Eles provocam no imaginário de quem gosta (muito) de vinho o mesmo que marcas como Ferrari, Lamborghini e Aston Martin causam nos apaixonados por automóveis ou a atração exercida por grifes de alta moda como Prada, Gucci, Louis Vuitton .
Seus nomes estão em um pedaço de papel colado em garrafas que chegam a adegas climatizadas em casas, hotéis e restaurantes e a simples menção a um deles é acompanhada de expressões que revelam emoção e desejo. Os franceses lideram o pódio, e não por acaso: desde 1855, com a classificação de vinhos de Bordeaux determinada por Napoleão III, souberam chamar a atenção para seus vinhos.
E a rivalidade bordalesa com a Borgonha só fez aumentar a qualidade e o interesse dos consumidores exigentes por vinhos de produtores como Romanée-Conti, Domaine Leroy, Henri Jayer, Domaine Leflaive, Petrus, Cheval Blanc, Latour, Margaux, Mouton, Haut-Brion, Lafite e Yquem, além dos champagnes Dom Pérignon, Cristal de Roederer ou Krug Grande Cuvée, alguns custando 40 mil dólares pelos 750 ml de líquido e podendo chegar a lunáticos mais de meio milhão na moeda americana em leilões.
A lista não é definitiva, da mesma forma que a de outros países europeus, incluindo sem dúvida os italianos Biondi Santi, Tignanello, Sassicaia, Ornelaia, Masseto, Gaja, Ornato Pio Cesare e Gran Bussia Aldo Conterno; os espanhóis Vega Sicilia e Pingus; ou os portugueses Barca Velha e Porto Nacional Quinta do Noval.
QUAL A RAZÃO DA CELEBRIDADE?
Não há uma resposta simples. A primeira e obrigatória diz respeito à localização geográfica próxima da perfeição – o famoso terroir, expressão celebrizada pelos franceses para definir não só o solo mas também o clima e a própria arte do enólogo, que estuda as condições de cultivo durante o ano e dá seu toque pessoal ao elaborar o vinho, tanto no período de fermentação como no do amadurecimento em barricas e garrafas.
E o produtor, responsável final, muitas vezes se torna uma referência básica para quem compra, caso do italiano Angelo Gaja ou do visionário Nicolas Joly, papa da agricultura biodinâmica com seus belos vinhos brancos do Vale do Loire.
Mas conta também ao longo do tempo a influência exercida pela predileção de personalidades históricas, como Napoleão Bonaparte, que apreciava no jantar os vinhos de Chambertin, da Bourgogne, na época ainda não classificados como os conhecemos hoje, como Gevrey-Chambertin e suas magníficas parcelas de pequenos vinhedos, cada uma com nome próprio.
Ou Winston Churchill bebendo champagne Perrier-Jouët e Pol Roger até no breakfast, justificando na prática mais uma de suas famosas frases, ao discursar para tropas aliadas antes da invasão da França na Segunda Guerra Mundial: “Lembrem, senhores, não é apenas pela França que lutamos, é pelo champagne!”. E não sem propósito, Pol Roger Cuvée Sir Winston Churchill é o produto principal da maison francesa.
E assim, com a ajuda da natureza e das pessoas, um vinho ganha ares de mítico como patrimônio cultural de um país, repercutindo sua história e estimulando estratégias de venda – não tanto dos produtores, mas principalmente por parte de importadores, lojas e colecionadores – apelando à raridade e ao próprio luxo dos rótulos.
Lembro de uma conversa com Aubert de Villaine, um dos proprietários do Domaine de la Romanée-Conti, em que fiz a ele uma pergunta óbvia, mas necessária e que ouvia frequentemente: por que preços tão altos? “Meus vinhos saem daqui com preço justo; a produção é pequena, são os especuladores que elevam esses valores às alturas.”
Vi site oferecendo aqui no Brasil o Romanée-Conti 2018 por 38 mil euros, com a recomendação de que ele deve ser bebido entre 2028 e 2045, o que leva a outra constatação: esses vinhos especiais se transformam também em poderosos investimentos, ganhando valor com o passar dos anos, sobretudo em leilões. Sempre usando o Romanée-Conti como exemplo, certamente o mais mítico de todos os vinhos, uma garrafa da excepcional safra de 1945 foi arrematada em outubro de 2018, em Nova York, por 558 mil dólares.
A lista citada antes é uma referência excepcional e muitos apreciadores podem ter outras escolhas. É bom lembrar que, com o tempo, os melhores vinhos adquirem cheiros e gostos que nem sempre agradam a quem gosta de produtos mais jovens, como couro, folhas secas, húmus, trufa ou uma presença maior de acidez no caso dos tintos, ou frutas secas, cera e às vezes algum ranço e oxidação nos brancos, além de mudança na cor de ambos.
Mas os vinhos lendários, quando bem conservados e de safra incomum, são uma viagem gustativa, com algo de mistério em cada gole pela complexidade de aromas e sabor. E permanecem no imaginário, lembrando o motivo de alguns poucos serem míticos.
TERESA PEREZ INDICA
Reserve com a Teresa PerezOnde Ficar
Grand Barrail
A poucos quilômetros de Bordeaux, o Grand Barrail fica na pequena e charmosa Saint-Émilion, em um castelo que faz parte da seleção Small Luxury Hotels of the World. Seus poucos – porém espaçosos – quartos oferecem exclusividade e muita tranquilidade em uma região em que o silêncio e a serenidade reinam. No spa, o hóspede conta com produtos da Sothys e tratamentos que atendem às suas necessidades.
Les Sources de Caudalie
Localizado entre vinícolas e uma floresta, pertinho da cidade de Bordeaux, o Les Sources de Caudalie é um convite a viver o melhor da enologia em uma das capitais da viticultura do mundo. Com apenas 62 quartos, o hotel oferece uma lista de atividades que vão desde passeios de barco pela região até pedaladas nos vinhedos próximos. Na gastronomia, destaque para o La Grand’Vigne, com duas estrelas