“As quedas d’água estão com seis vezes o seu volume normal. Há tempos não víamos algo assim.”
A observação de Cristiano, motorista que me conduziu do aeroporto ao Hotel das Cataratas, a Belmond Hotel, onde eu me hospedaria pelos próximos três dias para conhecer o lado brasileiro das Cataratas do Iguaçu, não chegou a dar a dimensão correta do que eu veria em instantes. Nos dias anteriores à minha chegada, no final do mês de julho, havia chovido muito na região, abastecendo esse cartão-postal tanto do Brasil quanto da Argentina.
Com quase 3 mil metros de largura e cerca de 275 cascatas desenhando um dos cenários mais conhecidos do Brasil, as Cataratas do Iguaçu marcam o início de um cânion, canalizando o Rio Iguaçu até se juntar ao Rio Paraná, no tríplice fronteira – que, além de Brasil e Argentina, tem o Paraguai.
Quando ingressamos no parque localizado a apenas cinco quilômetros do Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu, com tempo aberto depois dos dias chuvosos, foi possível notar um silêncio envolvente que, de algum modo, marca que estamos em um lugar especial. Da entrada do parque até o Hotel das Cataratas são cerca de 15 quilômetros numa estrada monitorada, bem cuidada e ladeada por Mata Atlântica preservada, fruto do trabalho do ICMBio, do Ministério do Meio Ambiente. Nesse caminho até o hotel, as atenções se voltam para os detalhes – às margens da estrada, pude ver tucanos, quatis curiosos e aves tranquilamente inseridas no seu habitat natural.
Quase um aperitivo da diversidade encontrada por lá: oficialmente, o parque conta com 257 espécies de borboletas, 348 de pássaros, 18 de peixes, 12 de anfíbios, 41 de cobras, 8 de lagartos e 45 de mamíferos.
Mas só quando chegamos à entrada do hotel é que comecei a entender as observações de Cristiano, que alertou sobre a abundância das águas. Foi o primeiro vislumbre das Cataratas. E era muita água. Antes mesmo de fazer o check-in, corri para a plataforma que dá vista para as quedas d’água para tentar ver tudo aquilo mais de perto. Era irresistível.
Trilhas, passeios de barco e helicóptero
Estar hospedado no Hotel das Cataratas, a Belmond Hotel faz toda a diferença. É o único hotel instalado dentro do parque, o que quer dizer que as Cataratas estão sempre à vista e acessíveis mesmo antes ou depois da abertura do parque para os visitantes. Um privilégio. A trilha oficial que leva às Cataratas começa na frente do hotel e tem cerca de 1,2 quilômetro, distância que pode ser percorrida sem grande dificuldade por adultos e crianças. No caminho, diversos mirantes proporcionam vistas variadas das quedas e de toda a potência da natureza – uma festa para as fotos de todos os ângulos possíveis.
À medida que vamos percorrendo a trilha, mais os sons dessa natureza especial nos envolvem. Cada vez mais fortes, presentes, até chegarmos à parte inferior das quedas em que plataformas avançam até muito perto do paredão de água e onde entendemos definitivamente toda a grandiosidade de um lugar que é o segundo mais visitado por estrangeiros no Brasil. Para um outro panorama, com ares de emoção, as Cataratas podem ser acessadas em um passeio de barco.
O Macuco Safári proporciona um tour pelas corredeiras até as quedas, que se inicia com um passeio de jipe elétrico, seguido de caminhada na floresta subtropical por passarelas suspensas. No rafting de cerca de 20 minutos no rio feito em barcos bimotores, do início ao fim a diversão é garantida, com todos terminando o passeio completamente molhados em função da proximidade das Cataratas.
Uma terceira forma de ver as Cataratas é com os sobrevoos de helicóptero organizados pelo hotel. Nesses voos, com durações que variam de 10 a 35 minutos, é possível admirar os recortes do Rio Iguaçu em meio à floresta, até chegar às quedas. No voo mais longo, também dá para registrar o encontro entre Brasil, Paraguai e Argentina (Marco das Três Fronteiras), uma das maiores usinas hidrelétricas do mundo (Usina de Itaipu) e a cidade de Foz do Iguaçu.
Por dentro do Hotel das Cataratas
Inaugurado como hotel no fim da década de 1950, o Hotel das Cataratas completou 65 anos em 2023, mas foi a partir de 2007 que um novo capítulo da sua história teve início, quando passou a ser administrado pela rede Belmond. Depois de uma extensa renovação, o clássico estilo colonial português na arquitetura foi mantido com elementos que remetem a uma atmosfera tropical na decoração e no design de interiores.
Caminhando pelos amplos corredores que ligam os ambientes, não há como não admirar centenas de obras de arte e gravuras que imprimem esse toque “brasileirinho” que combina de forma harmoniosa com o seu maior chamariz – estar inserido no coração do lado brasileiro do Parque Nacional do Iguaçu. Essa estética também é reproduzida nos 187 quartos e suítes, onde tons crus e madeiras escuras se juntam a detalhes cheios de sofisticação sóbria, como os azulejos pintados à mão nos banheiros e as roupas de cama Trusseau.
Além de ter spa com atmosfera de serenidade e cardápio de terapias revitalizantes e cuidados de beleza, academia, piscina climatizada rodeada por orquídeas, quadra de tênis, kids club e biblioteca, o hotel foca seus serviços na gastronomia.
O novo restaurante Y, aberto apenas para o jantar, leva a assinatura do badalado chef Luiz Filipe de Souza, duas estrelas Michelin com seu Evvai, em São Paulo.
De pegada criativa brasileira, o cardápio brilha ao se inspirar nas águas que banham o parque reunindo ingredientes e técnicas de diversas regiões em pratos contemporâneos e surpreendentes, com itens como a minimalista moqueca de camarão com arroz crocante e o ovo de mollet com tucupi e espuma de mandioca, que homenageia a cultura alimentar indígena.
O classudo bar Tarobá é o ponto de encontro dos hóspedes, com seu terraço com vista para as Cataratas e um inteligente menu de drinques autorais, como (café da manhã) Fran Parente o hit Pink Celebration, criado para celebrar a reabertura do hotel depois da pandemia. Há ainda o restaurante Ipê, instalado ao lado da piscina, onde também é servido o café da manhã.
Atento aos sinais, o hotel não se descuida das preocupações sustentáveis: possui as certificações ISO 14001 para Gestão Ambiental e SA 8000 para Responsabilidade Social. Algumas das iniciativas incluem estação de tratamento de águas residuais, que remove poluentes e devolve o efluente tratado ao meio ambiente em conformidade com as regulamentações ambientais, e utilização de 100% de energia renovável ou limpa proveniente de fornecedores certificados.
Também há sistema de gestão de resíduos, incluindo reciclagem de resíduos industriais e eletrônicos e aproveitamento de materiais recicláveis secos. Outro foco é o apoio a projetos como o Onças do Iguaçu, em colaboração com o Parque Nacional do Iguaçu, e o Centro Especializado Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos.