Sai o tom cáqui — tradicional dos safáris africanos — e entra um caleidoscópio de cores para fazer jus à vibração de Liz Biden. Além de ser a proprietária do grupo The Royal Portfolio, ela é a alma do negócio. E não erra jamais.
O design de alquimia irreverente traduz seu bom gosto em cada detalhe do Waterside, o mais novo dos quatro lodges do Royal Malewane aninhados na reserva particular de Thornybush, dentro do Great Kruger National Park, na África do Sul. Se essa explosão de cores “fora do previsto” para a savana da África do Sul é capaz de estarrecer uma legião de celebridades com o porte de Oprah Winfrey, Elton John, Richard Gere e Bono Vox, pela capa da beleza jogada sobre o viés da conservação do planeta, não fugi à regra.
Atravessei a soleira do lodge e meu olhar se dividiu entre a estupenda decoração da sala aberta para a savana e a arruaça da manada que grunhia sem cerimônia no lago, ao redor do qual o lodge se espalha. Fiquei ali observando a cena ao mesmo tempo que era observada por um grupo de macacos curiosos. O diálogo com a natureza acontece por todas as frestas. Impossível não ser tocado pela riqueza da vida selvagem e por sua harmonia com cada detalhe do lodge, que tem a clara missão de cuidar da beleza do planeta.
Desde as áreas comuns — que englobam bar, salas de refeições, piscina, biblioteca, boutique, sala de jogos, gym e spa — até as suítes, a estética maximalista “lizbideana” estimula os sentidos com a expressividade dos detalhes, das texturas e da paleta divertida. Elementos inesperados trazem um toque de magia sem deixar de lado o conforto das sete casas (que recebem o máximo de 24 pessoas), muito menos o cuidado com a fauna e a flora. Somado a isso, o calor humano da equipe potencializa a experiência. Daniel, Lucas, Tyron, Reason e Simon são filhos da Mama África e formam uma grande família que faz com que os hóspedes se sintam em casa.
O resultado é um endereço fora do comum, acolhedor e ultraexclusivo. Cada acomodação tem a prevalência de uma cor-personalidade, e todas elas contam com belas obras de artistas locais, móveis caprichados e uma tapeçaria que faz o arremate perfeito. As salas de banho também não passam despercebidas. Amplas e iluminadas, têm ducha e banheira com vista para a savana. Vale lembrar que para o aquecimento da água, da piscina, do toalheiro, do piso e do ar-condicionado é utilizado um sistema hidrônico associado com painéis solares. O respeito pelo ecossistema fala alto.
Apesar de todo o conforto e infraestrutura, é preciso lembrar que o lodge está cercado de animais e que é necessário ter cuidado. Ver impalas passando à sua porta, gnus bebendo água no lago e ouvir a algazarra dos babuínos pulando nos telhados são situações constantes. Os quartos devem ficar sempre fechados e, durante a noite, só é permitido circular pela propriedade acompanhado por um ranger armado.
Afinal, a Reserva de Thornybush tem em torno de 15 mil hectares conectados ao Great Kruger National Park, uma área gigantesca que corresponde ao tamanho do estado de Sergipe, no Brasil. O parque é habitado por mais de 40 espécies de mamíferos, incluindo os lendários Big Five (rinoceronte, elefante, búfalo, leão e leopardo), além de uma profusão de aves e répteis. Um verdadeiro santuário de vida selvagem.
O Waterside at Royal Malewane optou por não utilizar vedações herméticas, como outras reservas, o que demostra seu compromisso com a fauna local. Inclusive, possui cães treinados para combater a caça ilegal, que infelizmente ainda é uma realidade.
Como o propósito maior de uma viagem de safári é a imersão na natureza e o avistamento de animais em seu habitat natural, toda a rotina gira em torno dos game drives. Geralmente são feitos dois ao dia, um às 5 horas da manhã para ver a floresta acordando e outro no final do dia para observar a vida selvagem em outro momento.
Algumas espécies têm hábitos noturnos e outras, diurnos. Quando a noite cai, o cenário muda e a luz das velas tremula como num conto de fadas, sendo complementada vez ou outra pelo grunhido de um hipopótamo ou pelo rugido de um leão.
Mas o que realmente faz a diferença nessa dinâmica do ciclo da vida, e traz a sensação de estarmos inseridos em um documentário da National Geographic, é ter o acompanhamento de um bom tracker e de um bom guia. Nesse quesito, a equipe do Royal Malewane é ph.D. Tive o tremendo privilégio de contar com Tyron, pilotando o Toyota Land Cruiser por caminhos inimagináveis, e com a sensibilidade de Lucas, um dos cinco melhores “Master Trackers” da África.
O fato é que uma viagem para o coração da savana tem o poder de ampliar nossa paleta de cores. A transformação é inevitável, seja ela em tom sutil, seja vibrante. A magnitude da selva deixa explícito que cada passo dado ecoa pelo planeta. Somos responsáveis pela conservação da vida selvagem, pelo apoio às comunidades que ali vivem e por manter a natureza intocada enquanto somos embebidos pelas cores vivas da selva. Deixemos um pouco de nós.
























