Dizem que o jardim do vizinho é sempre mais bonito. E foi lá que, nós brasileiros, passamos os últimos anos de viagens em tempos de pré pandemia. Mas, como santo de casa faz milagre, sim, chegou a hora de tirar o Brasil das notas de rodapé e estampá-lo no destaque das nossas próximas viagens. O “novo normal” agora é também conhecer o próprio gramado, onde se estende uma das maiores biodiversidades do planeta.
Dentro do quarto da fazenda já se escuta o espetáculo sonoro das mais de 500 espécies animais que habitam o melhor lugar do país para observar a fauna selvagem: o Pantanal Sul, no entorno do município de Miranda, que concentra também a mais refinada infraestrutura turística regional. Só para ter uma ideia, o Brasil tem cerca de 335 unidades de conservação em todo o país, incluindo os mais de 70 parques nacionais sob gestão do ICMBIO (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade). É quase uma área preservada para ser descoberta por dia, ao longo de um ano, nessas terras brasilis que ainda soam tão desconhecidas para os brasileiros.
Não é toda nação que reúne, em um mesmo território, uma das formações rochosas mais antigas do mundo, como a Chapada dos Veadeiros; abriga extensas bordas de cânions que avançam por dois estados do Sul do Brasil; e ainda guarda um dos maiores campos de dunas do continente, onde o Cerrado, a Caatinga e a Amazônia se encontram, nos Lençóis Maranhenses. Uma natureza monumental.
Por ali, tudo soa superlativo
A Chapada dos Veadeiros, no nordeste de Goiás, é uma das formações rochosas mais antigas do mundo – uma respeitosa senhora de 1,8 bilhão de anos –, e tem uma das tirolesas mais longas do país (daquelas que a gente vê a chapada passar, literalmente, sob os pés, ao longo de quase 1 quilômetro). São João d’Aliança, cidade considerada o portal da Chapada dos Veadeiros, abriga outro gigante do destino. Localizada na Serra Geral do Paranã, a Cachoeira do Label, do alto de seus 187 metros, é uma das mais altas do Brasil. A “capital” Alto Paraíso de Goiás é o endereço das pousadas charmosas, enquanto o vilarejo de São Jorge é a chapada pé na areia. Mas é no interior do parque nacional que ficam alguns dos cenários mais impressionantes desse Brasil interior, daqueles que atraem aventureiros, esotéricos e (dizem) até seres de outros planetas. Antiga rota de garimpos de cristais, Veadeiros é feita para caminhar (e por onde se ande, não faltarão cachoeiras, cânions e chapadões de formações únicas), como a nova Trilha Carrossel, uma caminhada de 4,5 quilômetros no interior do parque nacional, em mirantes de madeira sobre o cânion ao longo do rio Preto, o mesmo que alimenta os obrigatórios Saltos I e II. Outro destaque do parque é o Jardim de Maytrea, uma sequência de veredas de buritis que podem ser vistas da estrada ou do Morro da Baleia, uma das novidades de Veadeiros, cuja trilha sobre um chapadão garante a um dos mais belos e panorâmicos finais de tarde do destino.
Aliás, recentemente, a chapada goiana viu nascer mais uma área preservada: o Parque Estadual Águas do Paraíso, uma área de cinco mil hectares conjugados ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Essa região das Cataratas do Rio dos Couros é uma espécie de resumo de tudo o que se pode encontrar no destino: trilhas, cânions, rios e cachoeiras. Entre os clássicos, não deixe de incluir no roteiro Almécegas I e II, uma sequência de cachoeiras que deságuam na boca de um cânion, formando piscinas naturais de fácil acesso. Dali os mais intrépidos partem para a bela tirolesa Voo do Gavião, um sobrevoo de pouco menos de minuto e meio, sobre a Chapada dos Veadeiros. A cerca de 90 quilômetros, Cavalcante é a versão histórica de Veadeiros, em uma região que une cachoeiras e a história dessa antiga comunidade quilombola de negros da África ocidental, cujo destaque é a Santa Bárbara, queda d’água de 28 metros em um poço de águas, exageradamente, azuis.
A CHAPADA DO CENTRO DA BAHIA
É tanta chapada para ver que Diamantina, região serrana no centro da Bahia, é daqueles destinos que não cabem em uma mesma viagem. Só no Parque Nacional da Chapada Diamantina são mais de 30 cachoeiras (das potentes às mais discretas), 16 sítios históricos e mais de 280 quilômetros de trilhas.
Mas muito além do Morro do Pai Inácio e da Lagoa Azul, só para citar alguns dos cenários mais populares do destino, existe uma chapada sem pressa que vai se mostrando aos poucos, em trilhas que costumam começar em áreas urbanas de pequenas cidades de passado garimpeiro. Considerada uma das mais bonitas do Brasil e o roteiro turístico mais antigo da chapada baiana, a travessia do Vale do Pati é um trekking de 70 quilômetros, geralmente, percorrido em cinco dias. A caminhada acontece entre os municípios de Andaraí e Mucugê, na região central do parque nacional, e vai de trechos mais leves, em terreno plano, a áreas de subidas exigentes.
Ao longo do dia, ícones naturais passam diante dos olhos, como o Vale do Capão, conhecido pela Fumaça, uma das maiores cachoeiras do Brasil. Ideal para viagens durante todo o ano, a região tem Lençóis (Chapada Norte) e Vitória da Conquista (Chapada Sul) como principais acessos.
TERRA DOS CÂNIONS
Eles se deixam ser vistos por todos os ângulos e em qualquer época do ano. Por cima, por dentro e do alto. Afinal são cerca de 250 quilômetros de paredões imponentes, entre Santa Catarina e o Rio Grande do Sul.
Em Cambará do Sul (RS) e em Praia Grande (SC), todos os caminhos levam ao interior de cânions que rasgam áreas preservadas como os parques nacionais dos Aparados da Serra e da Serra Geral. O primeiro abriga trilhas amigáveis de até seis quilômetros de extensão para ver o Cânion Itaimbezinho de cima, em mirantes que se debruçam sobre cachoeiras que escorrem por fissuras rochosas afiadas pelos ventos, daí o nome Aparados. Já o vizinho Parque Nacional da Serra Geral é endereço do Fortaleza, cujos paredões de 900 metros explicam a origem do nome do cânion mais imponente da região, que também tem trilhas para ver tudo aquilo do alto.
Mas para sentir a potência daquelas formações de cerca de 130 milhões de anos, ambos cânions contam com trilhas (lindas e exigentes) por seu interior, como a cenográfica Trilha do Rio do Boi, uma caminhada de 12 quilômetros que cruza as águas do Itaimbezinho; e a Tigre Preto, uma caminhada de 18 quilômetros por mata virgem do Fortaleza.
PELAS DUNAS E ALÉM
Dá até vontade de parar na primeira piscina que surge como miragem às margens do Rio Preguiças e passar o resto da viagem por ali mesmo. Mas no maior campo de dunas do país, onde o Brasil assume sua versão 4×4, a experiência vai além de banhos preguiçosos em águas cristalinas de lagoas interdunares.
Com 90 mil hectares de dunas e piscinas naturais, de um total de 155 mil, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses é conhecido por seus circuitos pelo o que há de mais famoso por ali: águas cristalinas rodeadas por areias claras e finas. Fora do parque nacional, a Lagoa da Esperança é a formação perene que pode ser visitada todo o ano; e Atins, é a vila de pescadores e dos bons ventos para a prática de kite e windsurf, entre a foz do Preguiças e o Oceano Atlântico.
E se os olhos pasmados não derem conta de ver tudo aquilo, aviões de pequeno porte saem de Barreirinhas para voos panorâmicos sobre os Pequenos Lençóis e o Parque Nacional. Para melhor aproveitar as lagoas, que têm acesso a partir de cidades como Barreirinhas, Santo Amaro e Atins, a melhor época vai de maio a setembro, após a temporada de chuvas.
TERESA PEREZ INDICA
Reserve com a Teresa PerezOnde Ficar
Fazenda Shanti, Chapada dos Veadeiros
Próxima à charmosa Vila de São Jorge, no coração da Chapada dos Veadeiros, a Fazenda Shanti está totalmente integrada à natureza especial da região, com apenas nove chalés e paisagismo assinado por Alex Hanazaki. A localização é estratégica para conhecer atrativos como o Vale da Lua, o Parque Nacional, a Cachoeira do Segredo e a Morada do Sol.
Hotel Canto das Águas, Chapada Diamantina
Decorado com obras de artistas locais, o Hotel Canto das Águas tem 43 acomodações divididas entre quartos e suítes – algumas delas contam com piscina e varanda particulares. O hotel também se destaca com sua localização privilegiada: está instalado à beira do Rio Lençóis e próximo do centro histórico da cidade de mesmo nome. Na lista de atrativos, piscina, terapias corporais, sala de leitura, entre outros.
Hotel Parador, Cambará do Sul
O hotel é um glamping inspirado pelo estilo de lodges africanos, com acomodações imersas na natureza e que revelam paisagens absolutamente fascinantes. Na pequena Cambará do Sul, a sensação é de se estar acampando, mas com o conforto e o charme de um hotel. As acomodações são divididas em categorias especiais: suítes, bangalôs com deques, chalés com suítes independentes e os charmosos e arrojados casulos, que combinam design contemporâneo com elementos rústicos.
OIÁ Casa Lençóis
A hospedaria contemporânea é uma das novidades dos Lençóis Maranhenses, instalada na cidade de Santo Amaro, porta de entrada para os Lençóis. A casa é composta por uma casa principal, com uma suíte e áreas de convivência, e dois bangalôs com duas suítes cada. As experiências da OIÁ Casa Lençóis levam o hóspede a uma genuína conexão com a natureza nas paisagens ao redor. A gastronomia foi elaborada pelo chef Cedric Nievartius a partir do conceito de conectar o hóspede ao que é mais autêntico da região. Tudo com qualidade, aliada à originalidade, diversidade e ingredientes frescos e locais.