialmente desenhadas para casais e menu de tratamentos que inclui reflexologia e as famosas massagens thai.

Sofitel Legend Metropole Hanoi, Hanói, Vietnã

Com um estilo colonial francês, no centro de Hanói, o Sofitel Legend Metropole Hanoi conta com quartos e suítes amplos, decorados com sobriedade e elegância. Na gastronomia, três restaurantes: o Le Beaulieu dispõe de uma requintada combinação de haute cuisine francesa e vinhos excelentes; já no Spices Garden, prova-se a autêntica cozinha vietnamita; e no Angelina, a gastronomia italiana moderna.

Four Seasons Resort The Nam Hai, Hoi An, Vietnã

Localizado na praia de Hoi An, o hotel The Nam Hai é um delicado refúgio, onde os hóspedes desfrutam de atendimento personalizado em meio a uma paisagem exuberante. Todas as villas do hotel têm vista panorâmica para o mar. Para relaxar ainda mais, o spa está instalado ao ar livre, com um ótimo menu de tratamentos com atenção completa ao bem-estar.

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