Há muitas hospedagens de alto padrão que não chegam nem perto de oferecer esse tipo sofisticado e puro de acolhimento. É muito mais do que só ter os melhores produtos, a mais bela decoração e os melhores ingredientes. E o Clos Apalta Residence — hotel-boutique exclusivo dentro da vinícola homônima parece ter entendido bem as complexidades dessa empreitada.

No coração do Vale de Colchagua, a pouco mais de duas horas de Santiago, esse refúgio com selo Relais & Châteaux combina com maestria vinhos excepcionais e uma imersão sincera na natureza. Embora eu escreva estas palavras com uma taça cheia ao lado do teclado, posso ser categórico: a propriedade não é apenas um destino para amantes do vinho, e sim um convite a explorar as raízes naturais e culturais dessa região única do Chile.

A experiência no Clos Apalta se estende para além dos rótulos premiadíssimos e da fama de uma das mais prestigiadas vinícolas da América do Sul. Do menu personalizado, elaborado com ingredientes orgânicos e sazonais, até atividades como passeios de bicicleta pelos vinhedos, trekking pelas trilhas do bosque e cavalgadas, cada detalhe é pensado para desconectar o visitante do seu básico e trivial.

Espaçosas e muito intimistas, as dez acomodações — villas e casitas — se espalham numa encosta verdejante sobre os 560 hectares de terra, sendo 400 hectares de floresta nativa e 160 hectares de vinhas orgânicas e biodinâmicas. Mais do que de exclusividade, a sensação é a de ser um convidado da família Marnier Lapostolle, criadora do clássico licor Grand Marnier e que carrega a tradição vinícola desde 1827.

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Com vidros do chão ao teto, as villas da propriedade dão ao hóspede uma sensação de privacidade tal como se apenas os pássaros, as nuvens e os vinhedos pudessem vê-lo. O piso aquecido do banheiro, as persianas elétricas, as amenities L’Occitane, a banheira e a jacuzzi com borda infinita são confortos materiais que só incrementam essa percepção de cuidado.

Já as sutilezas mais subjetivas começam com a experiência de um check-in personalizado na sala da casa principal da família, em meio a porta-retratos informais, sentado no sofá diante da lareira. São detalhes como ser chamado pelo nome o tempo todo ou bebericar uma taça despretensiosamente enquanto lê à beira da piscina.

Para os enófilos, o tour guiado exclusivo dentro da bodega — uma vez que essa parte é aberta para visitantes de fora — é uma mistura de encantamento com aula particular. Festejada por sua arquitetura moderna, com uma sede em formato de “ninho”, a vinícola inusitadamente construída na encosta da montanha com cinco andares para baixo da terra.

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Os materiais conseguem ser rústicos e delicados, e não há nada fora do lugar: a iluminação, o design e o clima são de museu futurista. Uma obra de arte imersiva. Lá nas profundezas, chega-se diante de um misterioso alçapão de vidro, fechado a chave, onde apenas os hóspedes podem descer mais dois lances de escada e conhecer a adega particular da família, com suas 6 mil garrafas. Pouca luz, tons azuis, quase um cenário de filme de ficção científica.

Por sinal, uma experiência obrigatória é o jantar harmonizado exclusivo na sala de fermentação, em meio ao panorama fotogênico de centenas de barricas de carvalho francês. Ou, então, uma aula de culinária com ingredientes locais após um tour prévio ao mercado regional da cidade vizinha de Santa Cruz. Na companhia do sous-chef Christian, provei bebidas típicas, comprei algas desidratadas e vegetais que viraram um ceviche de vieira enrolado num papel de arroz com um caldo de acelga. Lindo, saboroso e perfeitamente harmonizado com o rosê da casa.

Por falar em vinho rosê, tive o privilégio de bater um papo com a enóloga Andrea León e provar ao seu lado o inédito Le Rosé 2024, que começaria a ser engarrafado dali a dois dias. A charmosa lojinha dispõe de boa oferta de rótulos de safras anteriores e caixas especiais de madeira.

Enfim, o Clos Apalta Residence se revela uma escapada perfeita para alguns dias, que podem ser combinados com visitas a outras renomadas vinícolas vizinhas, no mesmo Valle do Colchagua — como VIK, Montes e Viu Manent. Seja pelo prazer dos sentidos que os vinhos provocam, seja pela tranquilidade de um ambiente que mescla luxo e sustentabilidade, essa é, sem dúvidas, uma (vista aérea) Matt Wilson, (quarto, chef e prato) Luciano Bacchi escolha certeira.