Na verdade, por não ser uma pessoa ligada a convenções, considero que a minha união aconteceu sem nenhuma testemunha, numa ilha do Mar Egeu, quando decidimos que trilharíamos uma vida juntos.
E depois fizemos um almoço em casa mesmo só para assinar papéis e resolver burocracias. O que eu tenho para dividir sobre lua de mel, portanto? Bem, deixem-me explicar. Se, por um lado, meu casamento foi marcado por uma celebração diferente e discreta, minha despedida de solteira foi comemorada em grande estilo e na minha forma preferida: viajando.
Na verdade, a despedida não foi exatamente minha, mas nossa – já que eu e meu marido fizemos uma viagem de um mês para aproveitarmos a liberdade da vida de solteiro enquanto ainda não tínhamos filhos.
Na época, escolhemos quatro destinos que faziam muito sentido para as pessoas que éramos, além de ser lugares que sonhávamos em conhecer e ainda não tínhamos conseguido. Começamos pela Índia, com direito a passeios turísticos em Nova Delhi e Jaipur, compras pechinchadas nas lojas de roupas e tecidos, prática de yoga diária em Rishikesh, banhos na parte limpa do Rio Ganges e uma esticada ao norte do país para conhecer os Himalaias e fazer da viagem uma busca por conhecimento e uma jornada espiritual.
Depois, seguimos para as Maldivas, um meio do caminho justo para aproveitar dias de quietude e romance, e por lá nos hospedamos no Anantara Veli, que nos proporcionou dias especiais, com águas inacreditavelmente cristalinas e o céu estrelado mais lindo de todos.
Das Maldivas, num voo direto para Bangkok com iguarias da culinária tailandesa a bordo, passamos cerca de duas semanas conhecendo a cidade, uma das capitais mais interessantes em que já estive, e a beleza e excentricidade de Ko Samui, uma das muitas ilhas paradisíacas. Por lá, alugamos uma moto e percorremos a ilha com o vento no rosto, experimentando os tipos mais surpreendentes de comidas e massagens e aprendendo muito sobre a devoção e a paciência do povo tailandês.
Para encerrar a viagem e quebrar o jetlag, ainda passamos uma semana em Barcelona, descobrindo lugares inusitados dessa capital tão cultural e efervescente. Assim, voltamos para casa, pessoas absolutamente diferentes das que embarcaram para iniciar essa jornada.
Não escrevo este texto com a intenção que ele sirva como roteiro de viagem, com dicas minuciosas de hospedagem, gastronomia e passeios, mas sim como um convite para que as viagens estejam presentes na vida de um casal, independentemente de uma lua de mel.
É viajando, quando ainda não temos filhos, que descobrimos um pouco mais sobre o outro e sobre nós mesmos em situações atípicas, de euforia ou frustração, que compartilhamos momentos únicos que ficam ali parados no tempo e vão construindo essa história que não é mais só de um, mas agora de dois.
É viajando, depois dos filhos, que deixamos as preocupações e burocracias pausadas por um período de tempo, olhamos nos olhos um do outro, numa brisa qualquer de um domingo despretensioso, e lembramos o que nos fez chegar até ali e decidir ficar, para além das contas e decisões conjuntas.
Viajar para se despedir da vida de solteiro, para comemorar uma conquista ou anos de união, para regar o casamento, para conseguir ter tempo de qualidade juntos, ainda mais depois dos filhos. Tudo é válido. Mesmo um bate e volta num lugar perto de casa, mas longe o suficiente para podermos recarregar as baterias da relação.
E não se preocupe: não conseguir fazer uma viagem de lua de mel oficial também tem lá suas vantagens. No nosso caso, por exemplo, nos damos o direito de considerar que estamos de lua de mel de vez em quando em viagens que fazemos juntos. E, para além de flores e espumantes logo na entrada, aproveitamos a oportunidade para continuar construindo essas memórias que serão apenas nossas. Porque, assim como voltamos pessoas diferentes quando retornamos de uma viagem, ao nos relacionarmos vamos nos transformando, amadurecendo e sendo outras pessoas, que ainda assim decidem dar as mãos e seguir, pelo tempo que o amor permitir, fazendo dessa a jornada mais insana e também mais maravilhosa de todas.