O ar fresco do amanhecer nas savanas quenianas, o suave farfalhar das folhas levadas pelo vento, dois leões adultos tranquilamente bebendo água bem à minha frente.

Extasiada com a beleza da cena e em completa segurança, eu vivenciava aquela experiência com um gostinho ainda mais especial: eu sabia que minha estadia no Mara Nyika Camp não só ajudaria a proteger aquele ambiente e sua espetacular vida selvagem como também contribuiria diretamente para o bem-estar e a sustentabilidade econômica das comunidades Masais da região.

A Great Plains Conservation, responsável pelo Mara Nyika, foi uma das primeiras organizações hoteleiras a pregar que sustentabilidade e turismo devem andar juntos, gerando apenas impactos positivos. Com diferentes safari camps em regiões remotas de Botsuana, Quênia e Zimbábue, seus lodges sempre buscaram proporcionar aos hóspedes as mais inesquecíveis experiências de viagem. Ao mesmo tempo, a rede trabalha por proteção e conservação ambiental, social e cultural da região. Os fundadores, Dereck e Beverly Joubert, usam parte da suas propriedades para manter a Great Plains Foundation e firmar parcerias com ONGs locais para custear projetos educacionais, patrulhas anticaça, apoio para emergências médicas e compra de suprimentos de saúde, entre diversas outras ações contínuas.

A Great Plains Conservation é uma das pioneiras em unir sustentabilidade e turismo Fábio Paschoal

Essa é a proposta do turismo regenerativo (do inglês regenerative travel): promover ações responsáveis e transformadoras do ponto vista ambiental, social, econômico e cultural. Em tempos de overtourism e intempéries climáticas que colocam em risco a própria sobrevivência de atrações naturais e cidades inteiras, esse movimento vai felizmente ganhando cada vez mais força e atravessando fronteiras

Preservação de fauna e flora: fotos do The Brando, exclusivo resort que ocupa um arquipélago próprio na Polinésia Francesa e um dos grandes precursores do turismo regenerativo Eric Rubens
Eric Rubens
Eric Rubens

Diversos hotéis e lodges já trabalham com turismo regenerativo há muito tempo, implantando projetos inteiramente sustentáveis, que utilizam a atividade turística para promover melhorias locais. O The Brando, exclusivo resort que ocupa um arquipélago próprio na Polinésia Francesa, foi um dos grandes precursores do setor. Com acomodações em estilo villas privativas instaladas na ilha principal de Tetiaroa, está prestes a tornar-se carbono neutro e criou a própria tecnologia de utilização da água do mar para gerar eletricidade. A autossuficiência energética é garantida por painéis solares espalhados pela ilha principal. Seu apiário possui mais de 60 colmeias que produzem, em média, 1,2 tonelada de mel por ano; e a Tetiaroa Society assegura a preservação e conservação de fauna e flora locais. Vários outros processos regenerativos criados pelo resort (do reaproveitamento da água das chuvas à transformação de lixo e resíduos em biocombustível) vêm sendo, há anos, inspiração para propostas similares adotadas por outros hotéis – e mantêm o arquipélago tão autêntico e preservado como quando o ator Marlon Brando resolveu comprá-lo, décadas atrás.

A Virgin Limited Edition, premiada coleção de hotéis e lodges de Richard Branson (que inclui propriedades como Kasbah Tamadot, nas espetaculares Montanhas Atlas, no Marrocos, e Mahali Mzuri, no ecossistema Maasai Mara, no Quênia), também já nasceu atrelada ao turismo regenerativo. E criou fundações sem fins lucrativos – como a Virgin Unite, a Fundação Eve Branson e a Pride’n Purpose – para atuar em causas ambientais e sociais em alguns dos destinos nos quais está presente. Seu projeto Pack for a Purpose ainda incentiva hóspedes a abastecer suas malas com materiais escolares e suprimentos médicos e doá-los às comunidades locais visitadas.

À moda brasileira

Vista aérea do Anavilhanas Jungle Lodge, às margens do Rio Negro, na Amazônia, que já nasceu adotando o turismo regenerativo como norma Marcelo Isola

O turismo regenerativo também encontra ótimos exemplos com sabor brasileiro em propriedades que apostam em preservação ambiental e inclusão social e econômica desde quando essas terminologias nem estavam ainda em evidência.

O amazônico Anavilhanas Lodge, em Novo Airão, já nasceu adotando o turismo regenerativo como norma. O hotel, construído de maneira 100% sustentável à entrada do belo Parque Nacional Anavilhanas é autossuficiente energeticamente (possui usina fotovoltaica que produz toda a energia elétrica que utiliza), promove cotidianamente melhorias ambientais, sociais e econômicas para a região amazônica e comunidades ribeirinhas – da manutenção das escola bibliotecas das comunidades de Santo Antonio, Tiririca e Acari (incluindo a criação de uma biblioteca que garante acesso comunitário ao maior acervo de livros da região) ao financiamento de ações para promoção de saúde e educação ambiental em conjunto com a Fundação Almerinda Malaquias. Recentemente, também passaram a fazer compostagem de 100% de seus resíduos orgânicos, transformando o produto final em biofertilizante para uso em projetos de agricultura orgânica locais. As ações adotadas no hotel acabaram por gerar benefícios coletivos duradouros, inclusive por também transformarem o olhar de hóspedes e colaboradores a respeito da importância de cada nova prática implementada.

Em Pipa, no Rio Grande do Norte, o ecolodge Filha da Lua foi construído com madeira de eucalipto de reflorestamento e todas as suas acomodações foram erguidas sobre palafitas para interferir o mínimo possível na delicada geografia local, repleta de dunas, falésias e pontos de desova de tartarugas. Além de usar energia solar, possui estação de lixo 100% ecológica, valoriza pequenos produtores locais e está engajado com a comunidade local por meio de diferentes projetos. Criou as escolas Hello Pipa e Hello Barra, que fornecem alimentação e ensino gratuito de inglês para crianças, jovens e adultos da região, e a
Fazenda PachaMamma, com cultivo orgânico e regenerativo para abastecer o hotel e as escolas.

O turismo regenerativo também encontra ótimos exemplos com sabor brasileiro em propriedades que apostam em preservação ambiental e inclusão social e econômica

Comuna do Ibitipoca, em Minas Gerais, visa alcançar a sustentabilidade econômica da região; projeto promove a recuperação da Mata Atlântica. Henrique Mangeon

Henrique Mangeon
Henrique Mangeon

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