Conheça algumas regiões nova-iorquinas que passaram por mudanças nos últimos 30 anos.
Como diz o arquiteto capixaba Paulo Mendes da Rocha, morador da região central de São Paulo, o “homem moderno inventou as cidades para ter com quem conversar”. Talvez esse seja um dos motivos pelos quais a maioria das grandes capitais mundiais vêm transformando lugares degradados em novos espaços, onde muita gente passeia, observa a arquitetura, senta para tomar um café e volta aos poucos a conversar com os moradores ou com quem vem de longe. É claro que a controversa gentrificação (expressão criada em 1963 pela socióloga britânica Ruth Glass para definir o enobrecimento de uma região considerada desvalorizada), a especulação imobiliária, a ajuda do setor privado e a intervenção da classe artística têm muito a ver com isso. Este fenômeno de renovação acontece em várias partes do mundo e não é de hoje. Nova York, por exemplo, ao contrário daquela cidade “faroeste” tomada pela onda de crime e prostituição da década de 1970, há tempos está convertendo máculas em joias, revigorando a qualidade dos espaços públicos e trazendo de volta a condição de cidade das mais vivas e dinâmicas do planeta.
SOHO 1960
De armazéns abandonados a lojas elegantes e modernos lofts
O SoHo já foi muita coisa antes de virar o sinônimo da arte, moda e lifestyle chique que é hoje. Foi bairro residencial, centro comercial e polo da indústria têxtil – daí vem a gloriosa arquitetura histórica de ferro fundido do século 19. Nos anos 1930, a decadência tomou conta e, só a partir dos anos 1960, com o movimento de artistas plásticos como Chuck Close e Richard Serra, que buscavam alugar espaços amplos por valores menores, tudo começou a mudar. O bairro passou então a ter suas estreitas ruas de pedra invadidas por galerias de arte e caros lofts. Nos anos 1990, a moda acabou por intervir na revitalização mais uma vez instalando ali inúmeras lojas de alta-costura, restaurantes e spas.
TIMES SQUARE 1980 ou 1990
De região de mafiosos a um dos lugares mais fervilhantes do mundo
A famosa imagem do fotógrafo Alfred Eisenstaedt, de um soldado desconhecido beijando uma enfermeira, publicada na revista Life no final da Segunda Guerra Mundial, diz muito sobre a Times Square. Mas, provavelmente, os turistas mais jovens que visitam a região hoje nem imaginam que ali, entre as décadas de 1960 até meados de 1980, era um lugar degradado, que aparecia mais nas páginas policiais dos jornais do que nas páginas de turismo. Foi por meio de um projeto de revitalização da prefeitura nos anos 1980, que perpassou os mandatos seguintes até os anos 1990, que muitos estabelecimentos foram desapropriados, dando lugar a palcos de musicais. Hoje, o que se vê são mais de 20 milhões de turistas passeando entre personagens da Disney, indo a bares escondidos frequentados por atores da Broadway, vendo instalações ocultas no metrô ou viajando para a cidade só para ver a “bola” que desce do One Time Square nas festividades de Ano Novo.
MEATPACKING DISTRICT 1990
De matadouros decadentes à referência em moda e vida noturna
O Meatpacking District, que em 1900 fora sede de 250 matadouros e instalações de embalagem, mudou muito nos últimos anos, tanto que em 2004 foi escolhido como o bairro “mais elegante” da cidade. Mas nem sempre foi assim. Dos anos 1960 aos 1980, foi uma área industrial decadente, com poucas opções de entretenimento. A transformação veio em 1990, em parte, por novas lojas, bares e boates que tornaram o lugar referência em moda e vida noturna. O High Line Park, jardim suspenso construído sobre uma antiga ferrovia elevada em 2009, também viabilizou a mudança. Aberto em 2015, o Whitney Museum é outro bom motivo para os amantes da arte visitarem o bairro.
CHELSEA 1990
De reduto de músicos e escritores a destino repleto de galerias de arte
Adicionado ao Registo Nacional de Locais Históricos em 1970, o Chelsea é conhecido por suas charmosas ruas arborizadas cobertas de paralelepípedos por onde circulavam artistas, como Jean-Michel Basquiat e Andy Warhol. É também lembrado pelo icônico Chelsea Hotel que, entre os frequentadores ilustres, colecionava escritores, artistas e músicos, como Leonard Cohen, Bob Dylan e Patti Smith. O bairro começou a virar moda nos anos 1990 quando os preços dos aluguéis no SoHo subiram e os artistas tiveram que migrar em busca, novamente, de espaços maiores e mais baratos. Com eles, restaurantes e inúmeras galerias (que hoje somam mais de 200) abriram por lá. O bairro, também um dos preferidos da comunidade LGBT na cidade, passou a contar com obras a céu aberto, como o painel O Beijo, pintado pelo brasileiro Kobra.
WILLIAMSBURG 2005
De bairro industrial a centro de cultura alternativa
O simpático e hipster Williamsburg, no Brooklyn, já foi um dos bairros mais perigosos de Nova York. Desde 2005, quando os prédios de antigas indústrias foram remodelados para abrigar mais áreas residenciais, o lugar ganhou apartamentos, pubs, cafés e boates. Ou seja, atrações que deram outro colorido às ruas, coroadas com a arte presente nas galerias (mais de 60) e nos grafites. O metro quadrado foi valorizado e, a partir de 2010, o lugar virou endereço de artistas e jovens que queriam morar melhor por menos. Meio à margem da cultura de Manhattan, Williamsburg foi, aos poucos, se transformando em um centro de cultura alternativa.
TRIBECA 2002
De área de armazéns abandonados a símbolo da agitada noite nova-iorquina
O descontraído TriBeCa também tem origem nos armazéns abandonados e, assim como o Chelsea, passou a mudar com o aumento dos aluguéis do SoHo. Mas a revitalização começou mesmo após os ataques de 11 de setembro quando, com incentivos e subsídios governamentais, a área que fica próxima ao Financial District foi rapidamente recuperada. Em 2002, o bairro ganhou mais uma atração, a criação do TriBeCa Film Festival, feito do ator Robert De Niro, que acabou dando boas-vindas a lofts, restaurantes, lojas de móveis e muitas casas noturnas, que dão ao bairro um jeito todo contemporâneo.
SOUTH BRONX 2016
Das imagens de faroeste ao berço do hip-hop e da cultura de rua
Nos anos 1970 e 1980, Nova York era selvagem e mais parecida com um faroeste do que com um parque de diversões. E o pior lugar era o South Bronx. Hoje, o bairro se livrou dos resquícios da época, quando os incêndios criminosos eram tão frequentes que a frase “o Bronx está pegando fogo” se tornou bordão. Conhecido por ser o berço do hip-hop, foi rebatizado de SoBro e, com o esforço concentrado para impulsionar os valores imobiliários, vem ganhando novos bares, cafés, lojas, hotéis e boutiques. A chegada do salão Bruckner Market, com um beer garden no topo, uma cervejaria e destilaria, assim como o restaurante de culinária latina do chef Douglas Rodriguez, já sinalizam a chegada dos novos tempos.