Estamos mesmo na Argentina? Quem está acostumado às paisagens, à cultura e à gastronomia da parte sul do país, com Buenos Aires, Bariloche ou Mendoza como cartões de visita, talvez faça essa pergunta ao percorrer de carro os caminhos que ligam as províncias do norte da Argentina.

Uma road trip por boas estradas que unem vilarejos e grandes cidades revela que os cenários do norte da Argentina estão bem mais próximos dos de seus vizinhos Chile e Bolívia, com ruínas incas, montanhas que mudam de cor e vegetação a cada dezena de quilômetros, vales férteis e vinhedos que vão dar em vinhos de personalidade – lá chamados de vinhos de altitude.

A paisagem marcante do norte da Argentina, muito diferente do restante do país ALEXANDRE EÇA

LA LINDA

Salta é a porta de entrada natural para esse norte que se traduz em uma outra Argentina. Agora ligada ao Brasil por voos diretos da Aerolíneas Argentinas, a província fica bem próxima da Cordilheira dos Andes e é conhecida como La Linda. Uma das dez cidades mais populosas do país, guarda uma rica herança colonial na arquitetura que pode ser observada na praça central, com construções históricas e atrativos como o Museu de Arte Contemporânea, a belíssima catedral e o Museu de Arqueologia de Alta Montaña, que tem no seu acervo as múmias de três crianças oferecidas em sacrifício há 500 anos nas imediações do Vulcão Llullaillaco.

PUBLICIDADE

É nessa parte central, nos arredores da Praça 9 de Julho, que encontramos diversos bares e bons restaurantes onde é possível experimentar estrelas da cozinha local como o tradicional locro – cozido de carnes com abóbora, milho e batata – e as onipresentes empanadas, chamadas de salteñas.

Caminhos perfeitos para uma road trip Alexandre Eça

DE PARADA EM PARADA

Essa Salta urbana é apenas um aperitivo para a pluralidade de paisagens que encontramos nos pouco mais de 190 quilômetros em direção à pequena Cafayate. Essa distância pode ser percorrida em pouco mais de duas horas, mas é altamente recomendável que o trajeto seja feito sem pressa para apreciar cenários fora do comum. Nas por vezes sinuosas Rutas 68 e 40, a generosidade da natureza pode ser sentida pelas variações de ecossistemas dos Parques Nacionais Baritú, Los Cardones e El Rey. A diversidade geográfica, as variações de altitude e microclimas são um convite irresistível tanto para quem procura por contemplação quanto para quem corre atrás de aventura.

Em Salta, vinhos de altitude são estrelas Alexandre Eça

A diversidade geográfica, as variações de altitude e microclimas são um convite irresistível tanto para quem procura por contemplação quanto para quem corre atrás de aventura

Para esses últimos, não faltam atividades – trekking, mountain bike, cavalgadas, passeios de bike… as opções são inúmeras. Não à toa, esses caminhos são tradicionais rotas para road trips de carro ou de moto. E algumas paradas são obrigatórias. Em Valles Calchaquíes, a Quebrada de las Conchas é uma reunião de formações esculpidas durante milhares de anos pela ação das chuvas e do vento, como o cânion Garganta del Diablo e uma imensa concha acústica natural, o Anfiteatro. Seguindo em direção a Cafayate, uma parada próxima ao vilarejo de Cachí revela outra preciosidade da natureza: a Quebrada de las Flechas, uma surpreendente formação de rochas pontiagudas com mais de 20 metros de altura que se estende por quase 20 quilômetros na Ruta 40.

Em Cafayete, os vinhedos são distribuídos por dezenas de propriedades ALEXANDRE EÇA

ROTA DOS VINHOS

Se a região de Mendoza, no sul, já é reconhecida internacionalmente e concentra mais de 70% de toda a produção de vinhos argentinos, Salta e Cafayate buscam se firmar com a personalidade das suas produções. Nos Vales Calchaquíes há uma área vitivinícola de excelência, formando uma rota de vinhos que está entre as mais altas do mundo.

Daí o título de vinhos de altitude. A estrela da vez é a uva Torronté, responsável por rótulos de ótima qualidade produzidos em dezenas de vinícolas. Aposte em pequenas pausas nas adegas da região, que ficam abertas à visitação e onde as sessões de degustação revelam aromas e estruturas que se diferenciam da famosa produção do sul do país.

PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE E UM DESERTO DE SAL

Tendo Salta como ponto de partida, é possível ir ainda mais ao norte pela um tanto desafiadora Ruta 52, mesma estrada que liga a Argentina ao Deserto do Atacama. A distância para San Salvador de Jujuy, capital da província de Jujuy, é de cerca de 110 quilômetros com altitudes que variam de 2 mil a quase 4 mil metros acima do nível do mar.

Monte Siete Colores Istock

É por aqui que podemos observar vales de onde surgem lagoas abrigadas por montanhas sinuosas. Na Quebrada de Humahuaca, declarada Patrimônio Cultural e Natural da Humanidade pela Unesco em 2003, a beleza dessas montanhas aliada às tradições culturais dos povos andinos dá um charme a mais – rústico e com personalidade, lembrando pouco a Argentina tradicional com a qual estamos acostumados.

Aqui estamos ainda mais próximos das culturas chilenas, peruanas e bolivianas em lugares como a cidadela de Tilcara e as ruínas de Pucará, que datam do século 12 da nossa era. Atrativo mais fotografado e procurado de Jujuy, o Monte Siete Colores está encravado no vilarejo de Purmamarca e se faz impressionante (como o nome já indica) pelas diversas colorações da sua superfície, fruto de milhares de anos de sedimentações fluviais e marinhas.

Pristine Camps, um glamping superexclusivo no deserto de sal Salinas Grandes Alexandre Eça

As surpresas da natureza em Jujuy não estarão completas sem uma esticada a Salinas Grandes. A 3.500 metros de altitude encontramos um deserto de sal, que lembra o boliviano Salar do Uyuni, só que em escala menor. Esse deserto de sal se originou de lagos de águas salgadas num processo de evaporação que durou cerca de 5 milhões de anos, restando a camada de sal com 30 centímetros de espessura que vemos hoje e que forma a superfície plana de um branco a perder de vista.

TERESA PEREZ INDICA

Reserve com a Teresa Perez

Onde Ficar

Grace Cafayate Resort, Cafayate

Instalado em meio a vinhedos, com suítes e apenas 20 villas particulares, o hotel faz parte da La Estancia de Cafayate, um bairro residencial que tem seu próprio campo de golfe com 18 buracos no coração de uma área famosa por suas paisagens espetaculares, excelentes vinhos e esportes equestres.

Pristine Camps, Salinas Grandes

Uma experiência de hospedagem diferente, o Pristine Camps é um glamping situado em pleno deserto de sal, com projeto sustentável que gera um mínimo impacto no meio ambiente. São apenas quatro domos equipados com lareira, que hospedam até dez pessoas, e um restaurante com foco na culinária local.

House of Jasmine, Salta

Instalada em uma antiga mansão do século 20 totalmente renovada, que preserva o charme de outrora, a estância conta com apartamentos e suítes de design clássico e elegante. Cavalgadas e degustações de vinhos são algumas das experiências proporcionadas aos hóspedes.

    Voltar ao Topo