Patrimônio Mundial Natural e santuário de uma vida marinha impressionante, nem parece que o minúsculo arquipélago isolado no Atlântico, um dia, foi uma temida área de isolamento de criminosos e exilados políticos.

De origem vulcânica, Fernando de Noronha é daqueles lugares onde não é preciso muito esforço para se isolar em praias selvagens e trilhas escondidas. Nem o preocupante aumento no número de visitantes dos últimos anos e a eminente possibilidade de uma volta de cruzeiros marítimos parecem alterar o sossego de um dos destinos mais exclusivos do Brasil.

Pôr do sol com vista para o Morro Dois Irmãos Eduardo Vessoni

Nesse conjunto de 21 ilhas, a 545 quilômetros do Recife, a Praia do Sancho, no Parque Nacional Marinho, é o endereço mais procurado por ali, ao lado da Baía dos Porcos. Mas Noronha vai muito além dessa baía acolhedora de águas mornas, sempre lembrada como um dos lugares mais bonitos do Brasil. Tem faixa de areia para a família, como a tranquila Baía do Sueste; outras mais radicais, como a Cacimba do Padre, o point surfista dessa espécie de Havaí brasileiro; e uma com hora marcada e acesso limitado, como a Atalaia, onde acontecem flutuações em um aquário natural que serve de berçário para a fauna marinha. Sem falar nas praias urbanas (Cachorro, do Meio e da Conceição), a poucos passos do centro histórico da Vila dos Remédios.

MAIS PERTO DO CÉU

Para ver o que nem todo visitante vê, a regra é subir. A Trilha do Piquinho, com 3 quilômetros de extensão, é uma das experiências mais impactantes de Noronha. Não só pelo terreno pouco explorado de uma antiga rota usada por oficiais da Aeronáutica para manutenção do farol no Morro do Pico, o ponto mais alto da ilha.

Fernando de Noronha tem praias de vários perfis – algumas perfeitas para famílias, outras mais radicais e point de surfistas e outras, ainda, que são verdadeiros aquários naturais

Praia do Sancho, em Fernando de Noronha Eduardo Vessoni

Mas também pelo cenário que se exibe aos pés, em mirantes com vistas únicas da Ilha do Frade e do Morro Dois Irmãos. Considerada uma das mais cênicas, a caminhada permite ver os Mares de Fora e de Dentro de um ponto de vista único. A adrenalina sobe mesmo é na Capim Açu, uma caminhada puxada de 10 quilômetros, com considerável variação de altitude e terreno acidentado que leva a caverna, piscinas naturais e praias isoladas do Mar de Fora. Nesse roteiro off road, o visitante faz um desvio até o antigo farol da Marinha e segue por mata mais fechada até o mirante da Ponta da Sapata, um dos pontos mais intocados da ilha principal. Dali para frente, são mais de 3 quilômetros sobre pedras até a cênica Praia do Leão. Eis a versão mais selvagem de um destino que não nos deixa esquecer que não é feito só de bistrôs e festas animadas em lounges pé na areia. 

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Como tudo por ali beira à perfeição, é no inverno noronhense, que costuma ir de março a junho, que o Sancho ganha uma atração única: as cachoeiras temporárias que caem em diversos pontos dessa praia com cerca de 320 metros, algumas delas com pequenos (e concorridos) poços para banhos.

DEBAIXO D’ÁGUA

Em um ponto ninguém tem dúvida: é debaixo d’água que Fernando de Noronha exibe o seu melhor cenário. Seja você certificado para mergulhos com cilindro ou praticante de banhos sem compromisso na Praia do Porto de Santo Antonio, as águas de Noronha sempre estão ali para convencê-lo de que o destino é um dos melhores pontos de mergulho do Brasil. E não são poucos os argumentos. Com quase 30 locais diferentes e profundidades que variam de 12 a 62 metros, os mergulhos com cilindro acontecem em águas com temperatura entre 27 e 28 graus e visibilidade que pode chegar a 50 metros de distância. “Cada mergulho é único e com avistamento de animais diferentes, em formações geográficas específicas”, descreve o instrutor Daniel Muller da Atlantis Divers, a única agência da ilha com catamarã exclusivo para atender batismos e outro só para credenciados. “São experiências de categoria internacional que não deixam a desejar a nenhum outro destino de mergulho no mundo”, completa Muller.

Debaixo d’água Fernando de Noronha exibe o seu melhor cenário, perfeito para mergulho Tati Vasconcelos/All Angle

Inaugurado há pouco mais de um ano no centro histórico, o restaurante O Pico reúne gastronomia, moda e arte regional (assinada por ninguém menos que o xilogravurista J. Borges). Foi preciso rodar o mundo em busca de novidades gastronômicas, entre ilhas do Pacífico Sul e da Ásia, para a brasileira Marina Muller e o francês Théo Chahinian se darem conta de que seu lugar era Fernando de Noronha. “Os produtos de verdade estão na cozinha de rua, nas feiras e nos mercados”, explica Chahinian, chef de cozinha de Marseille que levou para o arquipélago sua experiência em restaurantes da França, da Suíça e da Nova Zelândia.

Apesar das dificuldades em administrar a complexa logística de trazer (quase) tudo do continente, o casal assina um cardápio enxuto de inspiração mediterrânea e sotaque brasileiro, como o risoto de camarão, inspirado na moqueca baiana (com dendê e tudo), e o clássico ceviche de atum ou cavala pescados na própria ilha, com batata-doce caramelizada e pão feito ali mesmo (uma raridade em Noronha).

Salão do restaurante O Pico Zé Henrique/Divulgação
E seu drink “Lapada de Melancia” Zé Henrique/Divulgação

Conhecido pelo bar no centro do salão e pela vista da Praia do Cachorro, o restaurante é famoso mesmo pela rabada com doce de leite e drinks como a “Lapada de Melancia”, com gim, gengibre, manjericão, hortelã e limão.

E, no final, a gente nem precisa pedir mais um drink para concordar com Américo Vespúcio: “o paraíso é aqui”, em Fernando de Noronha.

TERESA PEREZ INDICA

Reserve com a Teresa Perez

Onde Ficar

Ecopousada Teju-Açu

Uma das experiências hoteleiras mais charmosas da ilha, no Boldró. Seus amplos bangalôs ao redor da piscina parecem uma extensão da mata do lado de fora, aos pés do Morro do Pico. Mas o destaque mesmo fica a cargo da gastronomia da chef Crislane da Silva, responsável pela cozinha contemporânea do local.

Pousada Maravilha

Longe do agito do centro, em uma das extremidades da ilha, essa pousada tem projeto arquitetônico que valoriza o cenário exterior, como as varandas dos quartos com ofurô privativo e a piscina de borda infinita com vista para a Baía do Sueste.

Nannai Noronha Solar dos Ventos

Com abertura prevista para 1° de dezembro, a nova pousada-boutique terá oito bangalôs e dois apartamentos com vista para a Baía do Sueste e aposta também na gastronomia, com cardápio combinando a cozinha brasileira e ingredientes da própria horta orgânica.

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