Todos os anos, quando o verão bate à porta na Europa, a história se repete: todos querem estar perto do mar nos destinos que brilham no verão do Velho Continente. Essa lista pode aguçar seu desejo de ser diferente a aproveitar os meses mais quentes do ano de um outro jeito.
O VERÃO DE RIPLEY E FERRANTE
Primeiro foi o cineasta Anthony Minghella que, no thriller O Talentoso Ripley (1999), nos deixou com água na boca ao gravar cenas em Ísquia; mais tarde, em 2011, Elena Ferrante multiplicou nossa curiosidade ao ambientar em suas praias A Amiga Genial, seu best-seller daquele ano. Faz sentido, portanto, que nos últimos anos essa ilha vulcânica de 46 quilômetros quadrados no norte do Golfo de Nápoles, no Mar Tirreno, venha deixando de ser a “irmã menos badalada de Capri”.
Ísquia (ou Ischia no idioma original) satisfaz com louvor quem busca belezas naturais e arquitetônicas, uma cultura genuína e, é claro, fartas doses da dolce vita italiana. Não faltam por lá paisagens extraordinárias, entre as quais a Torre Sant’Angelo, formação montanhosa que abriga um castelo aragonês do século 15 – locação de Cleópatra (1963). A esplendorosa rocha vigia com olhos protetores Ischia Ponte, uma charmosa vila portuária cheia de restaurantes e dotada de um calendário animado de festas tradicionais.
Acessíveis por scooters, carros ou em passeios de barco, bem servidas de longas faixas de areia, as praias de Ísquia são as melhores do Golfo. Experimente as de Maronti e Citara e a Baía de Cartaromana. Considere, ainda, dar um pulo nos vinhedos e campos de flores nas imediações de Castel Campagnano, ou em Forio, de onde se aprecia o imponente Monte Epomeu (789 metros), pertencente a um complexo vulcânico. Quer mais? Ísquia é voluptuosamente irrigada por fontes termais, o que significa uma vasta gama de spas.
O SOL SOBRE BERLIM
Ah, Berlim. Poucas cidades no planeta ostentam tanta capacidade de se reinventar, permanecendo sempre um estimulante destino. A capital alemã sabe lidar com seu complexo passado e faz disso um dos seus atrativos. Não apenas por contar com museus historicamente essenciais – Museu Judaico, Topographie des Terrors, Memorial do Muro – como também por seu ímpeto de ressignificar lugares.
Há muitas Berlins dentro de Berlim, e grande parte delas é banhada pelas águas dos rios Spree e Havel. Essa geografia facilita a existência de adoráveis biergarten, os “jardins da cerveja”, locais a céu aberto onde, sobretudo no verão, se honra a respeitável tradição cervejeira germânica. Em alguns deles, esse ato se aprecia em atmosfera ribeirinha-cosmopolita, casos do ultracool Birgit, em Kreuzberg, e dos charmosos e fotogênicos Zenner e Café am Neuen See, ambos situados dentro do parque Treptower.
Aliás, o lado leste da metrópole é, desde a queda do muro, também uma parte fundamental para os visitantes, com locais remanescentes dos anos de Guerra Fria, como o estiloso Café Sibylle, no Karl Marx Allee. Prenzlauer Berg e Mitte, dois dos distritos que estiveram inteira ou parcialmente sob domínio soviético, figuram entre os mais badalados da urbe reunificada em todos os aspectos, inclusive no quesito cevada de qualidade consumida em lugares aprazíveis.
Durante os verões, a maior cidade alemã se transforma em um dos polos musicais europeus. Para 2025 estão agendados festivais pop como o multinacional Lollapalooza (12 e 13 de julho) e o Citadel Music Fest (junho/julho), além de eventos mais alternativos e descolados, tais como o Pop-Kultur (28 a 30 de agosto) e o Berlin Atonal (23 a 25 de agosto) no Kraftwerk Berlin, dedicados à música eletrônica, às artes e à performance.
TESOURO CATALÃO
Quando ouvimos o nome Catalunha, automaticamente nos vem à cabeça a sua maravilhosa capital, Barcelona. O que muita gente desconhece, porém, é a diversidade de outros incríveis atributos turísticos dessa comunidade autónoma (o equivalente espanhol aos nossos estados). O fato de ocupar a fronteira nordeste do país ibérico com a França é o mais básico deles; mas precisamos falar sobre o que ocorre nesse caminho no qual o “hola” se transforma em “bonjour”.
Delimitada por Blanes (a 70 quilômetros de Barcelona) e Portbou (a apenas 3 quilômetros da primeira sinalização em francês), a faixa litorânea de 200 quilômetros batizada Costa Brava perpassa 221 municípios. Conta com um sem-fim de praias e calas exuberantes, vistas acachapantes e um bom punhado de deslumbres culturais, históricos, artísticos, arquitetônicos e gastronômicos. Trata-se de um trecho abençoado, ideal para se desvendar de carro.
A Costa Brava também é porta de entrada para Figueres, que sedia o inacreditável Teatro Museu Dalí, a vitrina soberana para a genialidade incomparável de seu filho mais célebre, Salvador Dalí. A somente 8 quilômetros nos deparamos com Cap de Creus, o ponto mais oriental da Península Ibérica, que propicia um dos mais arrebatadores skylines de toda a Europa.
O litoral espanhol é tão vasto e surpreendente que, caso você queira desfrutar de areias mais ao sul da península, é bem provável que Torrevieja, na chamada Costa Branca, seja a pedida certa. Localizada a 80 quilômetros ao sul de Alicante e a 250 quilômetros de Valência, a cidade de prédios baixos é privilegiada no quesito praias: tem as mais tranquilas, como a Cabo Cervera, as mais compridas e gostosas – La Mata Sul e La Mata Norte – e as mais agitadas e centrais, como Los Locos e Cura.
Torrevieja margeia as grandes lagoas do Parque Nacional das Lagunas de La Mata e Torrevieja. Laguna Rosa, a mais conhecida, fica a oeste e se espalha por 1,4 mil hectares. Seu cenário onírico parece pertencer a um planeta distante. Afinal, suas águas salinas exibem uma coloração rosácea, devido à ação de uma bactéria que libera um pigmento peculiar. Pena que, por razões ambientais e de segurança, não é permitido nadar.
O SONHO DOS FIORDES
Quando o verão finalmente chega, os noruegueses, acostumados a passar meses com neve e pouca luz, aproveitam como poucos. Entre junho e agosto, as noites na Noruega podem durar apenas cinco horas. É época, portanto, de curtir os mais de mil fiordes concentrados, sobretudo, na região Oeste do país escandinavo. Originários de transformações glaciais, esses vales de beleza assombrosa são delineados por falésias e desfiladeiros monumentais, regados pelas águas salgadas dos mares do Norte e da Noruega.
Existem múltiplas opções de viagens que envolvem fiordes, em distintos territórios dessa porção ocidental norueguesa. Mais ao sul, por exemplo, fica Stavanger, cidade com pulsante cena artística e gastronômica, alternativas de hospedagem sortidas (do rústico confortável ao chique e de design), base ideal para a exploração do célebre Fiorde Lyse e de seu pico mais alto (604 metros), o Preikestolen, que aparece no longa Missão Impossível: Efeito Fallout (2018).
A 200 quilômetros ao norte de Stavanger se descortina a ilustre Bergen, “capital dos fiordes”, com suas coloridas encostas realçadas por fofas casinhas nórdicas. É a matriz adequada para averiguar o imperdível Fiorde de Hardanger, a uma hora e meia de carro. Bergen ainda dispõe de um belo aquário e de um teleférico, que a conecta a Ulriken, a mais alta das sete montanhas da região.
Outra zona privilegiada para quem quer absorver a experiência dos fiordes é a de Ålesund, cidade de arquitetura art noveau a 420 quilômetros ao norte de Bergen. Saindo de lá, é possível excursionar aos famosos fiordes Romsdal e Geiranger, rodar de automóvel e ferry nas redondezas do Lago Hornindal e, quem sabe, chegar a duas estradas míticas: a Atlântica (espalhada por 8 pontes sobre um trajeto de 8.274 metros de ilhotas) e a labiríntica Trollstigen.
MAR DE SUÍÇO É LAGO
Fronteiriça a Itália, Liechtenstein, Áustria, Alemanha e França, a Suíça está relativamente longe do mar. Entretanto, a natureza compensou essa “lacuna” do país com mais de 1,5 mil lagos, incluindo alguns dos mais magníficos do planeta.
O maior é o Lac Léman, ou Lago de Genebra, de 580 quilômetros quadrados, que une o sudoeste suíço francófono ao leste da França. Suas bordas norte e nordeste, delimitadas por Lausanne e Montreux, no cantão (versão suíça para estado) de Vaud, compõem a chamada Riviera Suíça, uma região com paisagens idílicas de sonho, daquelas que encontramos em filmes, quadros e rótulos de chocolates caros. Um lugar que pede para ser escrutinado também durante o verão, quando o rigoroso clima dá uma trégua.
O marco zero é Montreux, cidadezinha preciosa cuja população de apenas 25 mil habitantes aumenta em até dez vezes durante as duas semanas de julho em que acolhe o festival de jazz mais conceituado do mundo, realizado anualmente desde 1967. Pense em algum gigante do universo jazzístico ou da música pop e ele estará na lista de nomes que tocaram no evento. É como diz o título do documentário de Oliver Murray lançado em 2023: They All Came Out to Montreux.
Quando saxofones e pianos silenciam, porém, Montreux ainda propicia muitas delícias: do banho de sol no Léman, de frente para os Alpes, ao mergulho na estonteante piscina pública adjacente ao cassino, passando pela apreciação de casebres graciosos no alto de uma ladeira. Não deixe também de zanzar pelo calçadão na orla do lago, enfeitado por obras de arte ao ar livre, nem de espiar os seus casarões em estilo Belle Époque. A cereja do bolo é o Castelo Chillon, que, fincado numa ilhota, parece estar pronto para sair flutuando pelas águas cristalinas. Com mais de 900 anos de idade, figura entre os monumentos mais concorridos do país.
Os portentos da Riviera, contudo, não se restringem a Montreux. Não hesite em tomar um trem rumo à região vinícola de Lavaux, a apenas 18 quilômetros. Antes mesmo do primeiro gole, a passagem por cenários naturais tão esplêndidos, que se repartem por 30 quilômetros ao longo do Léman, já lhe dará a sensação de que valeu a pena.
E só melhora, porque no meio do caminho, quase colada em Montreux, está Vevey, o epicentro da cultura vínica local. Desde o século 17, a cada 20 anos essa cidade é palco da tradicionalíssima Fête des Vignerons, uma espécie de olimpíada medieval em homenagem ao vinho. A próxima edição ainda vai demorar, já que a última aconteceu em 2019, mas nem por isso Vevey deixa de ser muito recomendável. Charlie Chaplin estaria de acordo: entre 1953 e 1977, quando morreu, o gênio do cinema viveu ali numa mansão, depois transformada em um museu bem bacana, o Charlie Chaplin World. Além disso, seu Centro Histórico é impecável, e o lago oferece um visual absolutamente fascinante, com spots divinos para mergulho. Dá também para subir de funicular ao alto do Monte Pèlerin (1.080 metros), babando com os vinhedos de Chardonnay do percurso.
Caso você prefira a Suíça que fala alemão, não se preocupe: ela também tem muita água paradisíaca para chamar de sua. A começar pelas do Lago de Lucerna (Vierwaldstättersee, em alemão), na cidade e cantão de mesmo nome, situados no centro do país. Cercada de montanhas verdes e picos nevados e recortada pelo Rio Reuss, Lucerna é uma das cidades mais lindas da Suíça, com seu Centro Histórico medieval e a Kapellbrücke, lendária ponte de madeira do século 14.
A combinação entre visuais inesquecíveis e esportes radicais, aliás, flui muito bem também em Interlaken, a 70 quilômetros de Lucerna na direção sudoeste, no cantão de Valais. Como o seu nome alemão explica, esse município fica entre dois lagos, o Thun e o Brienz. Tal peculiaridade geográfica, somada à arquitetura minuciosa de casarões seculares adjacentes à água verde-azulada, resulta num afago generoso aos olhos. Partindo de Interlaken, dá para esquadrinhar a área alpina de Jungfrau, fazer trekking no Vale de Lauterbrunnen, com picos de mais de 2 mil metros de altitude, e muito mais.