Nem sempre a areia é branca, fina e reluzente. Ela pode ser grossa, escura, colorida e até nem existir, cedendo o palco a pedrinhas. Mero detalhe. Beach clubs alternam o cenário com praias selvagens, os pinheiros são muito mais comuns que os coqueiros e o sol só se põe no horizonte bem depois das 20h, com brindes de rosé e Aperol Spritz. Ahhh, o verão europeu…

PORTO NATURAL NO ADRIÁTICO

Baía de Kotor, Montenegro

Mesmo tendo passado boa parte de sua vida na Grécia, foi no litoral de Montenegro que o poeta londrino Lord Byron se deparou com “o mais belo encontro entre terra e mar”. Provavelmente, ele se referia à Baía de Kotor, a joia da coroa desse pequeno país ao sul da Croácia, onde montanhas grandiosas se debruçam sobre o Adriático. No ponto mais profundo de um fiorde emparedado entre os picos dos Alpes Dináricos, que passam de 1,8 mil metros de altitude, Kotor é um pequeno porto natural banhado por águas cor de esmeralda cujas muralhas avançam montanha acima em zigue-zague, unindo o centro antigo às ruínas de uma fortaleza do século 15. Do alto, é possível ter a real dimensão do cenário que impactou o poeta britânico.

Conectada a Kotor por uma estradinha costeira estreita, Herceg-Novi também ostenta palácios erguidos nos tempos do domínio veneziano e construções bizantinas. Outras preciosidades arquitetônicas estão na vizinha Perast: o mosteiro beneditino de São Jorge, do século 12, e a igreja Nossa Senhora da Pedra, do
século 15, que ocupam duas ilhotas, formando uma das imagens mais instagramáveis de Montenegro.

Entre os vilarejos da Baía de Kotor, algumas enseadas de pedrinhas permitem mergulhar no mar cristalino. Também há boas praias em Tivat, ao lado de Porto Montenegro, onde atracam os superiates. Pouco mais ao sul, já em mar aberto, o cenário fica ainda melhor: Sveti Stefan, uma vila medieval acomodada sobre uma ilhota, onde funciona o hotel homônimo Aman Resorts, cercado por praias de pedrinhas avermelhadas que já viram passar de Sophia Loren a Marilyn Monroe, que contribuíram para compor a aura de glamour que paira sobre a Riviera montenegrina até hoje.

QUERIDINHA DO JET-SET ITALIANO

Sardenha, Itália

A segunda maior ilha do Mediterrâneo (atrás da Sicília, sua vizinha ao sul) soma impressionantes 2 mil quilômetros de praias idílicas e invariavelmente transparentes, mas são os cerca de 55 quilômetros da costa Nordeste que ano após ano fazem jus à fama de paraíso do jet-set italiano – e não apenas. Ali, entre os golfos de Arzachena e Cugnana, esparrama-se a Costa Esmeralda, uma das maiores concentrações de hotéis, restaurantes e bares badalados de todo o litoral da Itália, onde um simples Campari Spritz adquire status de iguaria gourmet ao pôr do sol.

Tudo começou nos anos 1950, quando o príncipe Aga Khan descobriu esse canto da ilha até então conhecido apenas pelos locais e ergueu ali seu paraíso particular, colocando Porto Cervo e a Costa Esmeralda no mapa dos destinos de quem quer ver e ser visto na Europa. Ainda hoje uma das praias mais famosas da região leva o seu nome: Spiaggia del Principe, uma baía com 250 metros de areias branquinhas e águas de fazer inveja ao Caribe. Um passeio de barco até o arquipélago de Maddalena reforça a teoria.

Embora a ilha esteja pontilhada de sítios arqueológicos do povo Nuragico, erguidos até 3500 a.C., e montanhas que descortinam lindas vistas, a vida corre doce mesmo é a bordo dos barcos que pipocam no mar e nas concorridas faixas de areia. Depois de passar o dia dourando o corpo ao sol, é hora de rumar para beach clubs badalados como o Phi Beach, um clássico em cima das águas a caminho de Baia Sardinia, ou a Piazzetta, o coração de Porto Cervo, onde lojas grifadas e designers famosos disputam espaço com restaurantes trendy e bares não menos. Quando der saudade de um pouquinho de real life, aposte na cidadezinha San Pantaleo, a queridinha dos artistas.

LIFESTYLE À SOMBRA DE UM VULCÃO

Ilhas Eólias, Itália

Éolo, o guardião dos ventos na mitologia grega, empresta seu nome a esse arquipélago ao norte da Sicília, onde uma eterna brisa se encarrega de suavizar o tórrido verão à beira do Mar Tirreno. Para quem está hospedado na costa siciliana, fazer passeios de lancha para conhecer a cratera de Vulcano ou pegar praia em Lipari são clássicos programas de bate e volta. Mas vale ir com mais tempo e investir nas ilhas mais distantes.

A mais glamourosa das sete Eólias é Panarea, que fica rodeada de iates de junho a setembro. Estar em um barco é, sem dúvida, a melhor forma de curtir o mar cristalino, que atinge seu tom mais azul na Cala Junco, uma enseada de pedras grandes (e desconfortáveis). Em terra firme, a ilha vai revelando vistas arrebatadoras do topo de suas ladeiras, que justificam o vaivém dos carrinhos de golfe, os táxis locais. À noite, todos os caminhos levam ao centrinho, onde há uma curadoria fina de lojinhas e restaurantes badalados com vista para Stromboli, a mais enigmática e distante ilha do arquipélago, em forma de um cone perfeito.

Com apenas 400 habitantes, corajosos o suficiente para viver nas encostas de um vulcão ativo, Stromboli tem pequenos vilarejos com casinhas brancas, algumas pousadas estilosas e praias pretíssimas banhadas por águas cristalinas. Mas a principal atração é escalar o vulcão, entre vinhedos e vistas majestosas. Os trekkers independentes podem chegar até uma plataforma a 400 metros de altitude. A partir desse ponto, é preciso contratar um guia para alcançar o topo (926 metros). Os mais hedonistas, no entanto, preferem assistir às erupções do gigante do terraço da pizzaria Osservatorio, com uma tacinha de Malvasia em mãos, ou a bordo dos veleiros que zarpam no fim de tarde para curtir o espetáculo no mar.

GULETAS AO MAR

Riviera Turca, Turquia

No sudoeste da Turquia, onde as Montanhas Taurus mergulham num mar de águas cristalinas, a costa desenha enseadas recortadas e pontilhadas de tantos pedacinhos de terra que faltam nomes. Às vizinhas ilhas gregas de semelhantes casinhas brancas emolduradas por coloridas buganvílias, o país que faz a ponte entre Ocidente e Oriente (a Europa e a Ásia) acrescenta boas doses de especiarias, mesquitas de onde se ouve o tradicional chamado do muezim e um quê de exotismo fascinante.

Na Riviera Turca, também chamada de Riviera Turquesa por motivos explícitos, os dias se fazem de bons mergulhos, passeios cheios de charme nas tradicionais guletas – típicos veleiros esculpidos em madeira – e viagens a milhares de anos no tempo. A mesma surpresa que se tem ao constatar que Istambul é a antiga Constantinopla dos nossos livros de História certamente vai surgir ao se dar conta de que Bodrum, a grande estrela da região, é a antiga Halicarnas so, berço do Mausoléu de Halicarnasso, uma das sete maravilhas do mundo antigo, erguida no ano de 335 a.C. (as ruínas podem ser visitadas!).

Dona de uma baía guardada por um imponente castelo do século 15 e coroada por um anfiteatro com mais de 2 mil anos, Bodrum só foi entrar no mapa do turismo mundial pouco mais de cem anos atrás, quando o escritor Cevat Sakir Kabaagaçli foi ali exilado em uma cabana por três anos – e nunca mais quis ir embora. É claro que naquela época ainda não existia sinal do que viria a ser a Marina Yalikava, com suas lojas de estilistas badalados, bares e restaurantes supercool. Mas não demorou até que começassem a chegar os primeiros forasteiros ocupando toda a riviera – e na esteira, décadas mais tarde, uma infraestrutura de respeito. Se do lado de dentro dos muitos hotéis que hoje pontilham a costa em destinos como Maçakisi ou Kaplankaya a lista do que fazer é capaz de ocupar dias e dias entre massagens, refeições gourmet e esportes náuticos, do lado de fora é o melhor da Turquia que se apresenta, em tabernas típicas, bazares, mercados e artesãos de alguns dos mais adorados tapetes do mundo.

QUARTETO FANTÁSTICO

Ilhas Baleares, Espanha

Na costa leste da Espanha, quatro ilhas com perfis totalmente distintos movimentam o verão no Mediterrâneo. Uma coisa, porém, elas têm em comum: são cercadas por águas absolutamente límpidas, purificadas por bancos de algas – as posidonias – que filtram o mar, fazendo com que atinja aquele tom inimitável.

A maior do quarteto, como o nome sugere, é Mallorca, cuja capital, Palma, tem restaurantes estrelados pelo guia Michelin – como o Zaranda ou o Marc Fosh – e é coroada por uma catedral gótica decorada pelo arquiteto catalão Antoni Gaudí. Destino de verão da família real espanhola, a ilha vai bem além de suas praias – como Es Trenc, Caló des Màrmols e Formentor. Na serra Tramuntana escondem-se vilarejos seculares, a exemplo de Deiá e Valldemossa, que já abrigaram moradores ilustres, como o pianista polonês Frédéric Chopin.

Vizinha de Mallorca, Menorca foi declarada reserva da biosfera pela Unesco. Avessa aos badalos e com boa parte de seu território dedicado à agricultura – na ilha é produzido o famoso queijo de Mahón –, é o refúgio de quem curte passar o verão em contato com a natureza. Conhecer as melhores praias requer longas caminhadas ou um barco. Mas o esforço vale a pena diante de calas como Macarella, Macarelleta, Turqueta e Mitjana. De bônus, Ciutadella de Menorca surpreende os visitantes com seus palacetes do século 16, muitos deles habitados por famílias que ostentam títulos de nobreza até hoje. Recentemente, a badalada galeria Hauser & Wirth levou arte de peso à Isla del Rey, diante de Mahón, a capital.

A celebridade das Baleares, no entanto, é Ibiza. Famosa por sua noite implacável e seus megaclubs, a ilha se firmou como destino de alto luxo nos últimos anos com a instalação de novos hotéis, como o Six Senses, e de restaurantes de chefs consagrados, como o Sublimotion, de Paco Roncero. Com praias idílicas e badaladas, como Ses Salines ou Jondal, Eivissa (em catalão balear) também é base de lançamento para Formentera, a menor das Baleares, onde ficam algumas das melhores praias do arquipélago. Diminuta, ideal para conhecer de scooter, é um ímã de iates durante o verão, que se reúnem nos arredores de Ses Illetes, o cartão-postal da ilha, onde o azul balear dá o melhor de si.

ESTRELAS GREGAS

Ilhas Cíclades, Grécia

Entre as mais de 6 mil ilhas que polvilham o litoral grego, a materialização da imagem que povoa o imaginário – repleta de casinhas brancas encarapitadas no alto de um morro, com ruelas estreitas e cênicas igrejinhas de cúpulas redondas azuis da cor do mar – corresponde, mais especificamente, às Ilhas Cíclades. Pertencem ao arquipélago que compreende mais de 200 ilhas e ilhotas estrelas como Santorini, erguida nas encostas de uma cratera submersa de um antigo vulcão; a encantadora Milos, oásis de natureza e sossego, famosa por ser a ilha onde foi encontrada a Vênus, uma das mais célebres estátuas de mármore do Museu do Louvre, em Paris; e Paros, uma das queridinhas dos gregos descolados, que elegeram o vilarejo de Naoussa, com suas ruelas de pedras e casas branquinhas, como point nos meses mais quentes.

Fica no mesmo arquipélago outro grande ícone do verão europeu: a badalada Mykonos, onde as noites costumam ser mais quentes que os longos dias à beira-mar em praias idílicas como Psarou, Paraga ou Sunset Beach. DJs e bandas internacionais não raro animam as pistas de dança até o sol voltar a raiar. E a lista dos programas obrigatórios inclui bater perna pelos becos cheios de charme de Chora, a vilinha principal; dar uma escapada para conhecer Delos, a “Ilha dos Deuses” (uma das mais importantes para a mitologia grega, a apenas 30 minutos de distância de barco); e, pelo menos uma vez na vida, assistir ao sol se pôr de um dos muitos bares e cafés de Little Venice, para ver o dia se despedir tingindo tudo de dourado.

Dona de uma área de 8 mil quilômetros quadrados, Creta, a maior das Ilhas Gregas, merece ser combinada com uma viagem às Ilhas Cíclades por duas razões principais: estão lá algumas das mais bonitas praias do país, caso de Elafonisis ou Stravos, para citar duas das mais famosas, e também algumas das mais impressionantes ruínas arqueológicas desse canto do mundo, especialmente da civilização minoica, que dominou o pedaço entre os séculos 3 e 15.