E é justamente esse estado de eterna curiosidade que se tornou a premissa e a marca registrada do Lugar Incomum, programa que chega à 20ª temporada neste ano.
Didi Wagner fez parte de um marco da TV brasileira, a chegada da MTV ao país. Com um jeito leve e irreverente, ela entrou na casa dos brasileiros e conquistou os jovens de toda uma geração. De lá para cá, o mundo, os meios de comunicação e nós mudamos. O que permanece do mesmo jeito até hoje é a maneira como ela consegue falar diretamente com o público, como se estivesse próxima ou como se fosse uma amiga. Na verdade, Didi é praticamente da turma. Afinal, nós a chamamos apenas pelo apelido, rimos, vivenciamos experiências e sempre viajamos com ela! Conversei com a minha xará, Adriana Golombek Wagner, e tive aquela sensação mágica causada pela TV, de que a gente já se conhecia. Didi falou sobre os destinos da nova temporada de seu programa no Multishow, os desafios de gravar durante a pandemia, as viagens em família e contou um pouquinho de bastidores. Descubra nesta entrevista como ela, mesmo após tantos anos viajando, ainda alimenta a curiosidade e o olhar aguçado para que o mundo nunca deixe de ser um lugar incomum.
Você parte para a 20ª temporada do programa Lugar Incomum. O que podemos esperar, que lugares incomuns vamos ver nessa nova fase?
O que a gente procurou fazer foi justamente trazer um panorama de algumas cidades do Brasil, de diferentes regiões. Obviamente não conseguimos abarcar todas as regiões do país, porque o Brasil tem uma dimensão monumental, mas destacamos o Sudeste, com São Paulo e Rio de Janeiro; o Nordeste, com Recife, Olinda, Maracaípe e Águas Pretas, em Pernambuco; e o Norte, com Rio Branco, no Acre. E mantivemos o foco na nossa premissa, que é mostrar o incomum, o inusitado, o interessante e muitas vezes inesperado de cada um desses lugares.
Você acha que essa ênfase maior no Brasil tem a ver também com o que vivemos na pandemia? Passamos a buscar lugares mais próximos de nós para visitar?
Certamente tem tudo a ver com isso, tem a ver com esse nosso momento, né? Inclusive devido às restrições de viagens. Justamente por causa da pandemia trouxemos um olhar mais para o nosso entorno. Agora a situação está se normalizando, mas por um período estava tão complexo pensar em viajar que nós quisemos mostrar que também tem muita coisa bacana para ser desbravada a pouca distância de onde estamos.
O mundo hoje parece menor em função da globalização, das redes sociais… Parece que estamos muito perto uns dos outros. Você acha que os lugares estão mais comuns do que quando você começou o programa?
Essa é uma pergunta que traz uma reflexão, né? Qual é a curiosidade que a gente tem de ver lugares, de ver coisas sendo mostradas na TV, se hoje está tudo ao alcance de um clique? A pergunta é muito interessante, mas eu diria o seguinte: o Lugar Incomum tem muito essa coisa de querer mostrar lugares, pessoas e experiências. Não dá para chamar de uma experiência interativa com a audiência, porém existe sempre uma interação minha com aquele local, com aquela determinada situação ou com aquele morador da cidade. Minha intenção é ser o mais espontânea e genuína possível, e acho que, nesse sentido, o programa tem o diferencial de realmente trazer essa composição entre o que está sendo exibido e o que eu estou sentindo com aquilo.
Você viaja para nos mostrar lugares diferentes e suas experiências, mas como é a Didi, propriamente, viajando? Você em família, com as filhas… é um estilo diferente de viajar?
É completamente diferente! E não só por causa da correria do trabalho. É porque nas gravações eu sou realmente a Didi do Lugar Incomum, já nas viagens em família eu sou a mãe, esposa, aqueles papéis todos que a gente assume. Quer saber uma das principais diferenças? Eu acho que, quando estou viajando em família, parte da responsabilidade de tudo dar certo, de a logística funcionar e tal, é minha. Essa questão me deixa um pouco mais apreensiva: se o avião vai sair no horário, se vamos conseguir pegar o traslado, enfim, eu tenho a responsabilidade de fazer as coisas acontecerem do jeito que imaginei, do jeito esperado. Acho que é meio isso.
Eu sei que existe correria durante uma viagem para gravação, mas tem algum lugar – ou lugares – a que você foi a trabalho e depois pensou “Poxa, preciso mostrar isso para minhas filhas, meu marido…”? Enfim, algum lugar para voltar com a família toda?
Durante as viagens eu fico longe do Fred e das meninas e, obviamente, imagino como seria ter aquela experiência com eles ao meu lado. Eu diria que tenho essa sensação que você citou no enunciado da pergunta quase em todas as viagens. Um dos lugares aos quais eu gostaria muito de levar todos eles é o Japão. Tenho muita vontade de um dia poder ir para lá com eles. Ou, por exemplo, quando fomos gravar na Nova Zelândia, calhou que era o que a gente chama, aqui em São Paulo, de “semana do saco cheio”, aquela semana do recesso escolar, em outubro. Então o Fred foi com as meninas, já que elas não tinham aula naquele período. Eu fiquei pouquíssimo com eles porque estava ocupada com a agenda de gravações. Mas foi interessante, porque me peguei também querendo saber o que eles estavam vivenciando sem mim! E foi gostoso poder contar com a presença deles em alguns momentos específicos da viagem. Tive a oportunidade, por exemplo, de ver a Laura, minha filha mais velha, pulando de bungee jumping. Eu estava fazendo a matéria sobre esse esporte, fiz o salto e depois ela fez também. Foi bacana!
Você começou a carreira de apresentadora na MTV, que foi um marco para toda uma geração e também para a TV brasileira. Naquela época você apresentava programas completamente diferentes. Você já tinha esse sonho de viajar pelo mundo?
Eu te diria o seguinte: eu não tinha o sonho de viajar o mundo. O Lugar Incomum foi um programa produzido e criado a quatro mãos, por mim e pelo Multishow. E surgiu em virtude de uma situação minha, pessoal, já que eu ia morar em Nova York com a minha família. Por isso a gente desenvolveu esse projeto, que começou, na verdade, em São Paulo, e depois foi gravado em Nova York por muito tempo. E só em 2010 passou a ser itinerante. Mas eu adoro uma frase que viralizou na internet, que diz que viajar é a única coisa em que você gasta dinheiro e fica mais rico. Eu acho muito bonitinha essa frase. E acho que é isso, entendeu? Não consigo falar que viajar pelo mundo já era meu sonho. Só que a gente trabalha para depois ter experiências bacanas, mais do que para acumular bens, né? E viajar traz isso.
A Didi é uma light traveller ou uma heavy traveller?
Medium Traveller! Serve? (risos) Ai, meu sonho é ser aquela pessoa chique que consegue viajar com uma mala de mão para dez, 15 dias. Meu sonho está bem distante, viu? Vou te falar a real: para viagens mais longas, de dez a 15 dias, eu levo uma mala grande e uma mala de mão, mas acho realmente incrível quem consegue viajar só com a mala de mão. Estou longe de conseguir isso.
O que não pode faltar na sua mala?
Eu penso que o item mais, mais, mais obrigatório na vida (tirando as coisas mais técnicas, tipo passaporte e tal) é o carregador de celular. Juro! Hoje em dia o celular é máquina fotográfica, é WhatsApp, é e-mail, é Google Maps, é Wallet. É tudo!
No avião, tem algum item que você sempre leva para aguentar uma viagem longa?
Eu sempre levo um livro. Na esperança de que eu vá ler. A verdade é que acabo não lendo ou lendo muito pouco. Mas tenho essa necessidade de saber que tenho comigo um livro. Se a TV não funcionar, se o avião atrasar ou o celular ficar sem bateria momentaneamente eu tenho um entretenimento meu, pessoal.
Que carimbo falta no seu passaporte? Tem algum lugar que você está louca para conhecer?
Tem tantos lugares ainda! Mas eu tenho muita vontade de conhecer Bali. E também o México.
Qual foi o destino mais incomum para você, o mais inesquecível?
Você vai me sentir meio apegada à última temporada, mas é claro que, além de a memória estar mais fresca, eu sempre fico querendo promover o meu mais novo projeto no ar. Mas conhecer Rio Branco foi muito interessante. Lá, no Acre, eles falam: “Olha, tá vendo? O Acre existe!”. Essa é uma brincadeira que eles mesmos fazem. E foi interessante constatar isso in loco.
E eu gostei de ir até o Acre porque realmente é longe. Não só longe: o acesso não é tão simples, não tem tantos voos; você tem que fazer voo com escala, tem fuso horário de duas horas em relação ao horário de Brasília… Eu achei que foi interessante porque é um lugar do nosso país muito pouco explorado turisticamente e que eu realmente gostei bastante de conhecer.
Quanto a lugares mais incomuns, a Nova Zelândia é bem diferente também! Tem coisas muito loucas lá! Por exemplo: na Nova Zelândia não tem cobra, não tem aranha venenosa, então você pode fazer trekking nas montanhas e não precisa se preocupar com bicho peçonhento. Olha que loucura! Não é interessante?
Mas o que eu gosto mesmo é de descobrir o que tem de incomum em qualquer lugar. Fizemos uma temporada inteira em São Paulo, em 2021, por exemplo. Eu jamais imaginaria isso, e é a cidade onde eu nasci e vivi quase toda a minha vida!
O que todas essas viagens lhe ensinaram sobre a vida, o que trouxeram de lição ou de transformação?
A primeira resposta que me vem à mente talvez pareça um pouco boba… mas é o que sinto genuinamente: como o mundo é lindo e como tem gente bacana em todos os lugares! A gente, infelizmente, é confrontado diariamente com muita notícia ruim, né? Notícias de pessoas mal intencionadas, no âmbito político, principalmente, eu diria. A gente é confrontado com notícias dramáticas e tal. E eu acho que o que o Lugar Incomum mais me trouxe foi essa noção de quão bonito é o mundo. Cada lugar tem o seu atrativo, cada lugar tem a sua beleza específica, mas, acima de tudo, os lugares são bonitos principalmente pelas pessoas que ali moram. E eu conheci muita gente legal.
Foram raríssimas as situações, em 15 anos de programa, em que eu tenha tido algum problema. Claro que acontece, até porque o mundo não é perfeito. Mas é muita gente legal no mundo inteiro! Então, acho que é um privilégio descobrir a beleza das pessoas e dos lugares em cada destino que a gente visita.
Sabe, a experiência do Lugar Incomum, depois de tanto tempo, me traz também sempre o ensinamento de que a gente não pode ficar blasé. Temos sempre que alimentar essa curiosidade, esse instinto de querer saber mais sobre o outro, sobre o destino que visitamos, sobre a cultura de um lugar. Depois de 15 anos de programa, eu poderia já estar um pouco mais indiferente a tudo, mais “acostumada”, entre aspas. E o que eu exercito sempre, a toda temporada, é minha vontade de descobrir e vivenciar novas experiências, até mesmo em São Paulo, cidade onde moro desde que nasci.