Quando me pediram uma lista com meus restaurantes favoritos pelo mundo, eu até tentei obedecer. Mas como boa ariana, obedecer não é exatamente meu forte e previsibilidade me entendia. 

Então, com todo o carinho (e a pequena dose de rebeldia que me é própria), resolvi ampliar o briefing: em vez de apenas restaurantes, aqui vão minhas delícias para comer em doses industriais pelo mundo. Tudo culpa do meu DNA: 98% apetite, 2% adenina. 

Comer é das minhas grandes paixões, não só pelo sabor, mas também pelo rito, pelas histórias, pelos absurdos prazeres e pelas descobertas que uma boa mesa é capaz de provocar. Acredito piamente que nada traz as pessoas próximas como a boa mesa. 

E quando digo que levo isso a sério, não estou exagerando. Já fiz uma viagem de cinco dias inteiramente dedicada a comer. Voei de São Paulo a Madri, onde peguei um carro e dirigi sozinha até San Sebastián com uma missão: testar tanto os estrelados Michelin quanto as pérolas sem estrela (spoiler: minha refeição favorita não tinha estrela nenhuma). Foram cinco dias dedicados a mim e ao meu amor pela boa mesa. 

Analisando mais um menu pelo mundo. Maria Helena Pessôa de Queiroz

Esse amor é tão sério que eu já criei meu próprio restaurante. Sim, você leu certo. Em uma das experiências mais deliciosamente surreais da MHSTUDIOS, nasceu — e morreu gloriosamente três dias depois — a Osteria Maria Cristina, com ninguém menos que Renata Vanzetto como chef do meu “reino”. Uma ode efêmera ao meu gosto e um tributo a algo que me move: transformar desejo em experiência. 

Sou tão criteriosa com sabores que criei o meu próprio selo de aprovação: “By appointment to Her Majesty The Cleopatra” (eu mesma, caso você ainda não tenha se dado conta). E antes que você pense que copiei o selo real britânico… respect. Foram eles que me copiaram. Eu, hein. Então, se você vir esse selo em algum balcão ou vitrine por aí, saiba: ali tem algo que me fez fechar os olhos e querer viver para sempre naquele sabor.  

Pois bem. Dito tudo isso, e provado meu irrefutável gabarito no assunto, aqui vão algumas das coisas memoráveis que já comi por aí, todas carimbadas pelo meu majestoso selo:  

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Espanha

Asador Etxebarri, País Basco: onde o fogo é tratado com respeito sacerdotal. Estreladíssimo, reservei com 6 meses de antecedência.

Tour de Pintxos com o Mimo, San Sebastián: nada como um bom guia local para atravessar o paraíso dos pintxos e curar o que há de melhor para você.

Torta Basca do El Cañadio, Madrid: chegue cedo, porque ela acaba. E quando acaba, acaba a vontade de viver.

França

Crêpe, da creperia Saint Germain, Paris: uma barraquinha em frente ao metrô de Saint-Germain-des-Prés, onde só como o de marron glacé. Poderia me alimentar disso todos os dias. 

L’Arpège, Paris: Alain Passard transformando vegetais em poesia. E nada de fazer cara feia para os vegetais, Alain pode facilmente converter a criança mais avessa a eles todos (e os adultos chatos para comer também).

Breizh Café, Paris: crêpes com terroir. Peça o de caramelo salgado por mim, por favor.

Itália

Latteria San Marco, Milão: um daqueles lugares que parecem ter parado no tempo. E ainda bem! Pequeno, comandado há milênios por um casal italiano que claramente não está interessado em agradar ninguém além do próprio instinto. O décor? Não faz o menor sentido e justamente por isso faz todo o sentido do mundo. Lembro de um telefone fixo antigo pregado na parede do salão e que do nada toca; e do nada, um dos dois atende, fala alto, briga, ri. Estar ali dentro é como cair numa cena do Fellini. Autêntico até o osso. E, a não ser que algo tenha mudado, só aceitam dinheiro vivo.

Osteria della Pesa, Milão: old school, no melhor sentido possível! 

Sorvete de marrom glacê (todo pedaçudo, ai que vontade!) do Ciampini, Roma: amantes de marron glacê não precisam de maiores explicações.  

Dal Moro, Roma: despretensioso, delicioso, um clássico. 

Dal Bolognese, Roma: absolutamente qualquer coisa naquela varanda, com um expresso martini. Ai que saudade! 

Tagliolini al pistacchio do Il Pinnacolo, Puglia: me dá vontade de chorar só de pensar. Uma pequena epifania entre os telhados cônicos de Alberobello 

A icônica Latteria San Marco, em Milão. Maria Helena Pessôa de Queiroz
Maria Helena Pessôa de Queiroz

Inglaterra

Sanduíche de queijo do Kappacasein Dairy, no Borough Market em Londres: é uma feira! Você comerá em pé com pombos passando por perto, ok? Indecente de bom. Aviso: antes de ir veja os dias em que está aberto, ele é dado a estar fechado nos dias menos esperados. 

Cookie de missô e chocolate branco do Crème, Londres: o equilíbrio perfeito entre o inusitado e o irresistível. O miolo é mais pra cru, bem como eu gosto. 

Dinnings, Londres: meu japonês predileto. Delicioso e super bem frequentado. 

Sorvete de pistache com ganache de pistache do Badiani’s, Londres: uma submersão perigosa no universo do pistache! 

Países Baixos

Apfelstrudel do Winkel 43, Amsterdã: maçãs em estado de graça envoltas em um chantilly inesquecível. Eu comi uma no estabelecimento e levei uma para comer na caminha do meu hotel, antes de mimir. Sou dessas.

Suíça

Émincé de veau à la zurichoise, no Kronenhalle, Zurique: turístico, sim. Mas a comida é maravilhosa e você divide sala com obras de Picasso e Kandinsky. Digo mais?

Estados Unidos

Fried Oreo do Prime 112, Miami: porque sim. Porque minha criança interior ainda manda em mim quando o assunto é sobremesa indecente. 

Sorvete de tahine do Seed+Mill, Nova York: denso, inusitado, com o salgado & doce perfeito. 

Vestindo a camisa da Osteria Maria Cristina. Maria Helena Pessôa de Queiroz

Chega. Preciso parar. O prazo para eu enviar esse texto passou há algumas horas e toda vez que tento o transformar em PDF, me lembro de mais um lugar que não pode ficar de fora. E se eu não decidir que é isso, ele nunca vai acabar. Um dia, quem sabe, eu faço por cidades. Ou por sobremesas. Ou por drinks. Quanto mais nichado, melhor. Mas hoje, com a benção de Cleópatra (e um leve ronco no estômago) encerro por aqui. 

Atenção: essa lista não é um guia gastronômico, tampouco é exaustiva. É uma declaração de amor, um recorte ínfimo do diário de memórias comestíveis que guardo registradas em um Mission Notebook, da MHSTUDIOS, onde se lê na capa: “Billa doesn’t share food.” Billa sou eu também. E é isso aí, detesto dividir comida. Preciso dizer mais? 

Espero que você aprecie essa pequena seleção do universo de coisas que me marcaram de verdade. E que talvez marquem você também. 

Bon appétit. 
Com fome, muita fome, 
Her Majesty The Cleopatra. 

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