
O galpão azul se prepara para funcionar em novo formato, que promete impactar artistas emergentes sem deixar as exposições e a captação de talentos de lado.
Quando o presidente francês Emmanuel Macron visitou a capital paulista pela última vez, em março de 2024, um jantar para 20 brasileiros que possuem uma relação relevante com a França foi mantido em segredo até o momento em que os últimos convidados saíram do hotel Rosewood São Paulo, nas cercanias da Avenida Paulista, e puderam falar com a imprensa.
Entre nomes como a socióloga Djamila Ribeiro e o ex-jogador de futebol Raí, estava Igi Lola Ayedun, artista por trás da HOA, galeria de arte paulistana que, em novembro de 2024, se tornou parceira do Ministério da Cultura Francês na missão de promover jovens artistas no Brasil. Para potencializar o plano, a HOA finaliza os preparativos para deixar de ser uma galeria e transformar-se em uma instituição sem fins lucrativos.

Fundada em 2020, a House Of Ayedun pode ser considerada inovadora no cenário brasileiro pelo fato de ser a primeira galeria gerida por uma mulher preta ou até por promover artistas periféricos descobertos em comunidades paulistas e de outras regiões do país. Nenhuma das características, porém, é considerada novidade para Ayedun.
Depois de anos na Europa, ela levou certo tempo para entender a lógica do consumo de arte brasileira logo que chegou e inaugurou a casa. “Como eu vim de fora, eu sempre tive uma visão mais globalizada do mercado. O circuito que eu vinha era Paris – Marrakech – Jerusalém – Barcelona, mas posso dizer que o mundo inteiro estava falando de arte identitária ou periférica. Por aqui, a resistência ainda era enorme”.

Cinco anos passados e lançando artistas que se destacaram no Brasil e no exterior, ela entende que o cenário mudou para melhor em algum aspecto: “Agora os colecionadores chegam mais informados nas feiras e bienais, praticamente sabendo o que querem e muitas vezes adquirindo itens que não costumavam estar no radar há alguns anos. Porém, ainda há muito o que fazer, porque realmente há um interesse maior, mas a produção ainda não condiz com a realidade brasileira”.
É por esse motivo que o conceito “galeria” está com os dias contados. Os próximos passos da casa estarão focados no desenvolvimento de artistas marginalizados, uma iniciativa que sempre fez parte do idealismo de Ayedun.
A proposta é capacitar, lançar e representar novos nomes em uma atuação para além do mercado nacional.
Os programas passam por cursos de empreendedorismo, bolsas de estudos, premiações e vão até intercâmbios e residências internacionais.
As exposições e eventos não vão mudar na galeria, que seguirá aberta ao público, mas funcionando também como estúdio e espaço para eventos. Enquanto transforma o status do CNPJ, Ayedun equilibra os pratos para não deixar seu próprio trabalho como artista de lado.

No radar da paulistana de 34 anos está a primeira instalação flutuante no Rio Pinheiros, na Zona Sul de São Paulo, que deverá ser inaugurada em junho deste ano e tem tudo para ser uma atração da cidade. A pesquisa e a produção de novas obras – certamente com muito azul, a marca registrada da artista – também seguem firmes, envolvendo projetos que você pode conferir na entrevista completa com ela.