Igrejas e museus com tesouros de pura arte, cidades medievais, vilarejos coloridos, castelos e fortalezas emoldurados por vinhedos e oliveiras, sabores fieis à tradição. A Toscana é quase inimaginável.

No alto de colinas, castelos e fortalezas são emoldurados por vinhedos e oliveiras e o caminho é quase sempre uma fileira impecável de ciprestes esguios e elegantes. No interior das cidades medievais, as praças, ruelas, igrejas e museus expõem tesouros quase impensáveis de pura arte. Nos mercados e restaurantes, a mesa de tradição fiel encontra nas taças dos boníssimos vinhos a sua melhor convivência.

A típica e famosíssima lambreta se faz presente nas ruas toscanas

E, se não bastasse a imensa beleza interior, o Mediterrâneo desenha seduções nas praias, ilhas e enseadas rochosas que aconchegam vilarejos coloridos. É lugar-comum, mas como não pensar em sonho quando se admira fotos, vídeos e filmes da Toscana? Melhor que sonhar é viajar.

FLORENÇA

Florença é o ponto de partida natural para absorver a região. Cidade que viu andar por suas ruas de barro e pedra gigantes da Renascença como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Dante Alighieri, Giotto, Botticelli, Galileu Galilei, Brunelleschi e Raffaello, a capital toscana é a própria expressão da arte em todos os cantos. E por isso é tão agradável passear livremente para sentir seu clima e admirar os palácios e outros edifícios históricos, além das surpresas do comércio local, como as famosas joalherias ao longo da Ponte Vecchio e as lojas de grife da Via Tornabuoni, a mais luxuosa da cidade.

A bela Ponte Vecchio sobre o Rio Arno

Impossível não ir à Galeria Uffizi, que extasia com obras-primas como O Nascimento de Vênus, de Botticelli; outra Vênus, a de Ticiano, ou o familiar Baco de Caravaggio, pintor que também fascina com sua Medusa. E há muito mais nos longos corredores que terminam no simpático café no último andar com vista para a Piazza della Signoria e o Palazzo Vecchio.

Embaixo, a Loggia dei Lanzi, ou Loggia della Signoria, exibe antigas e impressionantes esculturas em bronze e mármore, como o Rapto das Sabinas, Perseus com a Cabeça da Medusa, Hércules e o Centauro Nesso. Ao lado, na Piazza, está a réplica do David de Michelangelo para selfies, mas o original pode (eu diria deve, pela rara emoção que proporciona) ser visto na Accademia.

Um passeio de bike pelas ruas de Florença é mais uma das foormas de se apaixonar pela cidade

Florença continua desconcertando o viajante com o museu Bargello e suas esculturas monumentais; com o magnífico Palazzo Pitti, abrigando vários museus e seu Giardino di Boboli, com um número excepcional de esculturas clássicas e, não dá para ignorar, a inevitável Catedral de Santa Maria del Fiore e sua gigantesca cúpula, símbolo maior de Florença. Para quem se liga em moda, o Museu Salvatore Ferragamo, em um palácio do século 13 na Piazza di Santa Trinitá, permite acompanhar a trajetória do chamado gênio dos sapatos – nada menos de 10 mil modelos estão lá.

E agora, vamos falar de comida? Tem para todos os gostos em Florença, onde bares, restaurantes e cafés estão por toda parte, além de mercados, como o bonito e central San Lorenzo, com várias comidas típicas
disponíveis. Da Enoteca Pinchiorri, na Via Ghibellina, três estrelas Michelin desde 2004, com pratos inesquecíveis e uma fabulosa carta de vinhos que me tomou uns 20 minutos para a escolha, até a mais humilde cantina, tudo converge para momentos animadores à mesa.

Uma das maiores cidades da Itália, Florença ainda mantém suas raízes mais autênticas na estética da cidade

Em minha última viagem a Florença, logo antes da pandemia, pedi indicações de um restaurante com a mais profunda tradição florentina, a da cucina povera, que pode ser pobre nos ingredientes, mas rica nos sabores densos. Não tenha dúvida: vá à Osteria Tripperia Il Magazzino, na pequena Piazza della Passera, no Oltrarno, como é chamado o outro lado do Rio Arno.

O que eu mais queria experimentar eram especialidades como o lampredotto e a trippa (sim, da mesma origem de nossa dobradinha). Deliciosos! Claro, há outros pratos: o coelho alla cacciatora, massas ou um ossobuco clássico. Peça ao garçom para indicar um bom Sangiovese para acompanhar e depois é só perambular sem destino pelas ruelas admirando detalhes das casas, feliz da vida, até topar com uma sorveteria.

VIA CHIANTIGIANA

Depois de Florença, mais emoções, agora em direção a Siena. Esqueça a autoestrada e procure a saída da SR 222, a Via Chiantigiana, para conhecer melhor a Toscana “por dentro”. Em alguns trechos, há muitas curvas, mas pressa para quê? No percurso de 75 quilômetros, vinhedos e mais vinhedos do Chianti e do Chianti Classico nas colinas ondulantes.

O primeiro, chamado de “genérico” e que tem também a versão Riserva, é elaborado numa enorme e abrangente área. Já as plantações do Chianti Classico, bem menores, estão situadas exatamente entre Florença e Siena. Ambos são feitos com a uva Sangiovese e, em alguns casos, é permitida a mistura de outras variedades. São três versões do Classico: Annata, Riserva e Gran Selezione (com 12, 24 e 30 meses de envelhecimento em tonéis, respectivamente).

Vinícolas em Chianti

E como não falar nos Supertoscanos? São vinhos que surgiram na década de 1970, após um movimento de rebeldia de alguns produtores, que desejavam misturar variedades francesas (Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Syrah) para incrementar aromas e sabor mais concentrados à Sangiovese.

Pela lei, isso era impossível, mas quando esses novos vinhos de nomes sonoros – Sassicaia, Solaia, Sassoalloro, Fontalloro, Tignanello e outros – começaram a fazer um sucesso danado, o governo italiano deu um jeitinho e acomodou os “fora da lei” em nova denominação de origem, a Indicazione Geografica Tipica. E todos ficaram felizes, menos o consumidor comum, diante dos preços coliseus dos novos vinhos.

Como não poderia ser diferente, uma viagem pela Toscana, é um convite ao melhor da enogastronomia iStock/ ilyaska

Retomando a viagem pela Via Chiantigiana, hora de necessárias paradas em pequenas cidades como Greve in Chianti, Panzano in Chianti e Castellina in Chianti. Um pouco antes desta última, vale e muito desviar à esquerda em direção a Radda in Chianti pela SR 429. Em comum, todas têm o charme preservado de castelos, igrejas, praças e ruelas encantadoras, janelas floridas e um pequeno comércio de arte, antiguidades, cafés e restaurantes. Estão situadas em colinas e ficam ainda mais sublimes ao pôr do sol. Hora de taças de Chianti acompanhadas de lascas do queijo Caciotta e de salame toscanos.

SIENA

Chegar a Siena é outro momento de expectativa totalmente recompensada. Bem menor em tamanho que Florença, mas rivalizando em obras de arte importantes, tem algo que é só seu: o célebre Palio, louca corrida anual em julho e agosto de cavalos montados em pelo na Piazza del Campo, a linda praça central meio inclinada em forma de concha. É o símbolo máximo da rivalidade entre os bairros ou distritos de Siena, chamados “Contrada”, cada um com identidade bem definida e se empenhando bravamente para vencer a corrida; para eles, uma batalha.

Piazza Del Campo, em Siena

No resto do ano, a calma permite descobrir Siena aos poucos, andando pelas ruelas medievais, becos quase secretos, pracinhas e muralhas. Isso se faz quase sempre a partir da Piazza del Campo, admirando-se o Palazzo Pubblico e a sua Torre del Mangia, com 102 metros. A imponência está também na Catedral da Piazza del Duomo, de arquitetura românica-gótica revestida com faixas de mármore branco e verde e com vários tesouros de arte, destacando-se o extraordinário púlpito de mármore elaborado entre 1265 e 1268 por Nicola Pisano.

Um pequeno retorno de 20 quilômetros na direção norte a partir de Siena permite descobrir Monteriggioni, que surge no horizonte com sua muralha cercada por oliveiras, no alto de um monte. Construída no início do século 13, era um posto militar para defender as fronteiras do norte de
Siena contra as invasões florentinas, época em que havia batalhas contínuas entre as duas cidades. Dá para percorrê-la inteira em poucos minutos, parando na praça principal para um descanso.

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MONTALCINO

A mais ou menos uma hora de Siena, rumo sul, Montalcino surge na colina e o coração bate mais forte ao ver seu contorno e ao lembrar que no seu redor se esparramam os vinhedos do célebre Brunello. Pequenina, Montalcino tem a mais evidente atração na sua fortaleza, que permite, do alto das muralhas, uma extensa e obviamente primorosa vista. Seu programa a pé quase único é ir até a Piazza del Popolo, onde estão cafés, restaurantes e a Enoteca Pierangioli, que mantém sempre quatro opções de Brunello para degustação – e não é má ideia comprar um par ou mais de garrafas para trazer

Vista panorâmica de Montalcino

A 20 minutos de Montalcino, um hotel com vinhedos e campo de golfe brilha entre as preciosidades da Toscana: Rosewood Castiglion del Bosco. Suas suítes e villas são decoradas com refinamento aristocrático e há várias atividades prazerosas no campo. Mas, definitivamente, há um momento especial ali: quando o sommelier abre a garrafa de um Brunello di Montalcino Castiglion del Bosco 2016. Este é um ano que é tratado, dada a crônica religiosidade italiana, como divino e uma benção para quem o bebe. Simplesmente extraordinário, lembrando frutas vermelhas maduras e especiarias, com taninos elegantes. Se vier na sua mala e puder esperar, estará no auge daqui a dez anos.

PIENZA E MONTEPULCIANO

Saindo de Montalcino, é bom lembrar que a rota de 40 quilômetros até Montepulciano fica no coração do Val d’Orcia, uma área protegida e reconhecida como Patrimônio Mundial pela Unesco e onde novamente somos arrebatados pelo panorama de campos com plantações de uva, girassol, trigo e colinas entremeadas por ciprestes, flores, grandes casas de pedra, construções religiosas e pequenas cidades onde o tempo estacionou. A meio caminho fica Pienza e vale dar uma parada ali. O que a distingue das outras cidades medievais é que foi a primeira a ser reurbanizada, a pedido do Papa Pio II, poeta e humanista que liderou a Igreja de 1458 a Chamam atenção a catedral de Santa Maria Assunta, ou Duomo, e o Palazzo Piccolomini, que foi residência particular de Pio II.

Colinas em Val d’Orcia

E Montepulciano é outra cidadezinha medieval em ocre se destacando em uma das colinas mais altas da Toscana, com seu centro histórico de muitas ruelas íngremes salpicadas de cantinas e empórios oferecendo degustações. E se você deseja beber ali um vinho com a uva Montepulciano… nada feito. Essa variedade é plantada nas regiões de Abruzzo, Marche e Molise e leva o nome Montepulciano apenas como uma referência histórica à cidade, já que ela teria sido a primeira a ter uma denominação de origem para vinhos, no século 8, no território que hoje é a Itália. Então, aprecie o Rosso di Montepulciano e o Nobile de Montepulciano, elaborados com a Sangiovese – alguns deles são tão bons quanto os melhores Chianti e Brunello.

CORTONA E AREZZO

Estrada que segue: agora em direção a Arezzo, passando por Cortona, celebrizada pela escritora americana Frances Mayes e seu livro Sob o Sol da Toscana, que virou filme. Suas muralhas, datando de quatro séculos antes de Cristo, são majestosas e seu centro palpitante é a Piazza Signorelli, com o Palazzo Comunale e os inevitáveis cafés e restaurantes. Arezzo é uma das mais ricas cidades da Toscana, pontificando em uma colina entre quatro vales. Ostenta vários monumentos, igrejas e museus, como a Basílica de São Francisco, no centro, e o Duomo, obra-prima em mármore. E o Museo Archeologico Mecenate, que permite um mergulho na história profunda da Itália. Passear a esmo pela Piazza Grande ou pela Corso Italia, com muitas lojas, é uma das graças da cidade, muito bombardeada na Segunda Guerra, mas com trechos importantes preservados

Basílica de São Francisco, Arezzo

LUCCA E PISA

Se observar um mapa da Toscana, verá que o roteiro anterior foi de Florença a Siena e Montalcino, tomando o rumo do interior até Arezzo. Agora, a direção é para cidades mais perto do Mediterrâneo.

Colônia romana fundada em 180 a.C., Lucca tem seu centro histórico todo cercado por muralhas. Plena de atrações antigas, como a estranha e bela Igreja San Michele in Foro, com decoração pagã, a Torre Guinigi, ao seu passado romano com o anfiteatro. É a terra do grande compositor Giacomo Puccini e, como nas outras cidades, é gostoso sair errante pelas ruas e praças com seus numerosos restaurantes – a cidade sedia a Scuola Internazionale di Cucina Italiana.

O centro de Lucca

Em Pisa, como não lembrar imediatamente da torre mais fotografada do mundo? Inclinada já no começo de sua construção no século 12, por causa do peso do mármore e do terreno de argila e areia, ela mesmo assim atravessou os séculos e hoje é soberana na cidade. Mas ao seu lado, na mesma Piazza dei Miracoli, existem outros monumentos respeitáveis que também justificam a ida a Pisa, como o enorme Batisttero, o Camposanto Monumentale e o Duomo.

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SAN GIMIGNANO

Na direção sul a partir de Pisa, San Gimignano, outro dos vários Patrimônios da Humanidade pela Unesco na Toscana, provoca assombro quando se olha de longe o seu incrível conjunto de torres medievais. Eram símbolos do poder das famílias mais ricas, que disputavam para ver quem edificava a mais alta. Das 72 torres originais, restam apenas 14, fruto do declínio da cidade ao longo dos séculos. Além de vaguear pelo centro e ruelas, outro exercício é subir na Torre Grossa, ao lado da Catedral. Mais alta de todas, oferece a vista tipicamente arrebatadora das colinas toscanas.

Os cenários poéticos de San Gimignano

LITORAL

Com 397 quilômetros de extensão, o litoral toscano tem diversas cidades com longas praias e vilarejos entre rochedos que atraem menos que as do interior, mas muitas também encantam. Podemos citar Porto Ercole, na península de Monte Argentario, Castiglione della Pescaia, Scarlino, Marina di Grosseto, Follonica, Alberese, Capalbio, Orbetello, Porto Santo Stefano e Talamone.

Livorno tem forte importância na vida comercial italiana com seu porto e é considerada a mais moderna cidade da Toscana, exibindo também tesouros artísticos e históricos. Sua imagem onipresente nas fotos é a Terrazza Mascagni, praça com o chão quadriculado em preto e branco como se fosse um mega tabuleiro de xadrez, se estendendo até a beira do mar. De lá parte o ferry até a lendária Ilha de Elba, onde Napoleão Bonaparte foi exilado. Suas principais cidades são Portoferraio, Cavo e Rio Marina e em seu recorte revela belíssimas praias de areia clara.

No mar e em terra, a Toscana vale cada minuto de atenção dos sentidos. A luz, a pedra ocre, o mármore inconfundível, o verde além do horizonte, o alimento, o vinho, os gênios – tudo ali é superior. Viajar à Toscana alimenta corpo e espírito.

TERESA PEREZ INDICA

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Onde Ficar

COMO Castello Del Nero, Barberino Tavarnelle

Em uma propriedade de 740 acres, o hotel está instalado em um castelo do século 12, que ainda mantém afrescos renascentistas em contraste ao design contemporâneo. Nas acomodações, projetadas por Paola Navone, estética minimalista, discreta e arejada, além de vistas para as colinas e lagos ao redor. Na lista de atrativos, o spa COMO Shambhala com tratamentos terapêuticos, yoga, piscina aquecida e hammam

Castello Banfi il Borgo, Montalcino

Em meio a belos vinhedos, construído em 1438 na confluência dos rios Orcia e Ombrone, o Castello Banfi possui apenas cinco suítes e nove quartos, decorados com móveis típicos da região por Federico Forquet, famoso designer italiano. Com museu, restaurantes e uma enoteca, o hotel proporciona aos visitantes uma verdadeira experiência sensorial pelas tradições toscanas.

Rosewood Castiglion del Bosco, Montalcino

Em uma região de natureza preservada e atmosfera que combina romantismo e cultura, o Rosewood Castiglion del Bosco está localizado em meio às colinas de Val d’Orcia, próximo à cidade de Montalcino e a uma curta viagem de Florença. Supertradicional, ele conta com uma das maiores vinícolas da Toscana, além de muita história: sua propriedade abriga ruínas de igrejas com mais de 2 mil anos e suas 23 suítes e dez villas estão instaladas em prédios restaurados dos séculos 17 e 18.

Borgo San Felice, Siena

O Relais & Châteaux tem suas suítes e villas decoradas no estilo das casas antigas da Toscana, mesclando o design com elementos contemporâneos sem perder o charme típico da Itália. Na lista de atrativos, destaque ainda para os programas terapêuticos proporcionados pelo spa, dedicado ao bem-estar e ao total relaxamento do hóspede.

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