Veneza, agosto de 2023 e chegava ao fim o meu final de semana dedicado às celebrações com Giorgio Armani, para o qual fui sozinha. Eu faria o check-out do hotel The St. Regis Venice, pegaria uma gôndola e partiria em direção a um item antigo da minha bucket list e que meu namorado também tinha muita vontade de conhecer.
O plano era adentrar juntos naquela joia veneziana que tanto queríamos conhecer. Ele acabara de pousar no Aeroporto Marco Polo, e eu não queria chegar nem um minuto antes, nem um minuto depois dele. Queria descobrir tudo junto, ver pela primeira vez juntos. Eu tenho manias.
Até que ele me escreveu algo como: “Quero entrar naquele palácio e encontrar você. Será uma visão bonita, algo que quero guardar na memória.” Ao mesmo tempo em que tenho minhas manias também sou uma entusiasta de criar/desenhar cenas que marcam, e entendia muito bem o que ele queria dizer. Se entrar no hotel e me rever naquele cenário era o desejo de uma cena inesquecível para ele, quem seria eu para dizer não?
Sob um sol dourado de verão que parecia arder, adentrei o antigo palácio veneziano. Fiz o check-in, mas não fui para o quarto. Me pus a esperá-lo em um dos magníficos salões do hotel. O relógio marcava a passagem lenta do tempo, lenta demais para quem está há dias sem ver quem ama — eram cerca de 13 horas. Lá fora, Veneza, com seus canais enigmáticos e ruelas de pedra, se desenhava como o palco perfeito para cenas de amor.
Já era para ele ter chegado. Inquieta, fui para o canto do salão, onde a janela oferecia uma visão panorâmica da chegada das gôndolas. De costas para aquele salão suntuoso e com os olhos grudados ao vidro, me pus a procurá-lo entre todos os visitantes. Alguns faziam fotos enquanto se equilibravam, outros, mais tranquilos, apenas contemplavam. Mas nada dele.
Gôndolas deslizavam suavemente ao som de uma sinfonia invisível que só Veneza tem, preenchendo a cidade e tudo que nela habita. No silêncio daquele momento, perdida em pensamentos, sentia-me parte de uma pintura renascentista. Ou pelo menos é assim que gostei de desenhar a cena na minha memória.
A luz que entrava pela janela era tão forte que às vezes cegava a visão e, por isso, voltei meu olhar para o salão. Vi outra. Verde. Lá estava ele do lado oposto do salão a me procurar e sinto que nossos olhares se encontraram no exato momento em que ele adentrou aquele salão. Veneza é a cidade da música e, portanto, no meu imaginário, sua aparição surgiu como no auge de uma composição de Gustav Mahler.
Andamos um em direção ao outro, nos abraçamos como só um casal cheio de saudade se abraça, e ali os minutos pareciam se esticar em uma eternidade. Silêncio.
Esse silêncio foi interrompido por quatro homens italianos sentados em uma mesa que, como personagens de um filme de Sorrentino, sorriram e disseram: “Sei un uomo fortunato! Stavamo noi quattro commentando quanto è bella tua ragazza.” Mas naquele instante, tudo o que eu conseguia pensar era no quanto a minha própria vida era a definição de La Grande Bellezza.
Na cidade onde histórias de amor dançam ao som de Vivaldi, percebi mais uma vez ter encontrado algo tão autêntico que parecia ressoar com o espírito de Veneza — uma joia rara de autenticidade em meio às superficialidades do mundo.
Esse cenário de sonhos não foi em qualquer lugar, mas no Aman Venice, um dos hotéis mais exclusivos e fascinantes do mundo. Situado às margens do Grande Canal, dentro do histórico Palazzo Papadopoli, o Aman Venice é um verdadeiro refúgio de elegância e romance.
Construído no século 16, o palácio preserva afrescos originais do mestre Giovanni Battista Tiepolo e é iluminado por lustres de cristal de Murano, que conferem um brilho mágico aos ambientes. O hotel é cercado por jardins privados em ambos os lados — uma raridade em Veneza —, criando um ambiente sereno e exclusivo.
Com apenas 24 suítes, cada uma oferece vistas únicas: do Grande Canal, dos jardins ou dos interiores exuberantes. Há um pequeno, mas excelente, spa inspirado no Oriente e um restaurante que combina alta gastronomia italiana com uma apresentação impecável. No topo do hotel, o rooftop bar com suas paredes de seda vermelha e vistas deslumbrantes do canal é um dos lugares mais encantadores para assistir ao pôr do sol ou para chegar depois de um longo passeio noturno pelas ruelas de Veneza e pedir um nightcap.
Estar no Aman é experimentar Veneza de uma forma especial. Mais do que um hotel, ele é um refúgio, um espaço onde os visitantes se sentem não como turistas, mas protagonistas de seu próprio romance, dentro de seu próprio palácio (bom, foi assim que me senti).
E assim, naquele início de tarde em Veneza, cercada por centenas de anos de história e de estórias de amor, senti que o Aman Venice não era apenas um cenário — era parte do roteiro de uma sinfonia de emoções que ficaria gravada em mim. Em nós dois.
Dicas para aproveitar Veneza
Como já conhecia Veneza, decidi aproveitar essa estadia sem pressa e sem compromissos turísticos. Aqui estão algumas dicas:
1. Restaurantes e drinks:
• Da Ivo: restaurante clássico e intimista, perfeito para um jantar inesquecível.
• Harry’s Bar: classics are classic for a reason! Ideal para drinks e para provar o famoso Bellini no lugar onde foi criado.
• Jardim do The St. Regis Venice: um local encantador para relaxar com drinks em um cenário deslumbrante.
• Antico Calice: serve o melhor spaghetti alle vongole! Um restaurante simples (lembro até de ter visto um pombo perambulando pelo salão, coisas da Itália!) mas com comida excelente.
2. Passeios culturais:
• Gueto Judeu: um dos mais antigos da Europa, com rica história cultural. Vale explorar as sinagogas e o Museu Judeu de Veneza com um guia local. Fui com uma guia especializada.
• Peggy Guggenheim Collection: possui uma coleção de arte moderna e contemporânea imperdível, situada às margens do Grande Canal.
3. Ilhas próximas:
• Burano: conhecida por suas casas coloridas e rendas tradicionais.
• Murano: famosa pelo vidro artesanal. Combine as visitas à Murano e Burano em um único dia para aproveitar o melhor das duas.